quarta-feira, 30 de março de 2011

SOCIEDADE DE AMIGOS: A INSURGÊNCIA TERNA DA POESIA DE THIAGO LUIS ( 1 )...

                     ENTREMUNDO
                                         Thiago Luís

Nos entremundos de mim
há muitos vazios.
Alguns poucos sombrios,
outros, de sereno desalinho,
e, de resto, muitos, de sorrisos.
Nesses entremundos
não há espaço para verdades concretas
nem metafísicas ilusões.
Há só escuridão
e sussurros.

Nos entremundos de mim
há uma esperançazinha acovardada
que me teima em seguir avante
mesmo que não haja adiante,
mesmo que seja só por algum instante.
Não há descaminhos.
Só um ninho
tecido de pensamentos e brumas,
devaneios
e sonhos.

Os homens têm muita precisão de água
pra matar a sede, a sujeira e o tédio.
Eu tenho muita precisão de mim,
Pra não morrer.

Nos entremundos de mim
há muitos rostos enterrados,
há muitas rotas encobertas,
há poucos medos assustados.
E nesse vai-e-vem de caos de mundos
eu sigo, entre a beleza e a certeza.
Só. Nu. Encantado em minha delicadeza.
Poeira que sou de algum amor,
jardim em flor
e vento.

 ASSIM, ADORMEÇO...
                        Thiago Luís

Durmo sempre
 - sem dar conta -
com um pandeiro ao lado
de minha cama.
Quieto.
Silencioso.
E brando.
Para que
meus pensamentos sambem
no quieto da noite
enquanto durmo.

Sonhos de festa e dança
em algum sereno.

Se acaso acordo
 - sem dar por isso -,
procuro em vão Morfeu,
e sossego-me
ao vê-lo
sambar tristíssimo
ao alvorecer.

Eita saudade que me batuca o peito!
Eita sonhos que me enlevam em samba!
Eita vida: estranho festejo!


LÁGRIMAS E FLORES
                                   para Jorge Bichuetti
                Thiago Luís

Escrevo poemas
como quem derrama lágrimas
e planta flores.
Ora, poetizar-se
é mesmo um choro de horror, de amor
em um jardim pleno de esplendor.

Sim, meus poemas
são pétalas e lágrimas
estendendo sobre meu povo,
mas não para enfeitar as casas
ou para entristecer as gentes.
Serve para, humildemente
cheirar e asserenar-se.
E, se o permitirem
lágrima aguar semente
pensamento tornar-se mente
inventar outros modos de sentires, à frente.
Aos poetas restam o oco dos sonhos
para enxertá-los de margaridas e lírios
restam ainda a fome dos meninos
e o abandono em suas mãos.

Escrevo poemas
como quem derrama lágrimas
e planta flores.
Ora, poetizar-se
não é mesmo um choro de horror, de amor
em um jardim pleno de esplendor?


LADO A LADO
                  Thiago Luís

cheguei a engolir
a vida que há em ti

lambequei-me de ti
amei
e, de tanto amar

cuspi fora!

não cabe outra vida
dentro de mim

só ao meu lado.
só, e ao meu lado
só.


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