sábado, 23 de julho de 2011

DIÁRIO DE BORDO: UM CANTO DE ESPERANÇA...

                                         Jorge Bichuetti

A lua no céu entre miríades de estrelas bailam no infinito, encantando a madrugada... No meu quintal, o cheiro da terra orvalhada perfuma a vida e dá uma nítida sensação de que o paraíso nunca foi perdido. Cegos e surdos, não o sentimos, nem o celebramos... Mimo minha roseira que descansa... Pela primeira vez, não está florida: lhe conto, sussurrando no seu coração, que suas rosas já vivem etéreas e eternas na minha alma. Ela sorri... e se aquieta, parecendo que irá tirar um suave cochilo. Os álamos opinam e pedem: querem escrever... olho-os e reconheço: são candidatos a filósofos; filósofos do meu quintal...
Tudo é tão belo, tão alegre... A vida é um canto de esperança.
O mundo é pessimista e niilista; fatalista; o mundo é cinzento... De terno e gravata, não sabe o que profetiza a vida nas entrelinhas das cores, perfumes, sibilos, grunhidos e uivos, sabores... paisagens... não sabe ler a vida nas inscrições cósmicas que versam no livro da natureza.
O mundo só sabe o que dizem os jornais...
E a vida é en-cantos de esperança...
Esperança - espera que dança, baila, surfa... voa e canta passarinheira...
Esperança - fé de criança... Não, fé-criança... Fé de criança que se sente embalado no colo maternal e protetor da vida.
A esperança canta... e eu a escuto.
Me diz coisas banais que desconheço: viver é recomeçar e se recomeçamos podemos redesenhar o cotidiano, florir nos caminhos e colorir a paisagem da nossa vida íntima...
Não a vemos, simplesmente porque trazemos os olhos vendados.
Ela está...
Está no sol que retorna reiniciando um novo dia; está no azul do infinito que pacifica e nos instrui... Se o víssemos, saberíamos intensificar as alegres do momento e aprofundar os encontros da compaixão; pois, nos moveríamos na vida, afirmando a vida, conscientes da própria transitoriedade.
O rio e o mar se encontram pela ação ativa da esperança... Pacientemente, o rio busca o mar: teimoso, respeitoso dos seus próprios anseios, destemido... ele vence obstáculos, contorna dificuldades... lentifica e acelera... mas, nunca deixa de sonhar, caminhando. Sonha com o mar; mas, não se acomoda; esperançoso; busca-o, lutando...
E o mar valseia num vai e vem; sem desistir de viver para o grande encontro...  receber o rio e neste abraço ser um novo mar: um mar remoçado pelo rio que ele no seu seio abrigará; um mar ampliado pela fecundidade das matas que chegam carreadas pelas águas cristalinas da vida andarilha do rio que ousou devir-se mar.
Os passarinhos com seu madrigal cantam... e sorrindo reconheço no canto dos passarinhos o eco da esperança que contagia a vida... para que a vida a cada manhã nos diga, suavemente: é hora de recomeçar... é hora de ir, serpenteando pelo caminho, buscar no coração do sonho a nossa alegria.


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