sábado, 28 de maio de 2011

POESIA: ASAS DA SUAVIDADE

                                           O RIO
                                                   Jorge Bichuetti

O rio caminha vagaroso, lento;
vai distribuindo o húmus da vida
pelos canteiros da terra...
Generoso, multiplaca e doa seus peixes,
amenizando a fome dos famintos
que nele encontram o solidário pão...
Com ternura, suas águas cristalinas
e a seiva das flores e dos passarinhos...
Ele segue devagar irrigando matas,
samambais e ervas daninhas....
Amor ilimitado a todos se doa
numa apoteótica solidariedade
e num singelo brincar com bichos e meninos...

Ele ama e não teme seu destino;;;
Vagaroso segue, nunca se apavora,
não titubeia nem se desarvora:
De mansinho, ele busca seu ninho,
o abraço da paixão serena e cálida:
ele, suavemente o espera o mar;
e no vai-e-vem das suas ondas,
o amor o espera eternamente...


                                            LÁGRIMAS, FLORES E PASSARINHOS
                                                                                       Jorge Bichuetti

Há no meu canto um rio de lágrimas.
Elas brotaram da vida e dos meu tresloucados destinos,
vieram de paixões soterradas pelo tempo e de alegrias
que me trousseram o vagabundear dos ventos...
Hoje, elas minam na minha face e nunca sei ao certo,
se são dores amanhecidas ou se risos despertos
pelas banais lembranças da vida trigueira
que segui com a relva verde e os meus passos de menino...

Há na melodia dos meus versos  as flores,
das primaveras vividas nos braços do amor
e das primaveras vividas na solidão habitada
pelo inebriante perfume das flores vadias
que nedram nas margens da estrada, coloridas e faceiras...
Tenho no meu peito todas as flores do mundo:
flores de louvor, flores das loucas paixões,
e as silenciosas que no escuro das noites vazias
me inspiravam na caminhada da poesia... Flores:
estrelas do céu perdidas no cascalho estradeiro da própria vida...

Há passarinhos, livres, cantantes, uns meninos de  lares distantes
que chegam e pousam no meu coração, assobiando as mesmas
Aves Marias com quem meu pai adormecia meus medos e
despertava meus sonhos... Assim, hoje, entre, eles, os passarinhos,
eu já nem sei... se eles cantam para que eu nunca perca meu canto
ou se eu canto, madrugadeiro, por já ser um deles...

Assim, nasceu, um dia, o poeta de lágrimas, flores e passarinhos...
E assim, num dia que chegará sem prévio aviso, eu partirei
entre lágrimas flores e pasarinhos... E o chão silencioso dos meus descaminhos,
rezará carpiteiro e misericordioso a minha última Ave Maria...


                                       SONHO DE MENINO
                                                                       Jorge Bichuetti

a manga madura no alto
                          estrela
          cheirosa
         apetitosa
cobiça meus olhos e a
           saliva
cai
      desejando o vento
minha boca espera
                         no ar
sonhando: sonho de menino...

agora o vento atiça outros
             sonhos
              folhas
do tempo no tempo
rascunhando amores
                          no alto
                          estrela
a sensualidade apetitosa
               paixão
                sexo
                     no ar
sonhando - o amor perfeito
                           na poesia
novamente u'a utopia no alto
vista do chão pelos olhos do menino...


                                         HAIKAIS DA PAIXÃO SUAVE
                                                                                       Jorge Bichuetti

   a  natureza é 
a paixão louca nascida
no adeus do luar...

um carinho nasce
na pele dulcificada
por um terno olhar...   

a rosa ama o jasmim:
desencontro natural,
só o espinho chora... 


 PAIXÃO
Jorge Bichuetti   

Sofre-se de paixão,
dor banal... Ela não
é florescência e vida
que suporta o tempo.  
Só o amor-suavidade
não rodopia no vento... 

      

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