quinta-feira, 21 de abril de 2011

DIARIO DE BORDO: AS CHAGAS DA MINHA ALMA...

                                                                       Jorge Bichuetti

Choro, mansinho... De alegria, ternura e serenidade. Recordo Marina:... " mas tendo meus amigos por perto; eu acho que não fica tão mal."... O quintal celebra o desabrochar de um novo cacho de rosas; único, esplendoroso.. singelo e frágil... uma doçura menina num mundo agreste.
Os álamos festejam o dia, escutaram reverentes as badalados dos sinos...A Lua dorme, suavemente, entre anjos e visões proféticas...
Eu reflito, penso, escrevo... Toma meu café quente; meu anti-hipertensivo e os remédios para as diversas e democráticas alergias.
Meus tesouros: os amigos, as utopias, as lutas e as caminhadas, as revoluções moleculares... os livros - filosofia, política, literatura, poesia, saúde mental, educação, arte... Um romance, um tratado filosófico, um livro envelhido e as revistas da culinária que o tempo não dilui... Outros tesouros: Fernando Pessoa, Cartola, Ivone Lara, Clementina, Nana, Chico Buarque, os Baianos, Zeca Baleiro, Elis, Beetowem, Tchaiicovsky, Vivaldi... Quantas canções...
Como todo humano trago minhas chagas, feridas abertas no corpo: corpo-corpo-sonho-corpo-utopia... Um rizoma de viver e fazer viver... E ali algumas chagas...
Saudade, de mim, dos outros e do que ainda não sou...
O muro na face da minha alma, que lacrimeja e chora; depois, se repõem e recomeça o perambular, o lutar , o resistir...
As marcas da opressão e da exploração, da exclusão e da estigmatização: sangram. E se mantenho minha valentia, descubro que a vida tudo recompõe..
Temos nossas chagas, individuais e coletivas... Corpo tatuado pela vida...,
Ah! como são belas as minhas cicatrizes!...
Só não chagas que não caminhou, não lutou, não ousou, não emprestou seu corpo pelas causas da vida...
Se demoramos na contemplação das nossas chagas, acomodamos, cruzamos os braços, desistimos...
De corpo e alma feridas, persistamos... O horizonte e a aurora são nossas destinação antropológica...
O velho e sábio Tagore: se vires minhas chagas, verás minhas cicatrizes e terás a certeza que na fragilidade do humano cai; porém, na ousadia e perseverência dos sonhos e das utopias, me reergui... Assim, narra nossa vida No Evangelho segundo a sabedoria das cicatrizes...
Não desejemos o perfeccionismo; nem busquemos unanimidade...
Concentremos nossa potência no ser útil, não parasitário; no ser peregrino, não vegetativo; no ser ousadia inventiva e partilha solidária, não vida discursiva nas redomas da acomodação...
A vida é um persistente recomeçar... A vida é perene renovar-se... A vida é um disruptivo transmutar-se...
A vida não é preguiçosa, nem anda nas passarelas das palavras vazias divorciada da caminhada efetiva pela libertação.
Chagas, cicatrizes - são frutos inerentes aos que andarilham desbravando o porvir...


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