quinta-feira, 28 de abril de 2011

BONS ENCONTROS: AUGUSTA CARLOS, UM CORAÇÃO NO CAMINHO DO POVO, UMA VIDA PELOS SONHOS DE LIBERTAÇÃO...

UMA GUERREIRA NA LUTA DO POVO

Augusta Carlos, militante dos trabalhos populares na periferia, coordenadora e líder comunitária na Creche Comunitária Coração de Maria, participa ativamento da luta das creches, da caminhada dos Sem-Tetos, do movimento da Luta Atimanicomial, do Carnaval da Inclusão, Da Central dos Movimentos Populares... E assistente social e especialista em terapia comunitária... E uma ativista Na Universidade Popular Juvenal Arduini. Sempre guerreira, amiga e cheio de utopias, vive esperança e coragem o dia-a-dia da caminhada do povo oprimido... Mãe de Marcos e Francesca, irmã dos que choram e sogrem a fome, a miséria, o desabrigo... Uma sonhadora xom as mãos sempre ocupados no trabalho: seca lágrimas, acolhe, orienta, partilha... e luta.

Um coração de Marias e Josés, dos sem ninguém... Encontremo-la e com ela busquemos o que pode a utopia:

1. Trabalhando tanto tempo, com o povo, pergunto-lhe: amiga, como é a nossa gente, o nosso povo, para você pensando... olhando-os e sentindo-os?...

