terça-feira, 21 de dezembro de 2010

SOCIEDADE DE AMIGOS: POETAS, NOVA GERMINAÇÃO

                             MINHA POÇA
                                          Pablo Cecílio

      Uma poça mais menos grande e suja, era casa de girinos, larvas de libélulas e duas espécies de peixes.
      Pouca coisa me parecia tão interessante quanto aquela poça que quase fedia em meu quintal. 
      Logo, beber ao lado do feminino encanto ultrapassará minha poça na lista de prioridades. Toda energia gasta no mantimento do equilíbrio do eco sistema, agora, canalizava-se no imenso esforço de harmonizar a mesa de bar. Lidar com a bohêmia não era muito diferente da administração da poça.
     Os peixes e girinos lentamente me conduziam ao autismo, o álcool me fazendo pensar alto e mesmo contra minha vontade manipulava meus lábios, simulando um sorriso, sucesso. Minha lista de amigos sai de 2 pra 20. Sou o rei do bar.
     Minha poça quase seca quando orgulhoso levei Ana pra conhecer meu quintal. Ao pisar na minha grama-capim a moça levou os dedos ao rosto tampando as duas narinas. Ela não identificara a origem do cheiro, e, enquanto, Ana olhava ao redor de meu quintal, atônita, eu temendo que ela se manifestasse, disse:  -    Esse quintal precisa de um trato! Ela balançou a cabeça concordando enquanto eu a puxava pelas mãos rumo a sala. Um sentimento único tomou conta de mim, e após 2 calafrios e um olhar penetrante, resolvi limpar meu quintal.
     Aquela poça viva que nunca incomodara mamãe ou minha irmã, agora inviabilizava meu namoro.
     Churrascos longos e regados a inesgotáveis piadinhas aconteciam no meu novo jardim, esse era o caminho a seguir, ninguém tinha duvida.
     Ana me ensinou a dar presentes e abraçar com ternura. Lentamente, me socializou sem o álcool.
     Ana virou Fernanda, que virou Paula, nada mais me parecia irreparável. Até que numa virada de ano minha irmã indignada ao receber um fraco abraço seguido de pequenos tapinhas me perguntou: Porquê você abraça assim? Respondi calado com um sorriso amarelo que ela entendeu. Pensei: É pra não secar o resto da poça que ainda resta em mim.













                                       AUTO-MISERICÓRDIA
                                               Josiane Sousa

Foste, com tuas pernas lânguidas
No sofregante atordeio da alma,
Imploraste o perdão a si mesmo.
Foste, na velocidade de língua de serpente
Redimir-se de teus cheiros exalados de volúpia,
Que enrubresceram tua face.
Foste, no silêncio de alquimia dos bosques,
Buscares o perfume salvo santo
Das narinas porosas e asfixiantes.
Foste, e ao ir, partiste de mim
Como água que me debruça
Para que lentamente eu despeje
Essa efervescência de você.
 
 

2 comentários:

Anônimo disse...

mas, Jorge, não é uma poça linda???,
num minuto aprendi a comentar, hein???

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Uma poça linda, e um conto que , para mim, é fortíssimo; porque é belo e nos afeta, desbrando os caminhos das emoções do universo masculino, tantas vezes arredio em escudar as baladas do coração.
Abraços jor ge bichuetti