quarta-feira, 21 de abril de 2010

POESIAS: INSTANTES, ESTANTES...MUTANTES...

                                                                              ÍNDIO

                                                                                      JORGE BICHUETTI


Tua dança rodopia no ar
e tua lança vira alvo...

Eis o teu louco amar.
Cabral, Bandeirantes:
todos te caçam
e tu foges...

Teu sonhar é um doce uivar
e teu peito assanha;
dele ninguém se quer
salvo.

Flecha, arco... Matas, feras...
Eis o teu universo
- tão louco-
às vezes, adverso,
contudo, sempre, do nada,
emerges num assalto da paixão.
Tu, um índio
entre robôs canibais.

Quem dera
fóssemos, tão-somente,
neste verde, azul anil,
alguém
entre a roda de outros,
todos e ninguém.
Quem dera
não tivéssemos que pesar
o tonel deste urbano
deste urbano mundo vil.

E, assim, pudéssemos
degustar
o poder de um trovão,
extraído das delícias de um beijo.

LEVEZA

                                                                               JORGE BICHUETTI
O cheiro de uma flor,
o aroma da terra
e o perfume da noite
são vozes da vida,
como se deus escrevesse
versos e cantigas;
assim, querendo dizer
que lhe agrada a prece,
feita de riso, alegria,
sereno da madrugada,
romance e serenata,
onde o hoje é a chama,
a chama de um novo dia.


AUTO-RETRATO

                                                                            JORGE BICHUETTI

Procuro no espelho
e não me vejo...
Vejo
um velho sisudo e safado,
um monstro de traços angelicais,
um galã de circo,
uma pintura de palhaço,
um espantalho...
Só não vejo,
não encontro
o meu verdadeiro rosto:
uma criança escondida
numa cabana de índio.

TÃO POUCO FICOU...

                                                                              JORGE BICHUETTI


As águas claras e cristalinas são espelhos;
prefiro as turvas
onde nada se vê...

Que escondo?

A vontade de ser anjo;
mas não desconheço o meu lugar:
alguém que por comodismo,
deixou num pantanal
suas asas de voar...
ESPERA

                                                                                 JORGE BICHUETTI


... Há tantos minutos na espera
que a chegada não tem hora;
é só a plenitude do instante.
O instante do encontro é vôo,
vôo de águia, que do azul infinito,
olha de longe a terra e diz:
Finalmente, a vida parou num eterno Amém...








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