- Meu querido estradeiro, para mim não é difícil entender meu povo, pois eu também sou povo.Minha mãe fazia de tudo para garantir a sobrevivência dos 5 filhos: plantava verduras, fazia rosca, flores,costurava, criava porcos e galinhas e eu meus irmãos vendíamos seus produtos na rua ou buscávamos lavagem para alimentar os porcos .Meu pai era “gato” na turma de bóias-frias. Sua bóia também era fria...com o passar do tempo tornou-se gerente de fazendas de café.Com seu trabalho enriqueceu muita gente...mas aposentou-se com um salário mínimo.Nossa casa era pequena, dormíamos 2 crianças em cada cama, não tinha água e saneamento básico,tirávamos água na cisterna. Te conto esta história com orgulho, pois todos os filhos conseguiram estudar e ter hoje uma realidade econômica um pouco melhor.Mas buscamos reproduzir os ensinamentos: honestidade, fé, esperança, luta, nada cai do céu,solidariedade, amor. O ensinamento: “O pobre de ser bom 2 vezes”. Não se acomode, vc só tem menos dinheiro que os outros,e deve provar todos os dias que é inteligente e capaz.E acima de tudo preserve o seu “nome limpo”, pois assim as portas se abriram para vc. Fui baba, empregada doméstica, plantei café enfim fiz muitas coisas até ser funcionária pública.Sempre norteada para estudar, pois como bem diz minha mãe o saber é um tesouro que ninguém te tira e que vc conquista,ninguém pode te dar. Bem meu querido te conto tudo isto para que possa Compreender que vejo meu povo a partir da minha realidade e luto por eles pois sei que com um pouco de incentivo e oportunidades todos podem construir uma realidade melhor. Nosso povo é A PERSONIFICAÇÃO DA RESILIÊNCIA, vive com um salário mínimo, ou melhor que tenham renda de R$70,00 por pessoa (parâmetros do bolsa família- a população alvo do programa é constituída por família em situação de extrema pobreza). A grande maioria das famílias são monoparentais,a prole vive só com as mães. A prole é de pais diversos. A grande maioria mora em ocupações: Jardim Terra Santa, Vila Esplanda,Esperança, Jardim Triângulo, Amoroso Costa,Jardim Esplanada,Mangueiras,etc.Ocupações que foram apoiadas pela construção das 6 creches da Entidade Nossa senhora do Rosário.Todas as Casas, exceto uma foram construídas em terra ocupada pacificamente, um morador já habitava ali e deu lugar as creches.Mas a grande maioria não tem casa própria, vive de favor, aluga uma casa da ocupação. Vivem agora sonhando com o “MINHA CASA MINHA VIDA”.Casas estas que ficam lá no fim do mundo, onde não se vai em um segundo, e não tem escola, creche, enfim condições para a família habitar com dignidade,pois esta muito longe de tudo e de todos os meios.Aí tem outro problema:tenho casa mas não tenho onde colocar as crianças, devo pagar transporte caros, etc.Rapadura é doce, mas não é mole não!Pobre quando resolve uma coisa tem logo outra prá divertir... Nosso povo é muito sofrido, trabalham nas lavouras da região:café, batata, cebola, cana-de-acuçar, mas nesta última a mão- de- obra está sendo substituida por máquinas. Então as famílias se dedicam a coleta seletiva de recicláveis.As mães durante a semana e com a ajuda das crianças nos finais de semana.Hoje a maioria das famílias tem saneamento básico, acesso á escola.Mas os problemas somente mudam: falta vagas nas creches, nos centros de convivência para acolher os adolescentes em tempo integral, o narcotráfico trata de oferecer as vagas para estas crianças e adolescentes...tantos genitores também são aliciados devido a falta de emprego. Uma percentagem expressiva já está refém do vício: álcool e droga.Outros encarcerados, em centros de recuperação. E este flagelo machuca e mata a família. Infelizmente não há uma política pública eficiente trate, puna e previna os males causados pelas drogas. Mas mesmo assim com todos estes flagelos nosso povo sorri, brinca, é feliz, tem fé e acredita sempre no melhor. É extremamente solidário. Sim quem sofre é solidário para com seu irmão de dor. Mas ele está muito só, sem pessoas que se preocupem como antigamente em dar-lhes subsídios para buscar seus direitos, falta organização popular para que possam exercer sua cidadania plenamente. O intelectuais, estudantes universitários, as organizações sociais já não atuam nas comunidades e isto enfraquece e fragiliza a grande potencialidade da massa e assim tornam-se massa de manobra.Não mais se empoderam de seus direitos e deveres. Não se manifestam quando algum serviço deixa a desejar:escola, saúde, etc.Nosso povo necessita se politizar e não ser usado na politicagem de 2 em 2 anos. Ele precisa se empoderar da força que a grande massa tem para poder trabalhar na construção de uma política justa e solidária, construtora da paz. É um povo guerreiro que com um pouco de apoio vai muito longe. Temos em nossas comunidades pessoas que eram bóias-frias, empregadas domesticas, que hoje são professores, universitários, lideres comunitários,enfermeiros, enfim superaram todas as barreiras, por que ousaram acreditar. Porque alguém ousou acreditar neles primeiro.Temos um senhor de 72 anos que hoje está alfabetizado,e cursa o 2º ano do ensino fundamental!E diz: -Quando cheguei aqui no Coração de Maria, vim mais prá agradar as professoras tão educadas, nunca imaginava que aprenderia. Estou muito feliz, agora não paro mais. Sinto-os como uma imensa dor pela pobreza material e intelectual que lhes é imposta por ensino de baixa qualidade,que não lhes dá condições de igualdade na vida profissional.Mas de uma grande riqueza pessoal e espiritual que conseguiram a custa das privações que os impulsiona sempre a caminhar na grande esperança de que dias melhores virão. Como bem diz aquela frase: “Sou brasileiro e não desisto nunca.”

