quinta-feira, 21 de julho de 2011

SOBRE O DEVIR GUERREIRO

                                          Jorge Bichuetti

O mundo contemporâneo não valoriza o guerreiro: necessita de vidas acomodadas, servis, submissas... vidas iludidas com a vida conquistada no crescimento dado pela esperteza, pela malandragem, pelo sucesso oriundo de atributos pessoais.
Sempre estamos nos sentindo vitimizados... asfixiados pela nossa impotência: sob o signo da falta,permanecemos sempre iludidos de que estamos acorrentados, coibidos, num eterno lamento pelo paraíso perdido.
Assim, nosso corpo se atrofia, enrijece e desconecta da natureza: corpo mortificado.
quando reconhecemos que a identidade não é natural, nem eterna e permanente; mas, que somos metamorfoseantes; vemos que podemos acessar nossas potências suprimidas.
Todos carregamos um guerreiro suprimido da nossa subjetividade... Encontrá-lo, buscá-lo, despertá-lo e vivê-lo vale por dar intensidade e valor, sentido e potência ativa e afirmativa às nossas vidas.
O devir guerreiro reflete os fluxos e as linhas de fora do inconsciente negadas pelo ego: a luta, a ousadia, o destemor, o espírito de justiça, o desejo de conquista de caminhos, espaços, voos e sonhos... A valentia e a coragem são comumente desvalorizadas ao serem identificadas com a crueldade e com a injustiça.
O guerreiro é, nas suas entranhas, um agenciador do sonhos e da libertação; um modo de viver que supera o passivo e o reativo; e se dá num funcionamento ativo, afirmativo... desbravador de sete mares; novos horizontes.
Ele só é a antítese da cordialidade;, quando esta é uma camuflagem para o servilismo, para a acomodação, para o espírito de apatia.
Ele - o guerreiro - afirma a vida... Afirma a liberdade e a justiça; e incorpora a esperança.
Recordando a imagem nietzscheneano dos eus não-paridos, o devir guerreiro é no nosso mundo um eu não parido.
E se a tirania se sustenta no fatalismo e na apatia; ela se alimenta e se pereniza na ausência dos guerreiros não paridos.
Um modo que o mundo dito civilizado tem de manter o guerreiro alheio do dia-a-dia e das nossas subjetividades, é desclassificá-lo como um ser inferior, primitivo, próprio das sociedades inferiores...
Assim, e por isso, nossa cultura não cultivo vínculos com nossos ancestrais. O novo nasce borrando a memória dos grupos e dos povos.
A colonização permanece aculturando-nos.
Como a desconexão com a natureza... nos tira dos agenciamentos que esta efetua incessantemente no sentido de germinar nas vidas as potências adormecidas ou não atualizadas, não paridas.
A memória, o animal e a natureza e os caminhos das lutas e dos sonhos são insurgentes, pois agenciam na vida o devir guerreiro.
Busquemos o nosso guerreiro adormecido...
Abramos passagem para o nosso guerreiro não parido.
No caminho do nosso dia-a-dia, antes do pesadelo da apatia e da acomodação, recordemos que um guerreiro pulsa, vibra e sonha dentro de nós... Na realteridade da vida que é vida negada, mas, que só o é, porque é acima de tudo caminho de libertação.



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