domingo, 24 de abril de 2011

DESENOVELANDO CONCEITOS: CUIDADO, CRISE, LINHA DE FUGA E UTOPIA. CAMINHADA-VIDA...

                                                                     Jorge Bichuetti

[ Breve explicação: estas reflexões surgem mobilizadas pela entrevista e conversação que tive com Tânia Marques e que se encontra postada nos seus blogs:
- wwwestudosculturaisemeducacao.blogspot.com
- marquesiano.blogspot.com
Um momento de alegria e ternura que, todavia, me despertou reflexões que assinala aqui; junto com um profundo agradecimento pelo sempre e sincero carinho da nossa amiga Riograndense. ]

                                            CUIDADO E VIDA

Todo cuidado emerge de uma dor, uma lágrima, uma angústia.. Assim, necessita de ser antes de tudo, acolhido; acolhimento terno e inclusivo. Um devir Simeão. Dor partilhada, criação de vínculo e maternagem. Maternagem não protecionismo nem infantilização, é fazer o outro sentir contido e confortável na ralação, sabendo-se aceito e respeitado na singularidade da sua vida e da sua dor.
O cuidado não é um ato que passa furtivamente; é atitude, companhia, caminhada: corresponsabilização e encargo.
É alegria: alegria inventado no entre da lágrima que se seca, da ferida que se cura, da dor e que se alivia...
É bom encontro, onde há escuta e diálogo, onde o outro, não seja posto num canto para que um diagnóstico assuma a centralidade do processo de cuidar.
Cuidamos de vida humana: abordando todas as linhas da vida...
Cuidado é amor, ternura vital, carícia essencial, justa medida, conviviabilidade, compaixão e solidariedade.
Nela, se faz o desmonte dos bloqueios, complexos, atravessamentos, repetições, nos, instituídos,identidades rígidas e inflexíveis, egos...
E potencializa com carinho, com arte e com o brincar, com as experimentações partilhadas o novo: linhas de fuga, devires e acontecimentos. Busca-se bifurcar, ramificar, multiplicar; sair do redemoinho para devir vida-travessia. Flexibiliza e amplia a pauta de conduta e referenciais da existência.
Produz no entre e via os es, a mudança, o novo inusitado. A emancipação...

                          CRISE, LINHA DE FUGA E UTOPIA

A crise é um processo de desterritorialização caótica do status quo, da vida como vinha sendo vivida, dos mecanismos do existir e de um cotidiano que já não corresponde as pulsações desejantes daquela vida.. Crise - é dor profunda, desespero, angústia, desorientação... Vida sem chão...
Ali, também, pulsa virtualidades de uma nova vida desejada e possível...
Cuidar é devir-se ponte entre o velho modo de existir falido e novo que se encontra, no momento da crise, além, entre a dor e o amanhã há um abismo... Cuidar é devir-se ponte sobre o abismo.
A crise gera fenómenos negativos e positivos, reativos e ativos...
Relegá-la a si mesma é brincar de roleta russa...
Cuidar é sustentar a passagem, a travessia, o voo sobre o abismo; num momento de fragilidade do corpo em crise, é empréstimo de vida, caminhada partilhada...
Se já não se pode com a vida vivida, outro vida emerge, se anuncia... Porém, o novo, a mudança e o devir são evitados, negados, vigiados e reprimidos por mecanismos de registros e controle e por eclosões de anti-produção...
Cuidar, então, é anular, suprimir a anti-produção e fomentar a criação de linhas de fuga...
As linhas de fuga são produções desejantes singularizantes e riizomáticas que se não forem agenciadas, correm um sério risco de serem capturadas ou mortificadas pelo sistema das superfícies de controle que perpetuam a manutenção do sistemas e das identidades rígidas e inflexíveis...
Cuidar é agenciar planos de consistência e sobrevivência para as linhas de fuga, linhas de vida nova, que escapolem, driblam, contornam e fluem, materializando-se novas realidades existenciais, longe, ou firmes e sólidas, que não são vulneráveis ao sistema de destruição do novo.
Como o velho mundo carcomido e moribundo, porém, voraz e violento, nos tenta diariamente para que sejamos a normalidade sofrida, de crises catastróficas e dolorosas, vidas limitadas, há que se inventar uma utopia e uma militância, uma causa: amorosa, política, ética e estética, artística, existencial...que fortaleçam os coletivos que vivem o "grande livramento" ( palavras de Nietzsche para traduzir a superação das suas crises pessoais), para estes conectem-se com sociabilidades solidárias, libertárias, alegres, cheias de arte-vida, e, assim, possa, vivenciar e experimentar a potência disruptiva da diferença...
Deste modo, cuidar e reabilitar-se é uma caminhada-vida... Uma insurgência e uma vida rebelde que andarilha encontra um porto seguro e parcerias que antecipam as cores da aurora...


POR UMA NOVA TERRA, POR UM POVO POR-VIR...

4 comentários:

Tânia Marques disse...

Obrigada por mais um presente, você brinda a nossa vida com tamanho esplendor pelo conhecimento que carrega e nos transmite. "Você é luz, raio, estrela e luar". Wando
Beijos da Tânia

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Tânia, a vida me da livros, experiências e paisagens... Os amigos me dão entres onde fluim vida e pensamentos. Onde estávamos índios, eu minhas paixões ancestrais. E me alegro de tê-la como amigo; embora, tenho que dizer que os amigos da Upop disse que estou velho, a conhecem pelo teatro de rua, num video mais antigo.
Morri de inveja; boa inveja,
Abraços com ternura, Jorge

Tânia Marques disse...

Jorge, é a primeira vez que faço teatro de rua, não deve ter sido eu não. Também não apareço naquele vídeo, não! Deve ter sido engano dos amigos da Upop. Beijos

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Tânia, taí, devem ter confundido, pois, me falaram de uma intervenção de 3 anos atrás. Abraços, querida, muitapaz, Jorge