domingo, 31 de julho de 2011

ENCONTRO ENTRE A POESIA DO LUAR E O CANTO DAS ESTRELAS - MÚSICAS DE MARCELO TAYNARA

pilão
        macerado
lua e estrelas
        na fornalha
o amor...

no caminho
                 peão
rodopios no ar
a paixão
                 trisca
                 reluz
fuzível na escuridão,
chamas floração... jorge bichuetti


meu sonho
                  menino
voa
        no azul
           se aninha
                     onde
os anjos
        cantam
            louvação
                    ponte
entre a viola e os estalidos estelares
                 amor
                floreio
na lua... na rua... nos quintais... 
                     jorge bichuetti


milharal:
            romaria
verde,
               fé
de mãe -
    amor-menino,
    viola celestial. 


                           jorge bichuetti



AVE, MARCELO TAYNARA!... CANTO DA TERRA ORVALHADA NA SAUDADE VERDEJANTE ONDE OS PÁSSAROS ECOAM AS VOZES DAS FLORES ASTRAIS...

UNIVERSIDADE POPULAR: CLAMORES DA VIDA

                                       Jorge Bichuetti

Amigos, o processo de construção da Universidade Popular Juvenal Arduini caminha e  voa... desbrava horizontes e na caminhada, redesenha a poética do existir e a magia dos sonhos.
Upop-JA - um espaço público não-estatal, de todos e para todos... A educação em movimento pela libertação.
A iremos inventá-la juntos... na estrada.
Queremos convocar a todos para as atividades de agosto:

Dia  9 de agosto - às 19:00 - Grupo de Estudos da Obra de Juvenal Arduini. 
Rua Capitão Domingos, 1079. Bairro Abadia. Uberaba, MG.
Obs: no momento, estudamos os livros - Ousar para reinventar a humanidade e Estradeiro.

Dia 13 de agosto - às 13:30. Encontro Mensal da Upop-JA
Av Nossa Senhora do Desterro, 545. Creche Coração de Maria, Bairro Jardim Esplanada, Uberaba, MG.
Cursos - Marxismo; Desistitucionalização; Cuidado; Ecologia.
Oficinas: Arte; Ética; Jornalismo  no social; Como trabalhar com o povo
Cineclube..

Contamos com a sua presença... Juntos vamos parindo no sonho uma nova vida...


DIÁRIO DE BORDO: ÊTA, MUNDIN... E LÁ FORA A IMENSIDÃO...

                                                    Jorge Bichuetti

Lua no céu; Luinha no meu colo, cheia de carinho: amor reconciliado. Ela, não deixa por menos, é um cãozinho danado de genioso...Mas, terno, não resiste a um carinho. No quintal, miro o infinito e tentando ver longe, como se meus olhos fossem o olhar dos altivos álamos, me sinto próximo do luar e das estrelas... A roseira se prepara para novas floradas... O limoeiro e o romã tão vaidosos me mostram seus frutos... A natureza encanta e nos dulcifica... Todavia, ela também nos pede que pensemos na imensidão... Olho, de novo, o infinito e comparo com o glorioso mundo globalizado que críamos com guerras, mortes, tecnocentrismo e anulação da palavra singular... da vida de risos e folguedos das crianças; das paixões intempestivas dos jovens; da sabedoria prosaica dos velhos... Excluímos a vida para gerar um mundin... um mundin que cada vez mais cabe na nossa mão, mas deixa um grande vazio no nosso coração.
Êta, mundin... Que mundin é esse?...
O mundo que vivemos é um mundo de ilusões, delírios e alucinações coletivas... Cremos que vencemos barreiras e distâncias, que nos tornamos cultos e universais... e que, agora, definitivamente, miséria e fome é preguiça...
Ilusões...
Na Internet, no celular, na multidão cremos que somos muitos... muitos amigos; porém, se choramos, nossa lágrima amarga a ausência de um ombro amigo...
Temos excesso de informação e vazio cultural... Pela Internet, vejo e escuto tudo, o conhecimento, agora, é universal e ilimitado...
Talvez, seja um velho saudosista: mas, queria neste domingo, estar um sarau aconchegante... ouvindo a poesia de Terezinha Hueb e Jorge Nabut, junto aos quadros de Jammal, Celía e Siqueira... surpreendido por uma instalação de Demilton... e voando nas asas do Voz Do Cerrado...
Sinto falta de cultura... num momento de abundância de informação...quero cultura nomeada na pulsação visceral da vida reencantada pelo belo da arte e da magia do sonhar...
Que mundin é esse? não existem crianças; já se nasce pré vestibulandos... os jovens são silenciados nas suas singularidades... e o velho é chamado para o lugar da incapacidade...
Ontem, vivíamos a sociedade disciplinar, estudada por Foucault. O urbano excluía  mediante a segregação asilar; hoje, na dita sociedade mundial de controle temos que foi nomeado como inclusão diferencial... Não estamos fora; porém, não somos iguais ... Criou-se vida líquida e invisibilidade...
Modos de excluir... anulando a singularidade das pessoas e dos encontros... Todos podemos estar...  Porém, sem solidez... desmanchamos no ar... Porém, sem visibilidade... Somos click's...
Ah! que saudade do tempo onde a vida era nomeada, os encontros celebrados, as vidas pulsantes e de brilho estelar...
Um outro mundo é possível e necessário...
Escutemos os clamores dos jovens indignados que acampados nas praças espanholas disseram para o mundo: viver é a arte de inventar-se no entre dos encontros...