2. Lutas e sonhos... Há esperança no horizonte da caminhada com o povo oprimido? ... ou o sonho, realmente acabou?...

- Não o sonho não acabou, está quase se extinguindo, devido ao fato de que os grandes líderes guerreiros estão envelhecendo e não estão sendo despertados novas potências, novos líderes para caminhar junto do povo, como já citei acima. Necessitamos despertar para o fato de que a utopia ativa só acontcerá se houverem protagonistas. O povo chegou ao poder através de LULA e os movimentos sociais foram esvaziados, a força do povo foi “apacentada nos redis dos cargos nos governos, municiapis, estaduais, etc”.Os conselhos foram criados,a democracia ampliada, mas as injustiças sociais continuam a acontecer, os pobres continuam a ser usados e tripidiados neste pais de dimensões continentais.O povo necessita continuar se manifestando, pois quem não chora não mama.E continuarão a mamar nas tetas do povo. É assim desde os primórdios e assim continuará. O fraco É sempre subjulgado pelo forte.O filho do rico se comete um delito, está doente e deve submeter-se a tratamento psiquiátrico o do pobre vai para o centro de reeducação ou para a prisão. Nossa esperança está na juventude, nas famílias, o Brasil só irá mudar se o povo quiser mudanças. Aqui as políticas só acontecem porque é lei, mas não são eficientes pois falta o acompanhamento popular. A universidade polular deve se encarregar de formar as comunidades para exercer plenamente sua cidadania. Nosso povo está acéfalo, a deriva, nem busca mais um novo horinzonte. Cada qual fechado seu pequeno mundo familiar e social, sem se encontrarem para discutir política. Para eles a palavra tem comotação perjorativa e nossos jovens sequer querem pensar e falar em política, são massa de manobra fácil, barata e infelizmente com formação deficiente.

3. A criança que chega no trabalho junto à comunidade, que dores carrega?

- A priori as famílias nos procuram para que as crianças e adolescentes possam ter direito a educação e proteção enquanto trabalham, mas necessitam muito mais, necessitam que sejam acolhidos em suas lutas, suas dores, suas aspirações de uma vida melhor e mais digna,plena de cidadania e justiça social. AS crianças na maioria negras, carregam as dores da pobreza e da vulnerabilidade socail, tão em voga). Mas trazem a tristeza dos lares desfeitos, da violência doméstica, dos pais encarcerados, do abandono, do desamor, do preconceito, da exclusão social e escolar (que os rotulam com déficit de aprendizagem, de atenção,hiperativos,etc).Do poder do tráfico nas comunidades, tráfico que lhes rouba o pai, a mãe, a casa, a família e os joga em lares substitutos e instituições públicas sem aconchego, humanidade e amor.Onde esperam por muito tempo, em se tratando da infância para que seus destinos sejam traçados pela justiça. De excluídos que eram tornam-se a força do sofrimento arredios, violentos, excludentes e experimentam os educadores e equipe ao máximo. Muitos mais fracos ou menos preparados sucumbem a prova e desistem Mas sedentos de amor, valorização e atenção assim que recebem o mínimo de cuidado se transformam: aproximam-se, são afetuosos, retomam o prazer de aprender, de excluídos que eram tornam-se a força do sofrimento arredios, violentos, excludentes e experimentam os educadores e equipe ao máximo. Muitos mais fracos ou menos preparados sucumbem a prova e desistem. Mas com a prova de que não serão novamente excluídos, tornam-se paulatinamente mais acessíveis, trocam a briga pela brincadeira, a agressão verbal para com o educador pelo abraço, o beijo, o carinho.Voltam a se interessar pelos estudos e em sua maioria são melhores academicamente do que nos era apresentado. Os pais com a mudança dos filhos e o chamado a serem presentes também se aproximam e a mudança se inicia de forma muito lenta. Todos queremos ser queridos, amados, valorizados,ENXERGADOS.

 
4. A creche comunitária acolhe, cuida e inclui: o que faz uma creche ser um lugar de produção de vida?

- Meu querido estou me antecipando nas respostas como vê. A inclusão não se faz com a oportunidade de poder freqüentar a creche, se faz no dia-a-dia.Pois infelizmente participamos do processo de exclusão, antigamente não dizíamos não! Hoje a demanda é tamanha e a falta de recursos da instituição é tanta que nossa entidade atende 800 crianças dia nas 6 casas e todos os dia colocamos as necessitadas famílias na lista de espera, cientes de que a necessidade é urgente, emergente, prá ontem.Sim é lugar de produção de vida. Vemos e acolhemos as famílias como elas são e somos acolhidos por elas. Cuidamos das diversas dores: das crianças,dos adolescentes, das famílias, da comunidade.Buscamos todos os mecanismos para praticar o cuidado: buscamos parcerias com as universidades, com as instituições amigas(baremblit,instituto de valores humanos,etc), fazemos grupos de mães, de terapia comunitária,abrimos espaços para outros grupos e serviços em nosso espaço físico: capoeira, narcóticos anômomos,programa da saúde da família, aleitamento materno(este a menina dos olhos, pois trata de cuidar da gestante e do bebê da forma correta e ecológica, o leite materno é perfeito e não custa nada.os adolescentes tem oportunidade de ensino profissionalizante para ingressar no mercado de trabalho, sempre com nosso acompanhamento, e quando já estão trabalhando, vem almoçar conosco, para que possamos continuar junto deles, e neste horário fazem seus trabalhos escolares em nosso laboratório de informática que está disponível também os sábados e domingos . Buscamos suporte para a equipe pois, o cuidador deve ser cuidado antes de cuidar. Buscamos disponibilizar o espaço para a comunidade, para que seus valores culturais e religiosos sejam preservados e cultivados: folia de reis, capoeira, congado, missa,encontros diversos.As lideranças sabem que tem nas creches espaço para atuação. Muitas se tornam educadores, outras benfeitores, parceiros, mas são sempre filhos da filhos da casa. 

