quarta-feira, 31 de agosto de 2011

AS LENDAS E O DESTINO - ACOLHIMENTO, SINGULARIDADE E DEVIR...

                                         Jorge Bichuetti

Todos que lidamos com o ser humano podemos ser no caminho um agente libertador...
A vida do ser humano padece dominações, estigmatizações e exclusões que o limita, o determina e o transforma num destino dado.
Libertar é quebrar os elos da corrente que nos aprisiona num destino dado que é caminho de negação da vida, da nossa singularidade e das nossas potências...
O ser humano é capaz de "se fazer, se desfazer e se refazer" ( Juvenal Arduini )
O caminho que trilhamos que nos tece ao longo de uma vida possui determinações estruturais, sociais, psicodinâmicas e interferências que bloqueiam ou libertam no dia-a-dia de cada passo nosso na caminhada existencial.
Somos excesso-potência-abundância-multiplicidade, singularidade e devir... Podemos mudar, nos reinventar...
Contudo, frequentemente, o socius reafirma os mecanismos de morte e autodestruição, nos fazendo repetir o esperado, não nos estimulando na exploração da vida de alegria e potência que existe germinativa em cada um de nós...
A clínica, a educação e as políticas públicas de desenvolvimento social necessitam de abrir-se para uma compreensão de que as generalidades são mistificações que silenciam no cidadão o ser singular e ser de multiplicidade...
Se olhamos e vemos o pobre, o marginal, o drogado, o perverso, o violento,  a vítima, a escória... inconscientemente, vamos intervir reafirmando o destino previamente fixado...
Antes de tudo, para agir e intervir, precisamos centrar nossa ação no homem - um homem com uma história, desejos, sonhos , frustrações, fatalidades,aventuras, conhecimentos.... uma pessoa.
E, comum, que na sociedade que vivemos carreguemos um destino dado... uma lenda... um script... Alheio a nossa lenda pessoal.
A lenda pessoal é um conceito que refere-se a vida que caminha na busca do desenvolvimento da nossa potência, da nossa singularidade e da nossa multiplicidade, dos nossos devires... è caminho de luta onde o horizonte azul que nos guia é os nossos sonhos íntimos e grupais...
Infelizmente, cabe alencar dois fatos da nossa sociedade injusta e excludente...
A criança não recebendo a maternagem necessário ao desenvolvimento de auto-imagem e auto-estima ( ego ideal) , ela é vulnerável e nela se inscreve o conjunto das exclusões sofridas e das sentenças pronunciadas que a define numa desvalia e num destino de infelicidade...
E não recebendo os limites que formaria nela a auto-censura, auto-defesa e autopreservação, mas, também, tolerância às frustrações, crescem com um funcionamento mágico: não toleram o não, buscam o prazer nirvânico, não reconhecem limites...
Para estas duas tarefas de refazer, a maternagem e construção da auto-censura é fundamental que busquemos cuidar, acolhendo... O acolhimento é a clareia que se abre na escuridão de num destino nebuloso e trágico...
Acolher é amar, o ser humano singular...
Acolher é cuidar, incluindo com a invenção de um novo destino que contemple a singularidade, a multiplicidade e as potências ali presente na vida daquele coração...
Neste sentido, podemos afirmar que não educação, clínica, nem desenvolvimento social, se estas práticas não centram seu olhar e seu agir na escuta e no diálogo...
Educar, clinicar, e incluir na cidadania não é robotizar, substituindo uma lenda por outro lenda exógena... é impregnar de sentidos para que o que cuidado invente a sua própria lenda... singular, multiplicitária e permeada pelas floradas do devir...


07  DE SETEMBRO: 9:00 - NA PRACINHA DA IGREJA DE SANTA RITA...
LUTEMOS PELA VIDA, POR JUSTIÇA SOCIAL E PAZ; INCLUSÃO SOCIAL...
DIGAMOS NÃO AO DESAMOR E A MARGINALIZAÇÃO DOS QUE NA LÁGRIMA DA EXCLUSÃO CLAMAM POR UM NOVO ALVORECER...
AMOR É ATO DE SOLIDARIEDADE: GRITEMOS PELA VIDA - DE TODOS E PARA TODOS...

