quinta-feira, 28 de outubro de 2010

LINHA DE FUGA

                                                                                        JORGE BICHUETTI

Tudo trata-se de caçar linhas de fuga...
" eu quero uma casa no campo,
onde eu possa..."
Um canto, um encanto, um encantamento...
No céu cinzento, um arco-íris...
Na escuridão das noites tristes e solitárias, uma lua, um luar...  e uma multidão de estrelas...
Para escapar, afirmar a vida, é necessário a valentia de fugir dos controles que nos reproduzem desvalia e rotina, mesmice e exaustão...
O desejo que anda sempre enamorado do novo e do inusitado, precisa furar o cerco, driblar os guardiões da ordem instituída e construir linhas de fuga...Desejo-sonho- utopia.... magia-poesia-peraltice...
Preciamos dos ventos da mudança...
Um novo disco... um novo livro... um novo amigo...
Um novo jeito de amar, de trabalhar, de encontrar e se enconcontrar, de festar, de passear...
Um novo ócio, uma nova política, uma nova oração...
Amamos com pudor, medo, ciúme, posse, insegurança e inveja... Nenhum carinho novo, nem uma carícia ousada... amamos sem flores, sem velas, sem vinho...
Nossa vida sexual segue o compaso do relógio que nos gravou, um ou outro toque, mas não reinventamos enluarada de loucuras e paixões.
Nosso terno, nosso cinto e nosso sapato... ocupam lugar excessivo e há muito não fazemos uma caminhada nús de mãos dadas.
No trabalho, somos robôs eficientes e progrmados...
Caçar linhas de fuga é reinventar-se, reinventando a própria vida.
Façamo-lo, antes que o despertador nos acorde e nos diga que tudo não passou deum sonho impossível...

4 comentários:

Samara Dairel Ribeiro disse...

MUDAR

Mude, mas comece devagar,
porque a direção é mais importante
que a velocidade.

Sente-se em outra cadeira,
no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.

Quando sair,
procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho,
ande por outras ruas,
calmamente,
observando com atenção
os lugares por onde
você passa.

Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas.
Dê os teus sapatos velhos.
Procure andar descalço alguns dias.

Tire uma tarde inteira
para passear livremente na praia,
ou no parque,
e ouvir o canto dos passarinhos.

Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas
e portas com a mão esquerda.

Durma no outro lado da cama...
depois, procure dormir em outras camas.

Assista a outros programas de tv,
compre outros jornais...
leia outros livros,
Viva outros romances.

Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Durma mais tarde.
Durma mais cedo.

Aprenda uma palavra nova por dia
numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos,
escolha comidas diferentes,
novos temperos, novas cores,
novas delícias.

Tente o novo todo dia.
o novo lado,
o novo método,
o novo sabor,
o novo jeito,
o novo prazer,
o novo amor.
a nova vida.

Tente.
Busque novos amigos.
Tente novos amores.
Faça novas relações.

Almoce em outros locais,
vá a outros restaurantes,
tome outro tipo de bebida
compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo,
jante mais tarde ou vice-versa.

Escolha outro mercado...
outra marca de sabonete,
outro creme dental...
tome banho em novos horários.

Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.

Ame muito,
cada vez mais,
de modos diferentes.

Troque de bolsa,
de carteira,
de malas,
troque de carro,
compre novos óculos,
escreva outras poesias.

Jogue os velhos relógios,
quebre delicadamente
esses horrorosos despertadores.

Vá a outros cinemas,
outros cabeleireiros,
outros teatros,
visite novos museus.

Se você não encontrar razões para ser livre,
invente-as.
Seja criativo.

E aproveite para fazer uma viagem
despretensiosa,
longa, se possível sem destino.

Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.

Você certamente conhecerá coisas melhores
e coisas piores do que as já conhecidas,
mas não é isso o que importa.

O mais importante é a mudança,
o movimento,
o dinamismo,
a energia.
Só o que está morto não muda!

Repito por pura alegria de viver:
a salvação é pelo risco,
sem o qual a vida não vale a pena!!!

Clarisse Lispector

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Samara, estou mudo, perplexo e encantado... Escrevo de coisas que andam me afetando; asssim, escutar o texto da Clarisse foi um mergulho profundo numa lagoa de paz... e u convite para viver e ousar, além da rotina.
Obrigado, meu carinho, minha ternura e um milhão de abraços jorge

CLARA disse...

Deixa-me errar alguma vez,
porque também sou isso: incerta e dura,
e ansiosa de não te perder agora que entrevejo um horizonte.
Deixa-me errar e me compreende
porque se faço mal é por querer-te
desta maneira tola, e tonta, eternamente
recomeçando a cada dia como num descobrimento
dos teus territórios de carne e sonho,
dos teus desvãos de música ou vôo, teus sótãos e porões
e dessa escadaria de tua alma.
Deixa-me errar mas não me soltes
para que eu não me perca deste tênue fio de alegria
dos sustos do amor que se repetem
enquanto houver entre nós essa magia.


Lya Luft

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

este poema é em si uma própria linha de fuga: vida potente na aceitação do humano demasiado humano dos nossos corpos e sonhos. abraços jorge