quarta-feira, 20 de abril de 2011

DIÁRIO DE BORDO: POR UMA NOVA SUAVIDADE...

                                                    Jorge Bichuetti
Os sinos badalaram a música das devoções humildes, dos homens e mulheres que madrugam e enfrentam um longo dia de trabalho, angústias e preocupações... Eles- o povo - se vêem violentados, diariamente.. A fome, a dívida, a doença, a solidão... A tosse, a as dores... e um trabalho exaustivo que nunca lhes dão o necessário, mas seguem, labutando e sonhando, sonhos singelos do nosso povo humilde.
A minha Lua dorme... Não sei como consegue a plenitude da ternura num amor sempre leal, coerente, cúmplice e solidário... Não suportando o sono, veio dormir do meu lado... Abraçou ternamente sua boneca, e voltou a dormir... Com um olhinho meio aberto, esperando estar de prontidão, caso dela eu necessite...
Eu aqui dialogando... Escrevo como se estivéssemos no fundo do quintal, contemplando a altizez dos álamos e a candura das samambaias... verdes e simples... sempre presentes.
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Somos uma sociedade: sociedade de amigos... amigos do porvir, da libertação, da solidariedade... amigos dos Direitos Humanos, do direito à diferença... amigos da inclusão social... do alvorecer do novo, o tempo da delicadeza, a vida numa nova suavidade...
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O devir Don Quijote não me deixa... me assombra... ou melhor é a minha sombra na caminhada.
Sonhando, pensei... Como seria belo um grande encontro... Nos, utopia ativa, em setembro na primavera, juntos no III Congresso de Esquizoanálise e Esquizodrama... Em novembro, de novo, juntos, nós e as Madres... juntos no Congreso Internacional de Salud Mental y Derechos Humanos...
Será a solidão da madrugada que me leva a estes devaneios?... Penso que não, os sinto tão perto...
Penso que é o desejo de celebrar e partilhar o que experimentamos e vivemos nesta cotidiana conversação... Como eu cresço!... Como eu me fortaleço!... Como aprendo, me energizo e vejo novos horizontes...
Assim, abuso da liberdade e atrevido os nomeio: meus amigos do coração, meus companheiros de jornada...
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( A lua se movimenta nos seus sonhos como se nos ouvisse e já revelando seu desejo de estar junta nestes deveneios que são expressões lógicas de uma realidade maior: a realidade do que sente e vive um coração.).
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Hoje, aqui, neste diário, quero registrar duas leituras antigas mas que se tornaram novas no ofício de educador; pois quando as recordei, me senti mobilizado a dar mais intensidade e alteridade à minha existência...
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Gabriel García Maruez: " Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se."
Estar do lado, transversalizar nossas relações, devir-se solidariedade, humildade, gentileza, leveza e lealdade... Como me parece necessário para que tenhamos novos alvoreceres, combater nossa onipotência, nossa petulância, nosso autoritarismo, nossa mania de donos da verdade e juízes da vida alheia...
Comprender, ajudar, dar-se, construir... Afirmar a vida...
Alegrar-se, sonhar, voar...  Florescer o caminho.
Caminhar, mirando o horizontee só olhar para o outro, de cima para baixo, quando o amor nos leve a ação de levantá-los...
É o mesmo que fala Deleuze no texto "Crítica a um crítico severo", diz:  " não quero ser má consciência do mundo."
Este texto que está no livro Conversações, muda nossa vida...
É um grito pela amizade, pela generosidade, pela nosso olhar transmutado abandonando a mania de ser um mesquinho e parasitário juiz da vida alheia, para devir-se suavidade e caminhar, longe do vil, perto da vida que é amor responsável, questionamento revolucionário, pulsação inovadora...
Vida audaciosa que trabalha, caminha, luta, desbrava junto com os oprimidos, e não para eles, um alvorecer de liberdade, singularidade, vida remoçada na partilha e vida reinventada na força-potência da solidariedade...
Nós, vidas, que perambulam por uma nova suavidade...
Nós - vida, paixão e ressureição da utopia da mudança, do amor plenificado num social de justiça, festa, seresta, pão multiplicado... paz, o fim da escuridão..


2 comentários:

Tânia Marques disse...

"É um grito pela amizade, pela generosidade, pela nosso olhar transmutado abandonando a mania de ser um mesquinho e parasitário juiz da vida alheia, para devir-se suavidade e caminhar, longe do vil, perto da vida que é amor responsável, questionamento revolucionário, pulsação inovadora..."
O quão difícil isso se estabelece para as pessoas que nutrem o mal alheio, para aqueles que não têm a mínima noção de responsabilidade com o outro e com si mesmo, para aqueles que fazem da mesmice do dia a dia uma derrota conformista. Salve as mentes puras...salve!

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Tânia, este e o do fascismo escrevi pensando nas nossas caminhadas... via crucis de uns guerrilheiros do amor.
Não nos dão trégua: felizes os persiguidos por amor...
Abraços com carinhos e insurgências, Jorge