terça-feira, 29 de março de 2011

BONS ENCONTROS: ARTE E POLÍTICA - ANARQUISMO E SURREALISMO... SOBRE OS SONHOS...

                               O SONHO E A REVOLUÇÃO
                                                                       Jean Schuster

O sonho não é o contrário da realidade. Ele é um aspecto real da vida humana, assim como a ação; e um e outra, bem longe de excluírem-se, completam-se. Todavia, este aspecto, negligenciado ou voluntariamente relegado ao plano das supertições perigosas pela civilização atual ( a das cavernas , das igrejas e das delegacias) contém os fermentos de revolta mais violentos por serem os mais profundamente humanos. Compreende-se que a vontade de obscurantismo dos mestres-pensadores seja sempre manifestada por um desprezo total em relação ao sonho. Sua inteligência limitou-se a tolerar ( e talvez favorecer) a difusão das "Chaves dos sonhos", obras desnaturadas, de carácter puramente superticioso, fantasioso ou idiota. Mas os povos que o odioso bom senso obstina-se em denominar "primitivos" ( primitivos porque nunca conhecerão o segredo da bomba atômica, ou simplesmente da hipocrisia diplomática) concedem ao sonho um lugar de primeiro plano.
Freud, desvelando o mecanismo do sonho, interpretando-o, demonstrou que ele constituía o perfeito revelador das tendências e dos desejos mais secretos do homem. Sabe-se agora que não existe sonho gratuito, que pelo simples fato de sonhar o homem muda o seu destino, mesmo que esta mudança permaneça imperceptível. Desperto, o homem aprende do mundo o que sua razão e seus sentidos bem quiserem deixar-lhe aperceber, isto é, uma ínfima parte do que realmente é, em sonho, os objetos, os sentimentos, as relações mais audaciosas tornam-se lícitas, familiares. Desceu ao coração de si mesmo, ao coração das coisas.
Isto é válido tanto para as coletividades quanto para os indivíduos. se o sonho é a expressão do desejo, se a explicação de um pode preludiar, numa certa medida, a realização do outro, o maior desejo coletivo é a revolução. G. C. Lichtenberg lamentava que a história fosse feita unicamente da narrativa dos homens despertos. Quando, numa noite, todos os explorados sonharem que é preciso acabar e como acabar com o sistema tirânico que os governa, aí então, talvez, a aurora surgirá em todo o mundo, sobre barricadas.


                Das Utopias                             
                   Mario Quintana
Se as coisas são inatingíveis... ora!
não é motivo para não quere-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
a magica presença das estrelas!



Nenhum comentário: