sábado, 30 de outubro de 2010

BONS ENCONTROS: A AMIZADE

Nunca me sinto verdadeiramente merecedor dos amigos que a vida me oferece... São oferendas dos deuses que , também, gostam de acariciar seus filhos, nós, os humanos que temos saudade do futuro.
Recebi uma poesia: bela, encantada e alada... Peca, apenas, porque anuncia os caminhos que terei que percorrer para merecê-la...
Compartilho com vocês esta alegria:

Poema
(Andréia Attié)
Para meu querido amigo Jorge,

Meu amigo tem asas nos pés.
Asas nos pés?
É:
V – O – A – R                    E                    V – O – A – R
Ele voa para poder ficar perto do céu do mundo.
O céu é sempre um conjunto para não solidões.
Vou segredar-lhe uma cousa:
A voz dele é como infusão de ervas-doces,
E elas banham que alivia a seca da gente.
Tal como uma brisa em tempo de cimento quente,
Depois se espalha de si para ventar em outros chãos.
Confesso,
Sempre tive medo dos dias que não ventam...
Porque são dias forasteiros de estranhezas difíceis.
Mas, para minha graça, ele sopra alegre lá em casa.
Se você se encontrar com ele por aí, soletre:
A – V – E – N – T – U – R – A – S
Que mil letras virão passarinhar ao redor.
Meu amigo é assim:
Fértil de avoar, arejando-me com seu amor dadivoso.

O conceito de bom encontro para mim é  algo que mescla amizade ealegria, cumplicidade e partilha.
Assim, lhe retribuo o afeto com dois poemas de almas queridas:
Saber Viver / Cora Coralina

Não sei... Se a vida é curta
Ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura... Enquanto durar
                                                  *********
Minha outra oferta é:

TODAS AS VIDAS / CORA CORALINA

Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé
do borralho, olhando para o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço...
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo...
Vive dentro de mim a lavadeira
do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d'água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde
de São-caetano.
Vive dentro de mim a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada,
sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.
Vive dentro de mim
a mulher roceira.
- Enxerto de terra,
trabalhadeira,
madrugadeira.
analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos,
Seus vinte netos.
Vive dentro de mim a mulher da vida.
Minha irmãzinha...
tão desprezada,
tão murmurada...
Fingindo ser alegre
seu triste fado.
Todas as vidas
dentro de mim:
Na minha vida -
a vida mera
das obscuras!

E, assim, abraço com carinho e ternura a amiga Andréia e todos os meus amigos...
Nada sou... Nada tenho... Nem mesmo todos os sonhos do mundo; mas tenho e me alegro e canto agradecido... eu tenho amigos que ensinam o valor da amizade, a gostosura do sereno das auroras madrugadeiras e a serenidade que nasce do amor à poesia: ela - a poesia guarda infindáveis asas de passarinhos... Basta amar, sonhar ... e a coragem de voar.!
 

2 comentários:

Unknown disse...

Jô, obrigada pelas lindas palavras! Vc é q anda me animando a escrever, viu; qdo tô seca de palavras, venho aqui q é uma beleza de fonte! Daqui um cadinho tô indo votar... Boa votação procê e bjos no coração! Déia

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Déia, anjo-mulher - tão amiga;
um canto de encantamento
que a vida à alegria liga
e da arte de amar é aleno...
jorge