quinta-feira, 23 de junho de 2011

DEVIR E A MORTE DO EGO

                                       Jorge Bichuetti

No dia-a-dia, idolatramos o ego; e não são poucas as correntes , na terapia,  na filosofia e nas práticas sociais, que lidam com a intervenção do cuidado, reforçando o ego. Percebem a dor e a angústia, a fragilidade humana vinculadas a ego enfraquecido. Assim, o hipertrofiam, o tornam robusto e sólido.
As dores e a própria impotência, passividade e vulnerabilidade, nascem da tirania do ego, que inibem e suprimem as potências inovadoras do devir.
O devir - vir-a-ser... Novo modo de ser e estar; a emersão na vida da diferença não-atualizada...
Nietzsche dirá que o devir é o ato de se parir os nossos eus  não-nascidos.
O ego é uma cristalização narcísica e edípica da subjetividade forjado nos primeiros anos de vida e que , tiranicamente, passa a governar nosso psiquismo, como um núcleo soberano, único e totalizante.
A vida é mais...
Somos mais...
A essência do mundo e da vida é a mudança, a impermanência, o novo, as singularizações e a multiplicidade que nos permite viver, num permanente processo de se fazer, desfazer-se e refazer-se...
Somos metamorfoseantes...
Nenhuma restrição eterna; nada nos é impossível... 
O mundo gerado pela subejtividade, nucleada no ego, é um mundo falido... Um mundo de competição, egoísmo, triangulações e de normatizações evitativas do novo.
Um mundo paranóico e fóbico... Um mundo depressivo... Um mundo de desvalia e impotência...
O processo de construção do ego maduro é um processo de supressão das nossa potências que negados, permanecem vegetativas no inconsciente... E nossa vida fica reduzida as fragilidades de um ego que suprimiu a criança, o louco, o artista, o guerreiro, a mulher, o animal, o vegetal, o mineral, o anjo... Linhas da vida, multiplicidades, que suprimidas nos fragilizam na capacidade de resistir e reinventar o caminho.
O apego ao ego é o apego à vida centrada no nosso umbigo... com a perda do que podemos viver e experimentar, reinventando-nos... como redes, rizoma, de multiplicidades, eus- não-nascidos que sendo paridos amplificam nossa potência de existir e amar.
A neurose - dor universal - é na realidade produto do ego tirânico que se cristaliza e evita o estradear, com a vida remoçando e se reinventando na potências dos encantos e magias do existir onde brotam, disruptivos, novos modos de ser...
O ego nos aprisiona e nos limita... nos restringe e nos desqualifica para as vivências do cotidiano de uma caminhada.
Com ele, amamos, alienados, do manancial de ternura que está evitado e suprimido, num eu não-nascido...
Com ele, vivenciamos a opressão, a dominação, a violência e a exclusão, alienados, do que guerreiro que está suprimido e evitado num eu não-nascido...
Com ele, ficamos sisudos, ranzinzos e cinzentos, pois não manuseamos a capacidade de brincar do devir criança que permanece, igualmente, suprimido e evitado num eu não-nascido...
A vida é fonte de alegria, ponte para o porvir...
A vida é floradas do amor, voos da poesia e do sonho...
A vida é partilha e solidariedade, mãos dadas e companhia, doação e cumplicidade...
A vida é liberdade...
Não somos  a incapacidade para a vida, nem os predestinados à angústia e ao fracasso...
Não potencializamos nossa capacidade de viver, experimentar, amar, brilhar, sonhar e voar... por um simples motivo: vivemos aquém do podemos... só vivemos nos limites do ego.
Mas, a alegria e o amor, a vida plena moram nos movimentos intempestivos e inovadores do devir, do ser metamorfoseante, no ser um corpo aberto ao novo e à mudança; no ser alguém que não aborta os seus eus não paridos.

6 comentários:

Anne M. Moor disse...

Jorge
Texto lindo, didático e que nos faz pensar! Quando dizes:
"...como redes, rizoma, de multiplicidades, eus- não-nascidos que sendo paridos amplificam nossa potência de existir e amar."

e

"no ser alguém que não aborta os seus eus não paridos."

É de certa maneira tirar o nariz de dentro do umbigo própria, olhar e enxergar a nossa volta, mas ESPECIALMENTE, 'parir nossos eus' reinventados. E aprendi na caminhada que é essencial que nos permitamos fazer isso, e igualmente aprender a nos perdoar e perdoar tanta coisa que as vezes nem sabíamos ou sabemos que precisam de nosso perdão para nos liberar no porvir!

Êta vida trabalhosa mas tão boa!!!

beijão
Anne

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Anne, me encanta sua fecundidade vital - vida-estradeira que percorre os caminhos aprendendoe ganhando asas de borboletear na alegria de ser... o existir floral. Abraços com carinho, jorge

Anya Piffer disse...

Olá Jorge,
Surpreendente! Ontem e hoje refletia sobre isto...

"O processo de construção do ego maduro é um processo de supressão das nossa potências que negados, permanecem vegetativas no inconsciente... E nossa vida fica reduzida as fragilidades de um ego que suprimiu a criança, o louco, o artista, o guerreiro, a mulher, o animal, o vegetal, o mineral, o anjo... Linhas da vida, multiplicidades, que suprimidas nos fragilizam na capacidade de resistir e reinventar o caminho".
"Mas, a alegria e o amor, a vida plena moram nos movimentos intempestivos e inovadores do devir...no ser um corpo aberto ao novo e à mudança..."

E postei no meu blog http://elanianovosrumos.blogspot.com/p/textos.html

Abs

Anônimo disse...

Jorge,senti seu texto como um pensar sistemico,circular,com neuronios espelhos nos bloqueando ver,observar a simplicidade do essencial.
Acredito na necessidade de atualizar o ego sempre.
Assim,a metamorfose se torna provedora
e traz consigo o devir brilho renascimento.
Meu abraco carinhoso,
Maria Eugenia

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Elamia; irei ver o seu blog: espero que a gripe me tire hoje da cama; tenho dificuldades de trabalho no noot... ele fosse das minhas mãos.
Abraços com carinho, jorge

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Maria Eugêncio, valiosa e poética definião; o ego que se atualiza redimensiona o sistema: a roda gira e nos rodospios da roda, caminhamos, abraços ternos, jorge