POESIA: CAMINHOS E DESCAMINHOS; MAGIA DO LUAR

                            ESPERO
                                      Jorge Bichuetti

Espero na sarjeta
a mola do salto e a
sacola. Fuligem do tempo
onde entre a dor e e a flor,
eu parto...

Sentado, espero...
Não percebo a m'ia
invisibilidade. Lasca do tempo,
onde na lacinante dor do amor,
eu me parto...

A espera silenciosa
não me retrata: eu,
despetalada flor...
pustulenta dor...
fuligem e lasca
da vida 
que já passou...


                         NÃO ERA ASSIM
                                       Jorge Bichuetti
A vida era florida:
flores na janela,
flores na lapela
nos sonhos que passeavam
pelas praças
de flores nos canteiros
onde a vida escutava
os sinos 
e as promessas do eterno amor...

Não era, assim...

A vida, agora, anda
congelada;
no jornal que aquece
o corpo caído no beco,
o corpo decaído no oco
das cinzas fumegantes
de uma  e outra
morte banal...

Não era, assim...

A vida rodava alegre 
e era oratório no Natal...
folia no carnaval...
A vida era feita de magia;
agora, o pesadelo
está no trono
e tirânico decretou:
a banalização das flores
já que elas só são fadas
onde se pode sonhar...


                    A REVOLTA DA FLORES
                                           Jorge Bichuetti

No ar, o vento escuto rumores:
as flores querem voltar e não
irão aceitar serem incineradas
no cru asfalto, no nu descaso,
na proibição do sonhar...

Elas, cheirosas e feiticeiras,
tomarão o poder e, assim,
voltará a magia do luar e a
poesia dos enamoradas que
viverão de sonhar...

Ah! a vida irá mudar e o
chão bruto e árido não 
mais impedirá a aurora
da vida remoçada no
florir e sonhar...


SOCIEDADDE DE AMIGOS: JORGE ALBERTO NABUT E A VIDA VERSADA NA LAVRA DO CONDOR

                      CEMITÉRIO-CAMPANADOS

semi-interno sou
no sêmen semântico
dessa ode onde
tomo como suco diário
pingos de velas de cera
ó que tanto corpo semeado
nos canteiros
de dentro deste portão

pedras arriadas de rochas
                      antigas
purificadas no murado
terreno de transição

        JORGE ALBERTO NABUT

do livro: a poesia em uberaba / guiddo bilharinho

MESTRES DO CAMINHO: A HUMANIDADE POÉTICA DE CECÍLIA MEIRELES

                                       REFLEXÕES:

- "Há pessoas que nos falam e nem as escutamos, há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam mas há pessoas que simplesmente aparecem em nossas vidas e nos marcam para sempre."

- "Aprendi com as Primaveras a me deixar cortar para poder voltar sempre inteira."

- "Tenho fases, como a Lua; fases de ser sozinha, fases de ser só sua."

- "De longe te hei de amar- da tranquila distância em que o amor é saudade e o desejo, constância."

                              CECÍLIA MEIRELES

BONS ENCONTROS: A CIDADANIA DA FLORESTA; UM CONCEITO QUE EMERGE NOVAMENTE NUM CENÁRIO DE VIDA E MORTE...

