segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

a linguagem da loucura



A LINGUAGEM DA LOUCURA                                                          


                     Jorge Bichuetti

Vivemos. Sobrevivemos num mundo de luta. Luta-se pela manutenção da vida e até pela sobrevivência do planeta. Nós, os humanos, já enfrentamos a natureza hostil e hoje a natureza domesticada se vê vítima da ação dos homens, dos homens que sobrevivendo poluem a vida. Nós, os humanos estragamos o mundo e contudo nos denominamos normais. Somos normais: gramaticalmente corretos, vestidos de ternos cinzentos engomados, e agimos matematicamente calculados pelo scripit dos nossos interesses pessoais.

A terra chora: queimadas, rios poluídos, terras improdutivas, os gemidos da baleia e a saudade da pau-brasil... O homem sorri. Veste-se: é moda; fala: é comunicação; vende e se vende: é mercado...

E através da palavra, do raciocínio lógico, nós, o humano, relacionamos. Relações de amor e ódio, de guerra e paz são na aparência gestadas pela linguagem do cotidiano. Todavia, o cotidiano, visto e admitido é o cotidiano da normalidade esperada, instituída.

... Mas a vida não é apenas a linguagem da normalidade. Existem seres diferentes... Existem existências que produzem e se produzem como novidade. A loucura é uma novidade. Com linguagem própria... Não é matemática, nem gramática. É lógica? É fantasia? Pura ilusão?... Estranhamos a linguagem da loucura. A priori, estranhamos e a negamos... Negamos na loucura o poder criativo do que foge da lógica da sociedade de controle.

Diante do novo: tendemos a coerção e ao ideal de ver no outro, nós.

A loucura, porém, estranha. Ela provoca. Desafia... Uma outra linguagem... E se é nova, ela não se permite decifrável. Ela é em si o devir, o amanhã. Não é passado, equação matemática, símbolo codificado, ou correção linguística.

Erasmo, um dia, criticando o cotidiano, a vida que produz homens em série fez da sua palavra um veículo onde a loucura nos criticou. E ela disse. Disse muito. Falou do mesquinho da vida normal.

Quando vemos alguém em crise, alguém enlouquecido, alguém diferente, pretendemos escutar e interpretar usando a linguagem da normalidade e não percebemos que o novo é a utopia ativa, o inédito viável do inesquecível Mestre Paulo Freire.

Assim, diante de qualquer novidade, parece-nos mais pertinente reconhecer que a pergunta adequeda é: esta novidade é existencialmente coerente com o sonho de se poder viver, usufruir, desfrutar de uma vida e de um mundo onde a liberdade consiga colorir o dia-a-dia, com a vitória do humano devindo-se fraternidade, ternura e aliança cúmplice, a vitória do homem-ação pela vida, sua e do próximo. O homem-deus que se faz princípio, verbo, criação: direito de viver e amar.

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