quarta-feira, 29 de junho de 2011

DIÁRIO DE BORDO: NO AR, A ESPERANÇA CANTA O SOL DE UM NOVO DIA...

                                           Jorge Bichuetti

Céu estrelado, com neblina... Luar discreto entre nuvens... A vida é sempre bela. O quintal dorme quieto, com cuidado me aproximei da roseira e lhe disse uns versos... Elas sempre são a fonte do amor e quase nunca as amamos. Os álamos queriam acordar, custei adormecê-los, de novo. é noite alta, a aurora ainda tarda... O silêncio me parece um espaço da ternura quando nossa alma anda sossegada. Luinha ficou, o frio não convida... é acolhedor a manta e o  cobertor. Escuto o disco Batuque, a voz melodiosa de Ney. Contudo, o frio me leva a pensar no povo da rua... As fogueiras de jornais, com as manchetes queimando, e deixando as cinzas do papel e o cinzento das muitas desesperanças fotografadas pelos colunistas da notícia, não servem muito nos dias de vento gelado.
Aliás, os jornais não conseguem nos dar algo diferente do que o que temos criado no mundo. O mundo anda gelado. Gelo no corpo, gelo na alma...
... Mas há outro mundo. Um mundo onde nem o vento gelado apaga as centelhas vias do amor solidário.
Há um outro mundo de poesia e ternura... Há um mundo de sonhos... Há uma vida que teimosa tenta amanhecer...
Muitos amigos, acostumados com o jornalismo e o seu positivismo subserviente às elites dominantes, me dizem: há, sim; mas é muito pequeno... Um mundin...
Já não ando com o ânimo que tinha na juventude de tudo ouvir, paranoicamente. Não me sinto ofendido.
Recordo que a vida me levou, sem que eu desejasse, à condição de professor de metodologia científica... Trabalho o qualitativo, Deleuze e a investigação do conhecimento... E ai me tristeza nem chega; logo, encontro Gabriel Tarde... Para ele, o movimento da vida social não era definido e condicionado pelas cifras matemáticas majoritárias... Dizia que se desejamos saber os rumos da vida, devíamos percutir e escutar o que passa na periferia dos acontecimentos. Nas linhas minoritárias pulsam o devir, o porvir... o que será do amanhã e no amanhã...
Betinho era um, um sonhador... Identificou-se com o beija-flor que carregava gota a gota sua doação de água para  apagar o incêndio da floresta; crendo que cabe a cada um a sua parte... E Betinho devindo Beija-Flor mudou a cara e os caminhos do nosso país...Hoje, podemos vegetar no nosso egoísmo; mas, o canto da solidariedade soa forte e logo nos desperta... Podemos recusar o chamado, porém, minuto a minuto, a vida consegue dizer: não duvidem, egoísmo é abismo mortífero, eu -vida - voo e vou nos ventos da solidariedade que arejam o ar e o coração do mundo.
Onda, marola... Não é o tamanho que diz do valor do novo, é sua potência de nos despertar ser do amor e da ternura, ser da partilha e da utopia...
Não sejamos surdos e cegos: o amor e o sonho de esperança e paz, liberdade e justiça social pairam no ar...
Aqui, um grupo de economia solidária desnudam a exploração capitalista e revela o que pode a vida quando a vida acontece nos caminhos da partilha...
Ali, um grito de liberdade denunciando os terrores da morte que cavalgam inclementes nas costas da exclusão e do fascismo...
Acolá. alguém abraça e acaricia... e atá as estrelas e o luar escutam o que pode um gesto de carinho e de afabilidade...
Eu não escuto o vozerio rabugento dos que pedem números e cifras...
Eu canto com mos nossos velhos e sempre joviais poetas:
- " somos homens comuns, mas podemos construir uma muralha de sonhos e margaridas. " ( F. Gullar)
- " aos que atravancam meu caminho, minha certeza: eles passarão, eu passarinho..."( Mario Quintana)
E, assim, seguimos... entre pedras flores. Entre o abismo e o amanhã, o sonho. E nas asas dos sonhos haveremos de lá chegar.


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