                      Floresta cidadã
                          Leonardo Boff


Cidadania se deriva de cidade e florestania, de floresta. Palavra nova e inteligente, criada pelo governo petista do Acre, representando conceito novo de desenvolvimento e de cidadania no contexto da floresta amazônica. Implementa-se cidadania nos povos da floresta mediante investimentos do estado em termos de educação, saúde, lazer e de formas de produção extrativista, respeitando a floresta. Floresta e ser humano vivem um pacto sócio-ecológico onde a floresta passa a ser um novo cidadão, respeitado em sua integridade, estabilidade e luxuriante beleza. Ambos são beneficiados, pois abandona-se a lógica utilitarista da exploração e se assume a lógica da mutualidade que implica respeito mútuo e sinergia.
Esta vontade política abre espaço para um enriquecimento possível do conceito a partir da reflexão ecológica mais avançada. Trata-se da florestania não só como cidadania na floresta mas como cidadania da floresta. Impõe-se ampliação da personalidade jurídica à floresta, aos ecosistemas e à Terra como Gaia. Bem disse o pensador Michel Serres: “A Declaração dos Direitos do Homem teve o mérito de dizer ‘todos os homens têm direitos’ e o defeito de pensar ‘só os homens”. Os indígenas, os escravos e as mulheres tiverem que lutar para serem incluidos em ‘todos os homens”. E hoje esta luta inclui as florestas e outros seres da natureza, também sujeitos de direitos e, por isso, novos membros da sociedade ampliada.
Depois de termos criado a ameaça de destruição da Terra-Gaia não podemos mais exclui-la do novo pacto social, como o fizeram Hobbes, Rouseau e Kant. Estes davam por descontado o futuro da Terra. Hoje não é mais assim. Devastada Gaia, não há mais base para nenhum tipo de cidadania. Se quisermos sobreviver juntos, a democracia tem de ser também biocracia e cosmocracia.
O fundamento teórico para esta ampliação da cidadania nos é fornecido pelas ciências da Terra. Elas nos asseguram que o universo não resulta da soma de todos os seres existentes e possíveis, como se estivem justapostos uns aos outros. Todos eles se encontram inter-retro-conectados. O universo é o conjunto articulado das conexões de tudo com tudo em todos os pontos e momentos. Todos os seres não são apenas portadores de massa e de energia mas também de informação trocada, retrabalhada e estocada de um jeito singular e próprio a cada ser. A partir disso admitem eminentes cientistas que o universo e cada ser são portadores de consciência e possuem subjetividade. A diferença entre a subjetividade humana e aquela do universo ou das florestas não é de princípio mas de grau. Em nós, em grau altamente complexo e, por isso auto-consciente, no universo e na floresta amazônica num outro, menos complexo mas igualmente com grau próprio de consciência e de subjetividade.
Se a florestania fôr assumida num sentido amplo como postulado aqui, enquanto cidadania na floresta e da floresta, assistiremos a algo inédito no mundo. Na região da maior biodiversidade do planeta, na floresta amazônica, se inaugurará um novo ensaio civilizatório, referência possível para as demas florestas tropicais da Terra, assumidas como cidadãos. Graças a políticos, imbuidos de nova utopia, que não só administram o bem público, mas antes, cuidam do povo e da vida em sua esplêndida diversidade. 

 

sábado, 30 de julho de 2011

BREVES NOTAS SOBRE O CON-VIVER

                                          Jorge Bichuetti

NOTA 1. Viver é caminhar ; no caminho, caminhamos entre a vida que nos move e a vida que nos procura, pulsando no outro... Assim, viver é sempre con-viver... Viver numa relação com o outro. O outro entra na nossa vida e é um novo elemento que nos compõe... Afetamos e somos afetados... Estar com o outro exige que aceitemos que o outro não é nem espelho nem complemento... é uma singularidade viva. Não existe  um verdadeiro con-viver sem o que Goffmann nomeou de conviviabilidade, o ato de incluir o outro com sua singularidade e não tentar moldá-lo às nossas expectativas e valores...  Nas trocas singulares, crescemos e vamos construindo redes rizomáticas que dão vitalidade e multiplicidade; vida com diversidade...

