quinta-feira, 21 de abril de 2011

AMOR, POLÍTICA E COTIDIANO

                                                  Jorge Bichuetti

Cada tempo coloca seus problemas e se os questionamos com rebeldia, espírito inovador e a alegria ética de se caminhar, afirmando a vida, encontramos no labirinto das angústias de um tempo os germes, os brotos e as trilhas que se nos aventuramos no esforça de dar-lhes vida, bifurcamos e superamos a escuridão reinante e avançamos para as clareiras da aurora...
Dizemos, repetimos, ruminamos que o nosso tempo é um tempo infértil para o amor... Uma análise empírica superficial, nos abonaria. Deslealdade, evitação de vínculos, traição, sexismo desafetivado, fusões narcísicas, colisões destrutivas... Onde anda o amor?... Anda na liquidez da vida. Porém, é um analisador da crise amorosa do amor edípico e uma fissura pela não consolidação criativa e cúmplice de vínculos amorosos sob a inspiração do amor livre... No amor dependente, somos submissos, asfixiados, empobrecidos... No amor livre, somos o vazio da solidão, máquinas celibatárias, eremitas da gruta do orgasmo...
O amor é pulsação vitalizante; efervescência criativa e energização libertária...
Antes de decretar, o Ato Institucional que dê por morto, exilado e desaparecido o amor, aceitemos a provocação histórica de reinventá-lo...
Reinventemo-lo ternura cálida, alegria e festa, partilha, cumplicidade, maturação... Aceitemo-lo  processo inacabado que se faz, desfaz e se refaz, permanentemente, exigindo-nos cuidado, cultivo, criatividade, investimento diuturno.
O amor é sol e luar; orvalho e vento; riacho e cachoeira; fogueira e a chama de uma vela... ´Voo e salto, porto seguro e rede de balanço... é movimento; é calmaria... é o cume da montanha e é a paisagem contemplativa... é uma explosão cósmica e a suave serenidade...
Solidão compartilhada, partida e chegada... um encontro e um adeus na responsabilidade de seguir livres e atados, no paradoxo, no diálogo, na compreensão, numa conexão de singularidades...
Não é espelho, não é complementação... é interação transversalizada.
                                               ***
Também, falamos da falência da política. Corrupção, burocratização, jogos de podres poderes... Um jeito de trabalhar a político longe da ações das povo oprimido. Uma crença de são o programa para... Não percebem que política é caminhada, é partilha, resistência, indignação e rebeldia, junto, com, imerso nas lutas populares... Dando-se, fazendo, numa ressonância das palavras lúcidas de Guattari: militar é agir... Não é palanque, não é fotografia... Não é só estado; ao contrário, é contra-instituição, ações instituintes, dispositivos, implantes socialistas... Desde os diálogos fertilíssimos entre surrealismo e anarquismo e surrealismo e marxismo, já é possível se esconder, parasitariamente, numa espera da transformação do mundo, urge mudar a própria vida. Política é vida, vida de caminhada, de partilha, de construção instituintes de sociabilidades solidárias e libertárias... É agir com, para, no entre das relações de quem se põe na vida caminhando com o povo oprimido e explorado...
                                               ***
O amor e a política se dão agora nas entranhas do cotidiano...
É vida pulsante no dia-a-dia...
É alvorada emergente... revoluções moleculares no olhar, no falar, no escutar, no agir e interagir...
São construções no agora e por nós, para possam eclodirem numa vida de todos e para todos... Num socius reinventado nos experimentos da poesia... Não da poesia literária, na poesia que se desenha pela vida dos amam, se doam, partilham, resistem, lutam, inventam um novo dia.

2 comentários:

Anne M. Moor disse...

Jorge

Inspiradíssimo e belo texto!

"Não é espelho, não é complementação... é interação transversalizada."

Reinventar o amor é nosso do dia a dia nénão? Esta tua frase é maravilhosa. Adorei "é interação transversalizada"...

beijos
Anne

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Anne; temos que germinar e frutificar o novo.Seu carinho encanta e anima, dá vida.Abraços com ternura, Jorge