terça-feira, 7 de dezembro de 2010

DEPENDÊNCIA QUÍMICA : AVENTURA VIAGEM OU SERVIDÃO( III )

                                                       A FISSURA ( II )
                                                            JORGE BICHUETTI

Um espectro de morte ronda os lisérgicos vôos da fissura...  A morte impessoal... Um acontecimento...
Na fronteira, os tempos se enovelam e se impera uma presentificação do futuro e do passado.
Só uma grande saúde livra e libera o indivíduo de efetuar uma inscrição, uma incorporação, uma tatuagem desta "porcelana esfacelada" no corpo, interiorizando uma feroz e incontrolável destrutividade.
O endurecimento absoluto do presente inibe a caminhada e o processo de vida.
para limitar, impedir , inibir a inscrição deste acontecimento no corpo, é necessário uma contra-efetuação:" dar a chance da fissura sobrevoar seu campo de superfície incorporal sem se deter na  quebradura de cada corpo", pois "a fissura é nada se não compromete o corpo"( p. 164).
Deleuze determina sua análise, num movimento de esperança e afirmação das potência inventivas da vida:
-" Não podemos renunciar à esperança de que os efeitos da droga ou do álcool( suas "revelações") poderão ser revividos e recuperados por si mesmos na superfície do mundo, independentemente do uso das substâncias, se as técnicas de alienação social que os determinam são convertidas em meios de exploração revolucionários" ( p. 164-165)
- Metralhamento da superfície para transmutar o apunhalamento dos corpos, ò psicodelia" (p. 165)

                     Uma sobriedade psicodélica, surreal e insurgente

A sobriedade cinzenta, alienada, de repetições restritivas e normôticas vulnerabilizam o indivíduo que na fissura se vê desarmado e não contra-efetua uma desterritorialização criativa e inventiva, multicolorida e estelar, sem expor seu corpo, que é um corpo estriado com quebraduras ávidas dos miasmas da fissura...
Um vida metamorfoseante, de singularidade e multiplicidade, de corpo alisado pelas experimentações que se realiza e gera linhas de fuga, torna-se um corpo apto à contra-efetuação, ou seja, um corpo onde as lavas do vulcão não o penetra, nem corre em suas veias a porcelana pulverizada da fissura...
A fissura não se inscrevendo, nem penetrando as entranhas do seu corpo, é estrela cadente, vagalume moribundo ou fogo fátuo...
Cuidar, assim, é liberar o homem das alienações que o distancia da diferença, da singularidade, da multiplicidade, das redes rizomáticas e dos devires... Liberado destas alienações ele toma posse do que pode uma vida que livre borboleteia nos horizontes mágicos do novo, da criatividade e das atualizações insurgentes de virtualidades transcósmicas.


"Prefiro morrer de vodka do que de tédio" Maiakovsiky

2 comentários:

Marta Rezende disse...

Ei Jorge, muito rica essa trilogia sobre a fissura. Na verdade foi mais de 3, mas gosto de chamar assim sua produção inspirado em Porcelana e Vulcão. Trilogia.
Nesse artigo agora ficou mais claro a saída, a contra-efetuação. Me parece que uma delas: escrever. Escrever por amor. Como vc faz. Escrevendo por amor vc vai transformando nossas vidas em obras de arte. Claro, as obras de arte podem ser muito frágeis, mas mesmo assim temos estatuetas de porcelana por aí de milênios . beijo Marta

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

A escrita me parece uma potente contra-efetuação... Deleuze , em Crítica e Clnica, chega a dizer ser ela a única terapia efetiva...
Vê vamos tramando temas, vôos e mergulhos na imensidão do devir..
Semeando flores e gramas...
E catando estrelas que roubamoos dos deuses. Beijos. Querida amiga, Marta... trabalhemos e voemos...
Assim, dezeuzeamos o que há de bom. jorge