NOTA 2. A convivência, para se manter enriquecedora, há de se pautar num funcionamento transversal. A transversalidade é o modo de vincular-se e relacionar, onde o espaço de manifestar-se e expressar seja o que permita a voz e a realização dos desejos e sonhos singulares que emergem na rede convivência: con-viver sem suprimir o outro; con-viver sem uniformizar o grupo.

NOTA 3. Um con-viver transversal necessita de ser vitalizado e mobilizado pela ética dos bons encontros e das paixões alegres... O que é vivificado e potencializado quando o con-viver é marcado pela ternura, pela solidariedade, pela compaixão, pela liberdade, pela tolerância, pela espírito de cuidado e de amizade...

NOTA 4. A partilha é o caminho do con-viver que se energiza e vitaliza, na permanência do amor que se realiza como doação e participação...

Nota 5. O con-viver é o caminho do existir... Já que a vida que se isola, fenece...

Con-viver - caminho, amor partilhado nos voos da liberdade...

NO SAMBA, UM CADINHO DE ALEGRIA...

na  linha     um anzol
              isca
na trilha     no brilho
           peixes:
caminhos do ninho, vida -
as estrelas bailam onde agora mora o meu pai...
o luar encanta as ruas onde meninos tecem um
                                                                                     lar.
      jorge bichuetti


uma vela na escuridão
uma flor
              palavra
                          lavra:
o azul do horizonte e
o poder da criação...

uma flor na solidão
uma vela 
                poesia
                            leva:
no infinito cintilante a
estrela da oração... 
                                   jorge biochuetti



amor
sementeira
pimenteira
                nuvens de ilusão...


amor
no celeiro
no veleiro
               estrelas da paixão...


amor
flor e clareira
passarinheira
               ventania no cio
                   solfejos
                comunhão... jorge bichuetti



no samba, a alegria voa entre estrelas e pardais...
no samba, a vida re-pousa entre toques e manhãs...
no samba, o corpo ferve entre a serpente e a maçã...
no samba, o sonho valsa entre o fósforo e o luar...
no samba, o povo pode entre o mel e o mar...



LEVANTA, SACODE A POEIRA E DÁ VOLTA POR CIMA...

DIÁRIO DE BORDO: VIVER É RECOMEÇAR

                                        Jorge Bichuetti

No silêncio da madrugada, escuta-se outros vozes... As vozes da vida. O vozerio do dia frenético cala a palavra da vida. Mergulhado no silêncio, vou, pouco a pouco, escutando a vida... Um pássaro, um sino, um galo... ecos no vento, dizendo na musicalidade da aurora que viver é recomeçar... A noite na magia do luar sepultou o ontem; e, agora, na aurora podemos recomeçar um novo dia... A Luinha persiste sonolenta... Eu, aqui, solitário. enternecido pelo orvalho matinal, penso...
Um dia, um novo dia... podemos recomeçar...
Podemos semear ternura e meiguice... florindo nossos caminhos...
Podemos sorrir e cantar... alegrando nosso caminhar...
Podemos amar e partilhar... povoando nossa vida andarilha...
Podemos perdoar e ser compassivos... suavizando nossos voos existenciais...
Podemos colorir de esperança e sonhos o horizonte... vitalizando o existir na caminhada e a caminhada do existir.
Podemos recomeçar: recomeçar é re-tomar a estrada e no estradear, reinventar nossa vida e a vida da humanidade...
Há no caminho tantos que nos esperam...
Há caídos que para o ato de se reerguerem esperam a nossa mão...
Há desiludidos e desesperados que para renascerem no sonho de crer em si próprios e na vida esperam uma, a nossa palavra...
Podemos viver, vegetativos... invisíveis que olham o outro o diluindo numa cruel invisibilidade...
Mas, podemos viver, recomeçando o caminho, com a generosa e altiva atitude de agir e interagir, fazendo a diferença...
Ser... no caminho. Ser palavra e silêncio, escuta e diálogo... Ser compreensão e acolhimento, ser a voz dos excluídos e a luta pela vida de justiça e dignidade...
Para muitos, recomeçar é, tão-somente, repetir os passos do ontem... cuidar dos próprios interesses... cativar suas conquistas pessoais...
Esquecem que somos na humanidade... com a humanidade... que somos a humanidade...
E no caminho do dias que recomeça a vida grita, clama, pede... superemos as dores da desumanidade...
Viver é recomeçar... Mas, não recomeçamos a caminhada alheios aos anseios da própria vida.
A dor, a ferida, o sangramento do outro é dor, chagas da vida...
Viver é recomeçar... mas, recomeçar é caminhar carregando o ofício de ser para a vida o caminho.
Ser caminho é ser florescência primaveril, efervescência vital... é ser pão e vida dos que alijados do caminho pelas injustiças do mundo, na sua exclusão, na sua condição de vidas amputadas, são vozes da vida que clamam por dignidade, paz e inclusão social.
A vida existe... e re-clama...
Sejamos no dia que começa as mãos e o coração da vida na construção dos caminhos do amor...