5. No dia-a-dia, cuidando, lutando e vivendo,para você, o que pode o amor?... 

- Hoje acolhemos e somos acolhidos pela 5ª geração: bisavó; avó, ma~e, netos e bisnetos!E nossa grande alegria é saber que desta geração da família Veloso 3 jovens hoje estão nos bancos das universidades: engenharia, direito e pedagogia. É a utopia ativa se concretizando. Quem diria isto a 23 anos quando as famílias vivam sem água, luz e reconhecimento como comunidade? E todos sem exceção amam o espaço, o respeitam e condividem suas alegrias.Estas famílias já estudaram,se descobriram doentes, se curaram, se casaram, batizaram, foram veladas, fizeram festas, enfim tudo neste espaço comunitário. A evolução das famílias que continuam unidas sendo a mais jovem de 9 meses sendo cuidada no berçário é a personificação do amor.E a exemplo destas tantas outras graças a Deus.Cito esta em especial, pois na casa do matriarca a luz de velas em uma reunião comunitária a luz do evangelho,surgiu a necessidade da creche e esta senhora hoje com 80 anos ajudou a capinar e colocar a primeira pedra.Ela era viúva e tinha 7 filhos pequenos. Deixava-os sozinhos para cortar cana. 


6. Franca e Amalia,lutadoras... O que elas representam na história social do povo oprimido?
Meu amado amigo, não há como falar do que elas representam sem fazer um breve histórico de suas trajetórias de vida, o “chamado missionário” e a missão pelo nosso imenso Brasil:
FRANCESCA INGRASSIA, nasceu em Túnis, capital da Túnisia em 20-11-1928 (dia da consciência negra), filha de imigrantes da Sicília,Itália.Perdeu o pai aos 5 anos. Restando a mãe viúva costurar dia e noite para sustentar Franca e os 2 irmãos.Aos 15 anos durante a 2ª guerra mundial, como  a Túnisia era protetorado francês, a mãe e os tios foram presos e logo após exportatos para a Itália, pois não tinham nacionalidade Francesa.Chegaram a Itália com a roupa do corpo, tendo deixado tudo o que haviam construído na vida para trás. Viveram em abrigos para refugiados por alguns anos, Franca relatava com imensa tristeza as agruras da guerra,a violência, a fome,o frio, humilhação que os refugiados e toda a população eram sujeitos.Eram alojados cerca de 100 pessoas em espaços que não caberiam 20 pessoas dignamente.São sofrimentos que sequer podemos imaginar.Bombardeios dia e noite, ver amigos e familiares desaparecer sob escombros e bombas, assédios de toda a sorte, enfim a mais sórdida de todas as tragédias humanas a GUERRA.Após o final da guerra as famílias foram enviadas para os locais de origem, a família de Franca era da cidade de Trapani/Sícilia/Sul da Itália e lá foram recomeçar a vida.A mãe voltou a costurar,Franca cursou magistério e especializou-se no método Montessori, com o professor Montessano, Maria de Maria Montessori em Roma.Conseguiu ser aprovada em concurso e lecionou por 25 anos em escolas de ensino especial, nos Alpes e depois em Trapani. Mas sempre participou ativamente dos movimentos pastorais da igreja católica e era orientadora de grupos de jovens. Quando estava prestes a se aposentar as 45 anos, candidatou-se para surpresa e escândalo de muitos para ser voluntária no leprosário de Campo Grande no Brasil. Foi escolhida e contrariando a família  veio para o Brasil onde permaneceu de 1971 a 1972, quando deveria retornar a Itália. Já estava completamente apaixonada pela missão e pelos pobres sofredores do Brasil.Retornou a Itália,inscreveu-se no “Movimento Leigo na Ámerica Latina”, organização de voluntariados internacional ligada a Conferência Episcopal Italiana. Através deste movimento pode retornar ao Brasil em 04 de julho de 1972!Na época sem aposentadoria, com voto de pobreza total. No movimento leigos América Latina conheceu Amália Pasin, sua grande companheira de missão pelo resto da vida terrena.Franca me disse que durante os sofrimentos da guerra fez um juramento a Deus, que se sobrevivesse dedicaria sua vida a minimizar os sofrimentos dos pobres e para que não sofressem aquilo que ela sofreu com milhões de pessoas. E assim o fez. Isto se chama resiliência. A transformação do sofrimento em força guerreira, luz e construção da paz.

AMALIA PASIN- Nasceu em Fara, na província de Vicênzia, norte da Itália, em 08 de janeiro de 1940,filha de humildes camponeses, caçula de 5 irmãos.Aos 15 anos era órfã de pai e mãe.Como Franca viveu os horrores da guerra.Com muito sacrifício estudou, fez magistério, doutorou-se em matérias literárias aos 30 anos.Sempre ligada a Ação católica,ao voluntariado e catequese, aos 32 anos decide-se pela missão e inscreve-se no MLAL(Movimentos Leigos na América Latina), a princípio pensava em ir para a África, mas foi seduzida por Franca a vir para o Brasil deixando o trabalho de professora universitária, pelo voto de pobreza, pela vida pobre entre os pobres.

A MISSÃO- Vieram de navio,era mais barato,  15 dias de viagem, desembarcaram no Rio de Janeiro em 4-7-72, e se disseram acolhidas pelo Cristo Redentor de braços abertos,sentiram-se abraçadas e seduzidas pela imagem de beleza sobrenatural.No dia 05-07-1972 subiram o Cristo Redentor e com a cabeça em seu coração selaram uma aliança: “ Porque para onde queres que fores, irei eu; onde quer que vives,viverei eu.O teu povo será o meu povo , o teu Deus será o meu Deus. Onde quer que morras, morrerei eu, e ali serei sepultada.”(Rt, 16-17)E a aliança foi consumada: Francesca Ingrassia faleceu aos 76 anos, no dia 22-02-2005.E seu corpo foi transladado para a Casa do Menor Coração de Maria, em uma união de esforços da comunidade, da diocese e do prefeito Anderson Adauto,para cumprir seu último desejo, ser sepultada ao lado da capela do Coração de Maria, exatamente 05-07-2005! Tal data foi determinada pela administração municipal e só atentamos para coincidência das datas meses depois. O que deixou toda comunidade impressionada e muito feliz pois foi a prova de que sua vida missionária realmente foi coroada de glória e reconhecimento por Deus.
Retomando a sua trajetória:Convidadas por um padre italiano foram para Goiandira(1972-1976), após pesquisa na comunidade a necessidade gritante era o acolhimento das crianças  e iniciaram a construção da primeira creche de Goiás. Durante 3 anos trabalharam, morando na comunidade em absoluta pobreza, numacasa de 1 comodo e banheiro na favela, era a casa do coveiro e foi a única que encontraram pois ninguém queria morar lá.Prepararam a comunidade para assumir o trabalho pois faz parte do objetivo da missão, lançar as sementes e preparar o povo para dar continuidade  as obras.
Monte Carmelo(1976-1982)-As CEBS(Comunidades Eclesiais de Base),CPT (Comissão Pastoral da Terra),PO (Pastoral da Terra), eferveciam e junto com elas a ditadura militar.
Inicialmente em Monte Carmelo se dedicaram a zona rural e depois aos bairros da periferia com a seguinte abordagem:bíblia e realidade,Análise dos fatos a luz do evangelho: ver, julgar e agir.As articulações para o sindicato rural aconteciam e a ditadura apertava o cerco, principalmente com as estrangeiras e tornou-se necessário um trabalho social, além do religioso,considerado subversivo.Em assembléia popular nasceu a CARMOCEB(Pequenas Comunidades de Nossa Senhora do Carmo) era uma entidade social, dos operadores das CEBs.Com um trabalho intensivo com a comunidade foram construídas as primeiras creches de Monte Carmelo:Maria de Deus, Maria do Povo,Maria Carmelitana, São José trabalhador,Casa de Oração e creche Nsrª da Assunção e Lavanderia Comunitária Maria Visitadora.Concomitantemente com estas obras se articulavam as romarias da terra,o trabalho de base,o objetivo do voluntariado internacional: LIBERTAÇÃO E CONSCIENTIZAÇÃO.E assim a verdade do evangelho incomoda e começaram a ser ditas, subversivas, comunistas e assim