terça-feira, 28 de junho de 2011

DIÁRIO DE BORDO: TEMPOS APOCALÍPTICOS... ONDE VERDEJA A ESPERANÇA...

                                                   Jorge Bichuetti

Madrugada. Silêncio... Tudo dorme. O frio acolhedor e com invisíveis acalantos mantém o sono; a vida sonha... Lá fora, o vento frio não anula a beleza do céu estrelado... porém, a pele arrepiada e o coração acelerado, pede calor. Olho com carinho o verde e suas sombras, o céu e suas miragens... Na solidão da noite, pensamento voa. Relembro canções e poesias; e uma e outra, muitas conversas...
Quase sempre, alguém aborda as profecias que assinalam o fim. De Nostradrammus aos maias; de João, o Evangelista, ao paladinos da era de aquarius... sempre uma citação, um dado das místicas e dos estudiosos da ecologia: o fim é dado. Mil chegará, dois não passará...
De fato, o aquecimento global, a corrosão da camada de ozónio, a poluição, o lixo, o desmatamento... As guerras, a violência urbana, o lixo da miséria e a miséria do lixo... Se seguimos no caminho percorrido, inegavelmente, se cumprirá os escritos nas estrelas... e o fim da Terra assinalará a falência do projeto do homem de saber que construiu um mundo de desenvolvimento baseado na exploração canibal e vampiresca da natureza e dos outros homens, sucateados pelo trabalho exaustivo e alienado, e socialmente, criamos uma sociedade de exclusão, competição, violência e individualismo narcísico. Um mundo de egoísmo e desamor...
Tsunanimis, maremotos... explosões vulcânicas... Seca e inundações... A Mãe Gaia já deu o seu basta...
Na vida humana, a solidão, o sofrimento mental, a violência cotidiana, o vazio e a tristeza... um lago de lágrimas e crostas e cicatrizes que fecham revelam o quão insuportável a vida se tornou.
De um lado pessimistas, anunciam catastróficos o fim; do outro, otimistas, sonham com a reversão...
Onde fico?... O que penso?... Meu coração voa e sonha nos ventos da esperança que assobiam, diuturnamente, as lições do recomeço.
Creio na vida e na humanidade... Mas, não sou ingênuo, sei que se não mudamos a rota do nosso destino, não evitaremos o abismo dantesco.
Eu creio na esperança... pois, sinto que todos nós já não desejamos a vida de destrutividade que nos fez tristes, ansiosos e solitários. Creio na esperança porque sinto nos olhares do homem e da vida uma profunda sede de amor, justiça, paz e vida de ternura e mansuetude,
Não podemos apagar nossa história;mas, podemos mudá-la, dar-lhe novo rumo e redimensionar nossas próprias vidas.
Contudo, não olvidemos: a esperança verdeja nos campos férteis da solidariedade.
A solidariedade é o amor em movimento...
Ela é partilha e cumplicidade, carinho e ternura, doação... É a nascente dos vínculos alegres; e é a sementeira das florescências de paz.
Com ela termina as velhas dicotomias e contradições: eu é o outro; o meu e teu; os proprietários e os despossuídos...
A solidariedade é o vento da esperança que tudo mistura e efervescente tudo remoça... e dele o eu e o tu e o ele desaparecem e emerge o generoso e cuidador nós...
Nossas lágrimas...
Nossos problemas...
Nossas crianças...
Nossas matas...
Nossas dores...
Nossos sonhos...
Nosso verdejar de esperança, no amor que redimensiona e liberta , liberta a vida dos domínios da exploração, da opressão e da mistificação... e a liberta para que ela se plenifique numa sociabilidade solidária de suavidade e candura, de matas verdejantes e riachos cristalinos, de poesias e cirandas, risos e festas... Um nosso tempo, um novo mundo onde ressuscitaremos as sementes do porvir, guardadas pelos deuses, nas dobras encantados dos sonhos.

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