POESIA: ENTRE LÁGRIMAS, FLORES E PASSARINHOS

                                         ESTÁ LÁGRIMA
                                                            Jorge Bichuetti

Cai, silêncio; navega
entre rugas e cicatrizes,
só caminha... na busca
de aninhar-se num canto
do meu coração.. Ali, então,
ora perderá a memória e
sussurrará um canto no ar;
ora arderá nas lembranças,
louca, contorcerá d'uma dor
que o tempo já nem lembra,
e, assim, ela chorará no vazio
dos prantos que padecem,
longe, dos altares da compaixão...

Ah! feliz é a lágrima que cai no chão;
esquecida e só, mas, refletindo o céu estrelado...


                             PARADOXO AMOROSO
                                                             Jorge Bichuetti

Num livro perdido no amarelo da estante,
encontrei-a: flor murcha e seca, ainda, bela...
Não conservoou seu perfume, nem sua cor;
mas, ali, estava vivo a grandeza do nosso amor...

Revi nas páginas da memória nossa vida e
sentindo-a do meu lado, disse, sem medo:
nosso adeus foi um acidente ecólogico...
havia todo um jardim... só uma flor murchou;
nós é que surdos não ouvimos o coração
e partimos... deixando para todo sempre,
sepultado nos livros da estante o nosso amor,
a nossa eterna primaera  que se regada estaria
nos caminhos que depois seguimos, já secos,
tão secos quanto seca ficou  a poesia da flor.


                                       ESTE CANTO
                                                         Jorge Bichuetti

Este canto na aurora,
festa de passarinhos,
ecoa no m'ia memória
onde escuto u'a serenata
do amor que sentimos
e negamos... n'ua das
esquinas da estrada...

A vida seguiu... outras
paisagens... miragens e
lágrimas... coisa do tempo:
nunca ele quis ou pode retornar;
embora, cruelmente, todo dia,
me fizesse ouvir no alvorecer
a voz do amor silenciado no
estribilho da cantoria perdida...

Mas, lá fora, contudo, nunca se calou
o canto madrugadeiro dos altivos passarinhos...

MESTRES DO CAMINHO: CLARICE LISPECTOR E UM VISCERAL EXISTIR

                                                REFLEXÕES:


- "Quando se ama não é preciso entender o que se passa lá fora, pois tudo passa a acontecer dentro de nós. " Clarice Lispector

- "Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...
Ou toca, ou não toca." Clarice Lispector

- "Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada." Clarice Lispector

 - "Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite." Clarice Lispector

                               CLARICE LISPECTOR



SOCIEDADE DE AMIGOS: O VOO E A IMENSIDÃO

                                 GAIVOTA


Nem adeus,
      promessa,
          angústia.


Apenas,
um vôo de gaivota,


             MARIA APARECIDA DE REIS LISBOA


do livro: a poesiaem uberaba / guido bilharinho

BONS ENCONTROS: ECOLOGIA, VIDA E OS (DES)CAMINHOS DA HUMANIDADE

                Sociedade de Sustentação da Vida
                                                                   Leonardo Boff

