sábado, 25 de junho de 2011

DIÁRIO DE BORDO: O VALOR DE UMA VIDA...

                                                    Jorge Bichuetti

Madrugada. O frio já não me impede de ver meu quintal... Aspiro o cheio do orvalho umidificando a terra e pressinto a alegria das sementes. Os álamos bailam, suavemente, como se ouvissem uma sinfonia de Tchaikovsky e ritmassem o próprio destino. Agradeci o limoeiro pelos chás dos últimos dias... A roseira quis me mostrar seus novos cachos... Os passarinhos ainda dormem... Os pressinto perto. A Lua, minha pequena, está toda animada... Andou com responsabilidade de gente grande. Não saiu do meu lado nos últimos três dias...
O céu estrelado é um convite às grandes meditações... Esplendorosa, conta a história dos milénios... e a história de outras eras...
O céu e as estrelas são depositários de enigmas e vaticínios; ali, a vida parece estar desenhada...
No céu, vemos o infinito... No céu, sentimos o intocável... No céu, pressentimos a vida pulsa e movimenta-se e caminhando semeia o porvir...
A vida gosta mesmo é de fazer viver...
Nascemos, crescemos, reproduzimos, morremos... Mas, nem sempre vivemos...
As ervas daninhas vivem... cumprem sua função e sustentam a fertilidade do solo, integradas no ecossistema que as acolhem... São teimosas e perseverantes; não desistem... Brotam na aridez da terra surrada e a renova...
E nós?.. que vida fabricamos no dia-a-dia?...
Consumimos, acumulamos, desfrutamos... porém, frequentemente, vivemos somente para satisfazer nossos próprios interesses.
O humanidade crê que o universo gira e se move para o seu deleite...
O ser humano, na especifidade da sua vida particular, tende a crer que o universo e a humanidade são seus subalternos serviçais...
O valor de uma vida se dá pelo valor que ela agrega ao próprio corpo da vida.
Para o universo, uma vida é uma peça na máquina de produção da engenhoca do existir, do existir de todos, do existir da humanidade, do existir do próprio universo.
Não se trata de subestimar nossos sonhos particulares.
Nem de nos culpabilizar pelo que fazemos por nós mesmos...
A questão mora no que não fazemos pelo outro e pela vida; mora não ausência de sonhos que tratam de pensar e desejar a beleza e a harmonia, a sustentabilidade e a fecundidade da vida e do universo no seu girar e mover-se que é um girar e mover-se pela vida de todos.
Buscando saber o nosso valor para a vida e para o universo, pesquisemos: o quando de tempo, energia, pensamento, emoção e dinheiro gastamos para o suprimento do nosso próprio ego e quanto gastamos pelo bem comum... Indaguemos, observemos... e nos descobriremos parasitas da vida.
O capitalismo pode nos iludir... O reino das mercadorias e do dinheiro é dominante; e assim o mundo vê e nos valoriza... pelo muito que temos acumulado no campo dos valores de troca...
Já a vida nos vê e procura nosso valor de uso, nossa serventia, nosso papel na construção do destino solidário e amoroso, necessário para que ela vida se plenifique como fonte de alegria e de paz para todos...
Reflitamos e busquemos servir, auxiliar, partilhar, cuidar, amar...
Antes que percebamos que as ervas daninhas fazem mais e melhor pela vida do que fazemos na nossa vida de egoísmo e narcisismo...

2 comentários:

Paulo Francisco disse...

¨As ervas daninhas vivem... cumprem sua função e sustentam a fertilidade do solo, integradas no ecossistema que as acolhem... São teimosas e perseverantes; não desistem... Brotam na aridez da terra surrada e a renova...¨

A natureza em seu equilibrio perfeito. Nós, naturalmente, somos parte integrante desta natureza perfeita. Somos?
Um abraço.
Adorei o texto.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Paulo Francisco: nós a sucateamos, danificamos e seguimos adiante como se não fosse nosso as dores que nascem da ossa inconsequência. Atá o tsunami... Abraços ternos, jorge