foram perseguidas.A gota d’agua foi o fato de um dos salões ds creches ter sido palco da fundação do sindicato, aliada a romaria do trabalhador,a campanha da fraternidade-“Trabalho e Justiça” e finalmente foram expulsas da cidade pelo clero que cedeu ás ameaças dos militares em 08-01-1982.mas foram acolhidas em Uberaba, pelo arcebispo Dom Benedito, que as apresentou aos famosos corredores boiadeiros, terra de ocupação, comunidades onde ninguém queira ir, pobreza extrema,faltava tudo:água, luz, saneamento,dignidade, escola,transporte, esperança,fé, amor,acolhimento,reconhecimento a vida.Todos bóias-frias.Retomaram com toda a emergia e alegria de ainda poder trabalhar.Com os grupos de jovens das paróquias :Alfabetização a luz de lampião pelo método Paulo freire,Grupos de estudos-biblia e realidade, ver, julgar e agir. E novamente a grande preocupação das comunidades: proteger e acolher s crianças.E assim foram fundadas 5 creches em Uberaba e desta vez os terrenos não foram doados, foram OCUPADOS!POIS AS COMUNIDADES ERAM OCUPAÇÕES AS MARGENS DA FERROVIA,segundo elas Nsrª tomou posse e construiu de 1983 a 1987 as seguintes obras:Nsrª do Rosário, Dona Benedita, Nsrª do Desterro, São Jerônimo Emiliani(este cedido pela Diocese) e Casa do Menor Coração de Maria.Trabalhavam de dia em mutirão com a comunidade e retornavam a noite para estudar o evangelho, rezar, cantar, viver a fraternidade em comunidade a luz de velas e lampiões. Com a construção das creches as ocupações se tornaram comunidades organizadas, pois todos se revezavam no cuidado com as crianças, Amália e franca preparavam as jovens de mulheres para o trabalho em cursos de formação intensivos aos sábados. E dali floresceram grandes educadoras, muitas lideranças e acima de tudo muita esperança e fraternidade.Hoje a cidade chegou lá,as comunidades se transformaram em bairros, a terra se valorizou,mas a comunidade sabe e reconhece quem os reconheceu e valorizou quando figuravam no mapa municipal como “área verde”.
Franca já idosa,se dedicou a Uberaba e apoiou Amália que trabalhou em São Leopoldo Rio Grande do Sul e fundou 2 creches, em Cristalina 1 cooperativa para jovens artesãos de cristais, 2 creches e atualmente vive em Uberlândia onde fundou 2 Após a morte de Franca outras 1 foram fundadas em Uberaba, Monte Carmelo e Uberlândia.
Estas duas mulheres, são para o povo oprimidos anjos guerreiros completamente fiéis a Deus e ao envio:ide por toda a terra e proclamai o evangelho.Elas o proclamam com a sua vida de amor, desprendimento, abnegação total ao outro. E aos exemplos das madres bradam ao mundo: O OUTRO SOU EU, JESUS ESTÁ EM CADA HOMEM QUE SOFRE, QUE É OPRIMIDO, DESPOJADO, MALTRATADO E PRINCIPALMENTE NA CRIANÇA O ESTÁGIO MAIS VULNERAVEL DA HUMANIDADE. O MAIS VULNERÁVEL E NOSSA IMENSA E ÚNICA ESPERANÇA DE UM NOVO MUNDO POSSÍVEL DE FRATERNIDADE,JUSTIÇA E PAZ.
Creio que não seremos capazes de contabilizar quantas vidas foram salvas por Amália e Franca nestes 38 anos de missão, mas com certeza elas conseguiram em absoluta pobreza e com recursos da comunidade paupérrima fazer o antônimo da guerra a salvação do corpo, da alma e a continuidade da paz.Praticam a justiça social com Suas vidas na mais absoluta humildade , discrição,silenciosas.Somente seus pobres e alguns poucos intelectuais sabem de suas obras de salvação.
Hoje em Uberaba, diáriamente são acolhidos de forma digna e recebem educação de qualidade centrada no amor, 800 crianças e adolescentes. 
Finalizo com uma música que sempre cantamos
Quanso as queremos lembrar e homenagear, pois diziam que era seu hino missionário:

Me chamaste para caminhar na vida contigo , decidi para
sempre seguir-te , não voltar atrás Me puseste um brasa no
peito e uma flecha na alma , é difícil agora viver sem
lembrar-me de ti
Te amarei Senhor , Te amarei Senhor eu só encontro a paz e a
alegria bem perto de ti (refrão-2X)
Eu pensei muitas vezes calar e não dá nem resposta , eu
pensei na fuga esconder-me , ir longe de ti mas tua força
venceu e ao final e eu fiquei seduzido é difícil agora viver
sem saudades de ti
REFRÃO
 Ó Jesus não me deixe jamais caminhar solitário pois conheces
a minha fraqueza e o meu coração vem ensina-me a viver a
vida na tua presença no amor dos irmãos na alegria na paz na
união
 

7.. No dia-a-dia, cuidando,lutando e vivendo,para você, o que pode o amor?
- O amor fraterno pode tudo. O amor fraterno  é a única energia capaz de absorver e transformar todas as outras por mais aniquiladoras e negativas que sejam.Não há muito o que dizer, Jesus já falou e disse a dois mil anos os mandamentos da caridade:
1.    Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua mente.
2. Amarás a teu próximo como a ti mesmo.
Mas conhecedor da fraqueza e debilidade de sua criatura envia para nos iluminar, aquecer o coração e testemunhar estes mandamentos fundamentais e ‘SURREAIS PARA O MUNDO CAPITALISTA”
Nossos mestres do caminho, oxalá não os deixemos passar desapercebidos, sejamos terra boa e fecunda. Fomos escolhidos para vivenciar estas personificações do amor, nosso compromisso não deixá-las passar em vão, pois não sabemos se outras voltarão...
Meu amado amigo de caminhada, meu grande poeta, vc me deu uma tarefa muito prazeirosa, mas extremamente difícil explicar a personificação do amor guerreiro. Creio que escrevi demais e não conseguiu traduzir o que me pediu, desculpe. Mas agradeço-te imensamente por me fazer reprisar 23 anos privilegiados privilegiados de minha vida: Conheci Franca e Amália aos 23 anos. E agora 23 anos depois percebo a guinada que o testemunho delas deu em minha vida.Creio em nossas vidas pois vc as conheceu antes de mim.
Bem meu irmão dou-te a liberdade de descartar este texto, trabalha-lo como quiser ou simplesmente arquivá-lo nas suas memórias, para lermos juntos na velhice.
Te amo do mais profundo da alma e sei que temos um “chamado para cumprir juntos” então caminhemos devagar, de mãos dadas. Augusta

Augusta, nosso abraço... Que na luta pela libertação do povo oprimido sempre a tenhamos amiga e a valentia destemida, um corpo que doa para uma utopia: a dignidade da vida e a ética do bem comum... Seu amor ao povo nos ensina e nos liberta para com ele sonhar... Obrigado, e continemos nossas lutas...


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