Em muitos grupos de reflexão ecológica apresenta-se a Sociedade de Sustentação de toda a Vida como alternativa à Sociedade de Produção Industrial vigente. Queremos agora mostrar que esta proposta é a que mais condiz com a ciência nova e com os conhecimentos alcançados nas últimas décadas pelas várias ciências, especialmente ligadas à vida, à astrofísica  e à nova cosmologia.
O presuposto teórico da alterntiva da Sociedade de Sustentação de toda Vida é a moderna visão segundo a qual tudo, o energético, o físico, o psíquico, o econômico, o social e o espiritual não são instâncias justapostas mas são todas interdependentes formando um complexo e grande sistema. Niels Bohr, um dos criadores da mecânica quântica, bem dizia que tudo está relacionado com tudo e não existe nada fora da relação. O universo não é feito pela soma dos seres existentes, mas pela teia de relações entre todos eles. Consoante esta perspectiva, a vida para que se sustente, precisa encontrar aquele equilíbrio dinâmico de todos os fatores interconectados que garantem reprodução e coevolução. Subjetivamente significa que nós seres humanos temos um relacionamento íntimo com tudo o que existe no universo. Como dizia o Chefe indígena Seattle:"o homem não teceu a teia da vida, ele é é apenas um fio dela; o que fizer para a teia estará fazendo para si mesmo".
As seguintes constatações científicas dão consistência ao que estaos dizendo. A primeira delas é que a natureza se organiza sozinha. É um sistema aberto em contínua interação de energia, matéria e informação. A segunda é que a natureza se auto-estabiliza, quer dizer, se auto-regula para compensar condições mutantes de seu ambiente. Dialoga continuamente com o meio, se adapta, muda, integra elementos novos buscando um novo equilíbrio. A terceira é a desintegração generativa. Quando a natureza não consegue responder aos desafios ambientais, surgem anomalias, desdobramentos não mais funcionais e por fim ocorre a desintegração. Significa que aquele arranjo ecológico desaparece para dar lugar a outro com mais possibilidades de interação e de nova síntese. Por isso trata-se de uma desintegração generativa. É  a lógica da semente que tem que morrer para dar origem à planta. É a poda dos ramos para permitir novo vigor e melhores frutos.
O ser humano e a cultura não estão fora  desta lógica. Entraram num processo de desintegração pois não dão mais conta dos problemas mundiais, antes agrava-os. Receiam mudar e por isso se fazem repressivos. Mas vão ter que mudar, pois esta é a lógica que permite a contuidade da vida e do projeto humano sob outra forma.
Nesta transformação terá que ser posta em xeque a premissa básica da Sociedade de Crescimento Industrial: a convicção de que os humanos são a coroa da criação e a referência última de valor. A ecologia integral e profunda nos liberta desta arrogância mostrando-nos que somos um elo  da comunidade de vida, inseridos num todo maior de quem somos guardiães. Não queremos desaparecer mas continuar na rede.
A Socidade de Crescimento Industrial nos exilou da Terra e nos fez romper os laços com a vida. Precisamos voltar ao nosso nicho natural. Essa consciência é a base de uma Sociedade de Sustentação de toda a Vida, aquela que fará nossa desintegração ser criativa e nos garantir ainda futuro.


sexta-feira, 29 de julho de 2011

A VELHICE: DECADÊNCIA, DETERORAÇÃO OU UMA NOVA POTÊNCIA DE VIDA...

