quinta-feira, 28 de julho de 2011

NOTAS SOBRE A VIDA CONTEMPORÂNEA

                                                  Jorge Bichuetti

Não vivemos num mundo azul... colorido e cheio de alegrias... Porém, a vida, aqui e acolá, revela-se tecendo o novo, a mudança... Novos tempos. Na verdade, todos sofremos... a violência, o vazio existencial, a exclusão... tempos cinzentos... Abordaremos aqui três pontos nucleares da nossa vida cinzenta: o individualismo; o consumismo robotizado e sedentarismo de repetições amorfas e incolores...
1. Sobre o individualismo. O ser humano é um ser social... Nossa reclusão num segregado individualismo foi se aprofundando e ganha contornos dantescos no neoliberalismo... Isolamo-nos. Passamos a habitar em lugares onde a própria arquitetura nos desconecta da vida comunitária. E nos concentramos no ideal, nos interesses - problemas e sonhos pessoais... apagamos da paisagem da nossa existência o outro... Recuamos. Intensificamos o nosso narcisismo e nossa onipotência... Psiquicamente, fragilizamos nossa capacidade de ser... Resultado: vida empobrecida e vulnerável...  Rodopiando no próprio umbigo, cristalizamos funcionamentos pueris e neuróticos; e não alimentamos fluxos e redes de trocas que nos agenciem para vivências do novo nem contamos com estes fluxos e trocas na hora de suportar a nossa sobrecarga, a nossa cruz, o nosso calvário...
Agora, o tempo urge... Necessitamos reinventar a vida. Já não suportamos a nossa vida aborrecida, frágil e solitária...
Para a descoberta, para a produção inventiva do coletivismo que se tornou uma carência generalizada, haveremos que despertar sentimentos, emoções e valores éticos que suprimimos e reprimimos na manutenção do individualismo.
Necessitamos de reativar em nós mesmos a compaixão, a solidariedade, a generosidade, o amor... um ser cúmplice do outro, da humanidade e da vida.
2. Sobre o consumismo. Os buracos da vida gerada pelo individualismo exacerbado foram durante um longo tempo suprido e pelo nosso funcionamento consumista... O adereço do objeto comprado dava-nos o nosso valor, ainda mesmo quando nada ele conseguia realizar na nossa vida pela potência de alegrar-nos e nos tornar com uma vida mais intensa. Acumulamos comodidade... e inutilidades. Compramos, mas não usufruímos. Agora, parece que haveremos de buscar a alegria de viver e capacidade de existir com intensidade... presentifincando-nos no ser.
Teremos que simplificar a vida e nos simplificar, para que ela seja vida vivida e não vida decorativa...
3. Sobre o sedentarismo repetitivo. Somos sedentários, vivemos uma rotina repetitiva... Anulamos nossa criatividade e a potência da vida que se realiza como movimento... No sofá da sala, vegetamos... Todo dia, é igual... Encapsulamos nosso existir, mumificamo-lo e cristalizados nos desconectamos da vida, do outro e da natureza...
Não se é de estranhar que somos adoecidos: nossa vida é já em si mesma uma vida crônico-degenerativa...
E, agora, José?
Já não vemos o pôr-do-sol, o luar e as estrelas; não caminhamos na relva do cerrado, não nos banhamos na cachoeira... Não lemos poesia... Nem escutamos canções...
A mídia codifica nosso olhar, nosso escutar, o nosso vegetar...
Perdemos a vida como ato criativo; atrofiamos nosso mundo íntimo...
Urge despertarmos...
Voar com as borboletas; cantar com os passarinhos... Não sobreviveremos se não re-descobrirmos a arte de sonhar...
Comecemos uma nova caminhada: reinventemos nossas vidas...
Semeemos flores no nossa caminho... e a primavera tecerá na nossa pele a beleza do infinito que o perdemos com as cortinas negras de uma vida banal...


4 comentários:

Anônimo disse...

Jorge, sobre o consumismo, é oportuno indagar e questionar como as implicações da manifestação do sagrado na chamada pos-modernidade tem relevância no que diz respeito a uma melhor compreensão das práticas da lógica capitalista na globalização do mercado de consumo.
Podemos indagar porque os shopping centers se tornaram os templos do consumo, onde a hierofania ocorre por detrás das vitrines, provocando a evanescente saciedade dos consumidores consumidos pelos “gadgets” ofertados em promoções irresistíveis.
O fio condutor para tal observação será o descentramento do sujeito moderno rumo à sociedade de consumo, característica marcante do chamado mundo pós-moderno, os modos de gozo, a mais-valia e o sujeito, bem como o fetiche da mercadoria .
Assim, a identificação desses fatores nos leva a uma reflexão sobre a quantidade da oferta de produtos no mercado e a enorme variedade de produtos embriagantes, que contribui, certamente, para desorientar o sujeito que acreditou que a satisfação plena seria possível.
Uma produção sem limites e um gozar sem limites trará conseqüências a médio e em longo prazos. Atualmente, na lógica do mercado na qual prepondera a cultura utilitarista, os objetos funcionam como semblantes e, portanto, universais. Dessa feita as regras são ditadas por uma concepção maniqueísta, os afetos (sentimentos de perda, medo) são banidos do contexto cultural sempre com a promessa de liquidá-los através da sedução fácil das ofertas de mercado. Não havendo limites ao imaginário, tudo se resolve dentro dos laboratórios industriais de todos os tipos – manipulações cada vez mais controladas e perfeccionistas.
Sabemos que a ciência favorece o homem. O problema, no entanto, está no modo como o discurso capitalista se apropria do discurso da ciência. Vemos a ciência prometer que tudo é possível, porém, seu avanço não detém o sofrimento.
O excesso, portanto, está na base de toda a devastação que sofre o sujeito em sua economia psíquica, sujeito este que, seguindo o apelo do mercado, consome atendendo ao imperativo: goze!

Um forte abraço
Adilson

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Adilson... um excesso visto e vivido sob o signo da falta... Consumo excludente edespersonalizante: grandes lojas... que bloqueiam os encontros; e o ser humano na carência da outra vida - o sublime do amor... Abs ternos; jorge

Concha Rousia disse...

Jorge querido, concordo, é claro com esta analise, este mundo consumista, é sobre tudo triste... difícil fugir a essa tristeza que vai apagando a necessidade de sonhar... Por algum motivo, até pela cor azul o teu texto me fez pensar no que eu tb escrevi ontem, pequeninho, mas acho que descreve bem o que está passando no mundo, na individualização que nos disseca... deixo o link, para que ouças a música, por falares tb em borboletas... Com um abraço de ternura nesta saudade, http://republicadarousia.blogspot.com/2011/07/triste-morrer.html

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Concha - o individualismo consumista corrói a potência do encontro... e não sonhar torna a vida seca. árida , cinza... abraços, irei ver e ouvir... Saudade!... jorge