      O GRITO DOS EXCLUÍDOS

CONVOCAÇÃO: CONFERÊNCIA MUNICIPAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA MULHERES.... E A MULHER NA POÉTICA QUE CANTA A VIDA...

  Amigos, hoje, 31 de agosto de2011 , de 7 às 17:30, ocorrerá a CONFERÊNCIA MUNICIPAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA MULHERES " DONA LUCÍLIA ROSA".
LOCAL: ANFITEATRO CENTRO ADMINISTRATIVO DA PREFEITURA DE UBERABA...
























Maria, Maria...
força na ternura;
um terno guerrear...
                    bravura
meiga
                         rosas
do tempo,
fertilidade
                      do luar...
no porvir
                         a luz
aurora   do     amar... 
                       jorge  bichuetti


mulher
          germinação
do devir;
cósmica
          transmutação
um corpo que é poesia;
um amor visceral...
luta                   melodia
      floradas
da paixão...    o infinito
                    nas trilhas
do coração... 
                           jorge bichuetti


ENTRE PEDRAS, FLORES...
ENTRE ESPINHOS, SONHOS...
A VIDA VOA NAS ASAS DA LIBERDADE...



















07 DE SETEMBRO: NA PRAÇA DA IGREJINHA SANTA RITA: 9:00 HORAS
       
       O GRITO DOS EXCLUÍDOS

ALQUIMIA DOS GIRASSÓIS: O SABOR DO LUAR...

                                         Jorge Bichuetti

Amigos,
a vida caminha... no caminho, lutas e sonhos.
Não podemos lamuriar ante as pedras do caminho; há caminhos ocultos em cada pedra que nos atravanca o destino. Ali, mora o espaço mágico da renovação, da nossa reinvenção.
Viver é lutar...
E entre tantas lutas, necessitamos um pouco de suavidade: sabor, cantigas e luares...
Eis aqui uma receita preciosa: saborosa e natural... Um guisado dos deuses...

                   GUISADO DO LUAR

Frite, só dourando, alho e cebola; acrescente:
- soja textuarizada previamente molhada,
- palmito e azeitonas picadinhos,
- um tomate em cubinhos.... sem as sementes,
- sal, pimenta do reino branca, pimenta verde, eras finas...
Opcional: vagem picadinha, ervilha, milho... e uvas passas...

Revogue o guisado... e o sirva com: arroz branco, uma salada verde....
Bom apetite!...

                       ****

Para completar sua alegria, escute esta canção, deixando-a penetrar no seu coração pelos poros da pele:


Se você anda estressado, tire cinco minutos e alongue ao livre... mirando o céu azul... ou a noite etrelada, deixando que o universo por um minuto cuide do seu coração, descanse e leia em voz alta este poema de Cora Coralina:

       “Humildade

Senhor, fazei com que eu aceite
minha pobreza tal como sempre foi.

Que não sinta o que não tenho.
Não lamente o que podia ter
e se perdeu por caminhos errados
e nunca mais voltou.

Dai, Senhor, que minha humildade
seja como a chuva desejada
caindo mansa,
longa noite escura
numa terra sedenta
e num telhado velho.

Que eu possa agradecer a Vós,
minha cama estreita,
minhas coisinhas pobres,
minha casa de chão,
pedras e tábuas remontadas.
E ter sempre um feixe de lenha
debaixo do meu fogão de taipa,
e acender, eu mesma,
o fogo alegre da minha casa
na manhã de um novo dia que começa.”
                                                  Cora Coralina


DIÁRIO DE BORDO: AMOR É CAMINHO DE PARTILHA E SONHOS...