                                              Jorge Bichuetti

Vemos na velhice um estar no mundo entre o vazio e o fim... Equívoco próprio do capitalismo e do que Michel Foucault nomeou a ditadura da força bruta e da juventude...
O capitalismo exclui toda vida que perde a capacidade de ser força de trabalho na maquinária da produção de riquezas. De bens materiais... De mercadorias...
A medicina tende a desqualificar a velhice e quando atua parece fascinada com a busca da jovialidade física e da vida eterna...
É dado, assim, um lugar de desvalia para a velhice... Tanto que a negamos, fugimos dela.. e chegamos a segregá-lo nos asilos.
Cabe antes de apresentar o pensamento de Deleuze e Negri, recordar que este absurdo não acontece nos povos indígenas nem na cultura oriental. A velhice é depositária das tradições que sustentam a pertença coletivo, o espírito grupal, o valor da história e o culto aos ancestrais...
Gostaria de estar no diário de bordo, escreveria: como ando feliz e produtivo, cheio de invenções, na minha velhice... Porém, estou aqui... onde dialogamos com o conhecimento.
A temática da velhice desmonta todo um aparato midiático que identifica beleza num padrão musculoso, anorético e nonocromático... e saúde como corpo viril, fálico e silencioso.
A velhice é vista como um mal... uma decadência da vitalidade e uma deterioração das potências da vida... Pura ideologia... Ilusão que nubla a compreensão da vida que é movimento e pulsa bela e poderosa em cada um dos seus momentos...
Está desnuda que o olhar é o olhar da violência, do bélico e da beleza padronizada numa sexualidade sensorial-visual e oral...
Deleuze já dizia que a própria enfermidade gerava potência e devires... era singularizante e inovadora.
Toni Negri vai aprofundar nossa concepção de vida ao reconhecer que o envelhecimento é um gerador de potência, de intensidades novas que reencantam o existir...
A velhice não se apropria sempre do que pode um idoso porque sempre se sente pressionada a ser a força e a virilidade fálica-agressiva do império da vida que se afirma na dominação do outro.
Negri chega a afirmar que o sexo na juventude é de má qualidade... pois a juventude, no geral, está copitada por uma vida de velocidade voraz, de imediatismo e força bruta...
Para ele, a velhice alisa os estriamentos do mundo e potencializa, assim, o devir ternura, suavidade... A ternura e a suavidade são elementos imprescindíveis ao amor, à sexualidade, à amizade e às relações vinculares da sociabilidade solidária.
O tempo amadurece... dulcifica... enternece...
Vive-se pouco na velhice... porque não exploramos o que pode a ternura na invenção de um modo de amar e transar, de dialogar e conviver, de criar e inventar...
Como também temos depreciado o saber que emerge das experimentações... Sabedoria vem se convertendo num depósito de informações... E ai os velhos e os jovens são tolos diante do que pode um computador...
Mas, o saber engloba informações, vivências, percepções... um pensar com a vida que se potencializa com a maturação do corpo que já consegue ler o livro da existência não só com a matemática dos fatos, mas inclui a sensibilidade adquirida no caminhar...
Uma nova visão - a velhice é apogeu, não declínio...É brilho estelar... ofuscado por mundo que se embriaga com as luzes de neón e com as flores de papel machê...


VOO NO AZUL QUE MORA NAS ENTRELINHAS DOS SONHOS

meu silêncio
                   fala
                   fada
                   cala
       temores
       rumores
       horrores...

meu silêncio
                  fala
        flores
                  voa
e na sala escuta os deuses
                          da manhã
          o amanhã...       ave,
no silêncio... sol e lua:
            amor... jorge bichuetti




minha lágrima
        cai
        flor
            doida
            doída
um sorriso
        voa
          nu
              espaço
                  laço:
lastro do amor... jorge bichuetti


um anjo
    entre a lua e o luar
            caminho
    entre o beijo e o mar...


meu destino
       entre as flores e o céu
                   voa
       entre u'a lágrima
                                 e anjos: sonhos
cantigas de ninar... jorge bichuetti



 VIVER É RECOMEÇAR... TECER SONHOS; NO CAMINHO, CANTAR...

