segunda-feira, 27 de junho de 2011

BONS ENCONTROS: JOÃO CABRAL DE MELO NETO,; A VOZ DO SERTÃO NORTESTINO

         O luto no Sertão
                   João Cabral de Melo Neto
 

Pelo sertão não se tem como
não se viver sempre enlutado;
lá o luto não é de vestir,
é de nascer com, luto nato.

Sobe de dentro, tinge a pele
de um fosco fulo: é quase raça;
luto levado toda a vida
e que a vida empoeira e desgasta.

E mesmo o urubu que ali exerce,
negro tão puro noutras praças,
quando no sertão usa a batina
negra-fouveiro, pardavasca.


                                  *****
"Mesmo sem querer fala em verso
Quem fala a partir da emoção"
                               João Cabral de Melo Neto
                             ***** 
             [Tecendo a Manhã]
                  João Cabral de Melo Neto
 

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galo


Nenhum comentário: