quarta-feira, 28 de abril de 2010

SOBRE A VIOLÊNCIA

                          ONDE MORA O PERIGO?

                                        Jorge Bichuetti

O crescimento da violência assusta-nos a todos. Ela já não reside apenas nas páginas policiais... A violência ronda nossos lares, nossas vidas.
Um dia, acreditamos iludidos que o armamento da sociedade nos protegeria. E colocamos mísseis defendendo nações, alongamos os muros das casas e treinamos cães ferozes... Tudo em vão!... A violência cresceu e invadiu as entranhas da vida, martirizando as pessoas num dia-a-dia sofrido e experenciado cheio de temor e paranóia.
Ouvimos Cazuza: Meus heróis morreram de overdose... E repetimos, entristecidos: Meus filhos, também.
Nossos filhos morrem na fatalidade de um assalto, na briga de um baile; no desespero de um suicídio... Morrem... no trânsito, nas festas... Na rua... Morrem... Eles morrem do nosso lado e perguntamos agoniados: Por quê? Por quê?
De fato, se algo devemos fazer (e algo necessita ser feito), precisamos entender as raízes do perigo. A violência analisada retrata a realidade de um mundo. Mais. Muito mais: ela é um analisador do caos social que nos afeta tornando a existência vazia, esvaziada... Tediosa, improdutiva e cinzenta.
A fome se irmana à angústia; e a opressão se associa à falência da ética capitalista. O individualismo burguês e a competição, a lógica do “vencer e vender” gestou um status quo violento. Uma sociedade que violenta a essência do humano, do demasiado humano que se vê agora demasiadamente sulcado por uma vida, uma sub-vida sobrevivente... Uma vida sobrevivendo travestida de morte.
Fannon - o brilhante antropólogo e analista - percebeu um fato das relações humanas no seu vínculo com a violência. Diz ele que submetidos a uma violência vertical, quando desorganizados e despossuídos de um ideal ético de reconstrução do mundo, o homem reage comumente transferindo a violência institucional num ato violento que vitima os seus iguais. É a violência horizontal: a morte dos que se vêem fragilizados diante de nós; nós, os frágeis perante a violência que desumaniza a sociedade, muitas vezes, somos opressores dos “nossos parceiros”, dos “nossos inferiores” ou de “nós mesmos”.
E massificamos o perigo, dizendo: é a era da adrenalina.
Consumir, aderir, idolatrar este paradigma é ossificar o caos social, multiplicando as dores do mundo.
Resta-nos repensar o mundo e buscar novos valores, novas relações que consubstanciem a vida... vida rediviva numa nova ética e numa nova estética. Vida solidária. Vida que plenificando a cidadania do outro nos permita a alegria de existir livres, livres da violência alheia e da nossa própria violência...













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