DIÁRIO DE BORDO: O AMOR E O DESEJO NAS ENCRUZILHADAS DA PAIXÃO

                                            Jorge Bichuetti

A noite alta anuncia  longe a aurora... Madrugada silenciosa e terno, é acolhedora... Fui só ver e sentir a vida que pulsa no meu quintal... A vida verdejante; os álamos bailarinos... os pássaros que chegam, de mansinho... Tudo isso envolto no brilho das estrelas e do luar nos leva a reverenciar a vida e na vida, uma azulada imensidão que é um grito de paz e liberdade.
Enamorei-me do luar; porém, com o coração batendo frágil, trêmulo... A lua bela no céu e eu... refletindo sobre a vida.  A Luinha não quis minha companhia... E eu, um homem libertário, estou queimando... queimando de ciúme.
Assim, não poderemos fugir do tema amor, do amor na sua poesia e arrestas tão humanas.
O amor é o alimento da vida; a sustenta ou a fragiliza... Nele, podemos ser dependentes ou libertários...
Mas, o amor é sempre amor - doação, partilha, carinho, ternura, compreensão, cumplicidade, liberdade, 
compaixão e responsabilidade...
Muitas vezes, simplificamos a questão e fugimos da sua complexidade... Paixão, amor, desejo... territórios de fascínio e terror; lugares de alegria e poços de lágrimas... é nossa humanidade.
Não desejamos um objeto; sonha-se encantado de desejo e paixão com um conjunto: uma paisagem, uma vida ali anunciada...
Algumas vezes... moralizamos a diferença entre paixão e amor: O amor, o lume que clareia; a paixão, o fogo que incendeia... Há algo de  verdadeiro: a paixão é amor-desejo numa intensidade que nos desgoverna  por que nos joga na fronteira...
Contudo, amor-desejo-paixão guardam enigmas e obstáculos, enraizados no funcionamento do nosso ego.
O ciúme não é uma expressão natural do amor e da paixão... Ele se enraíza no nosso funcionamento narcísico e onipotente, movido pela falta; o que nos leva a relações simbíoticas onde não há espaço para a singularidade do outro... Ele é submisso a nossa relação de apropriação privado das coisas e da vida. É possessividade...
Quem não vive tem medo da morte...
Quem ama pouco é escravo do medo de perder... Torna-se inseguro, paranóico...
O ciúme retrata nossa vida de encontros: mantemos relações de dominação ou subordinação; e não relações libertárias... E funcionamos, quase sempre, reativos; não assumindo uma postura ativa...
O ciúme, neste contexto, não resolve no espectro da repressão e do controle...
Quem ama e deseja a continuidade do vínculo: cuida; é companheiro; pulsa irradiante e brilha contagiante... se dá; tece alegrias e paz... inventa caminhos e horizontes... Faz do convívio um jardim florido...
A opressão, e o ciúme não-elaborado vira opressão obsessiva e trevosa, provoca asfixia, necessidade de ar... o que no amor significa necessidade de ir...
E ainda precisamos lidar com humano demasiado humano da realidade de que não temos domínio, nem selo de garantia, sobre a continuidade do sentir e do desejar do outro... O outro pode desejar, interessar-se por projetos, caminhos e horizontes que não nos inclui... Que fazer? Descobrir que o amor não se reduz a uma relação; ele é potência da vida... Ele não limita nem se retrai... Nosso ferido é que coíbe, reprime, suprime... Sempre podemos amar... Sempre podemos nos encantar com alguém, com a vida, com a imensidão...
Dor cristalizado numa fixação amorosa é autoflagelação; negação da alegria que existe imanente no processo de amar, de se dar... paralisia no desejo frustrado de ser amado...
Assim, busquemos o amor sem medo de ser livre e feliz...
recordando Guimarães rosa: " qualquer amor já é um cadinho de saúde, um descanso na loucura"... Se não, é por que é somente uma simulação... não é uma florescência viva do amor que dá vida e vitaliza o existir...


POESIA: SONHOS NO LUAR

                                        SONHOS ENLUARADOS
                                                               Jorge Bichuetti

Entre o sono e o despertar, a lua
me governa e com ela eu voo na
imensidão dos horizontes siderais;
onde reconeço mesquinho o meu
destino cinzento de robô racional...

Há no luar um novo modo de amar!...

Na noite, a lua brilha e pulsa, baila...
Espia a vida e permanece no alto e
nunca deixa de se dar co cio e fios
das paixões andarilhas que tecem o
prazer entre estrelas de neón e o céu,
palavras e silêncios...ode ao alvorecer.

Há no luar os sonhos da madrugada!...


                                        LUA NO CHÃO
                                                        Jorge Bichuetti

A lua só anda pelos caminhos empoeirados,
quando na aurora, ela humildemente recolhe
o lixo das madrugadas e acolhe os caídas da
sarjeta... Para o povo da rua, ela é um anjo
maternal... que chora no desepero do menino
que num banco de  jardim espera os reis magos...


                             PAIXÃO NOTURNA
                                                          Jorge Bichuetti

Entre estrelas, voo e sussurro
palavras de amor no silêncio
da vida... que descansa e ora...

Na noite, os amores proíbidos
borboleteiam altivos... vadios,
cirandam na fogueira da paixão.

O dia é a matemática do possível;
a noite, é a vida que vai além das
simetrias... casulos do bem-querer...

E a lua encantada tudo abençoa e
se orgulha de ser a vida desnuda;
a vida liberta dos medos banais...

Quando a claridade chega ea vida
se acomoda... a lua olha o infinito e
num eco de misericórdia e fé, só diz:

- a noite é o voo da paixão alada
que assimétrica, rodopia no céu
sob o jugo leve da mão de Deus...


                                     ENLUARAR-SE
                                                         Jorge Bichuetti

olhar terno
         flores na relva
corpos
        ardências lunares...

cio
        ternura
luar
        amores
        que florescem
longe
        na capela da imensidão;
onde a vida desconhece
        o espinho
        a mordaça
        o sim e o não...