                                                       Jorge Bichuetti

Galos, pássaros apressam a manhã... No quintal, entre o místico e o poético, me peguei adorando o céu estrelado, vendo os álamos bailando como se cortejassem as estrelas... O cheiro do orvalho umidecendo a terra, nos traz , de volta, a vida de antes... Éramos amigos da natureza; nela e dela vivíamos... Alguns minutos de serenidade no silêncio do alvorecer para o tempo... Sinto nas sombras da penumbra matinal... os guerreiros Caiapós, habitantes desta terra... Os reverencio... 
Em casa, meu cafezinho e os festejos da Luínha... Não dormiu comigo: custo e venço meu narcisismo e meu amor edípico... renuncio meu ciúme e não investigo a razão...Brinco e sentimos que nos amamos . Isto basta...
O amor é um campo da fica que costumeiramente acidificamos, transformando-o num deserto existencial... Ciúme e mágoa... Controle e ressentimentos... Dominação e servilismo... Triangulações e lágrimas... Traição e paranóia... Amamos , contaminando o amor com nosso individualismo e com os leis do mercado - monopólio, mais-valia, exploração, leis de exclusividade e juros... Juros, sim; negamos o amor-doação; vivemos o amor-dívida e transformamos o diálogo num permanente movimento de cobranças onde monetaristas sobretaxamos o outro com nossas exigências descabidas...
Amor é doação e compreensão...
Nos burgueses  e nos proletários, na classe média ou nos camponeses, o amor, se amor, é sempre socialista... é o brilho e o encanto dos encontros que se consumam na conjugação do verbo reflexivo dar-se...
Dar-se presença e carinho, carícia e cumplicidade... Dar-se alimento e vida.... Dar-se poesia e sensualidade...
O amor é ato ativo de vivaz de generosidade... Ele é alérgico: alérgico ao individualismo, ao narcisismo, ao orgulho e ao egoísmo...
Se o queremos, estejamos abertos, pois o amor é ato- processo criativo e surreal...
Não se enquadra na lógica matemática, nem na lógica dos estriamentos lineares da vida quadriculada do Capital...
O amor é potência, fluxo... produção de vida. Vida abundante e de alegria...
Nunca, penso eu que saberemos, assim o é: nunca saberemos se ele é um encanto e um encantamento das estrelas e do luar ou se é ele que encanta com a sua magia o céu estrelado...
O amor é a flor da janela; a serenata bela... a singela caminhada de mãos dadas...
O amor é expansivo: os apaixonados, que não temem o amor, mergulham no oceano da compaixão, e intensificam a alegria do romance,tecendo-o uma epopeia que se desdobra num intenso e fértil amor à humanidade...
Amor é caminho de partilha e sonhos....
Semente, sementeira... um semear, um celeiro...
Não floresce longe do caminho onde os corações no amor se reinventam e se consubstaciam... tornam-se vidas partilhadas...
Não voa, não atinge os cumes da imensidão longe dos sonhos... pois, o amor é sonho de vida que se renova e procria na fertilidade dos sonhos azuis que se eternizam na capacidade de alados pela comunhão da ternura se reinventarem corpos e almas conectadas na produção da aurora ... Aurora que tecem e aurora que os tecem na ternura do amor que se renova no alvorecer - clarão e clareiras do caminho... da vida parida na alegria de ser um... e  ser multidão...


POESIA: O TEMPO E A SAUDADE...

                                  BAGAGEM
                                           Jorge Bichuetti


Viajo entre as estrelas
com sonhos de menino
e voo, leve e suave;
nada carrego comigo...
Se algo segue, segue
minhas lembranças;
lascas do vivido,
fotos amareladas
que retratam,
no tempo do presente,
os amores do meu passado...

Passei... eles? passaram comigo;
agora, sigo brejeiro;
pois se o passado 
é lembrança;
o futuro  é mi'a ânsia,
desejos azuis .. 
asas dos meus voos
no infinito
e no porvir...



                             O APITO DO TREM
                                         Jorge Bichuetti


Durante anos, esperei
no apito do trem a tua volta...
Longe, escuto, agora,  o apito...
Ele já não marca o tempo da espera...
Nele, apenas escuto hoje
as vozes banais do presente...
que me dizem a hora de 
parar, acender um cigarro
e tomar meu cafezinho...


O apito ficou...
no meio da minha rotina;
sua lembrança apagou-se
no meio das cinzas
que sepultam as ilusões...
para que se prosssiga,
buscando no horizonte
u'a nova direção...




                           ÉRAMOS...
                               Jorge Bichuetti


Éramos num tempo perdido
o amor perfeito;
neste instante, só somos
o amor esquecido
nas curvas do tempo...


Paradoxos do destino;
descaminhos do amor
que não suporta as lágrima
no vazio dos segundos
que sulcam no tempo
u'a solidão secular...


terça-feira, 30 de agosto de 2011

BONS ENCONTROS: OS DESCAMINHOS DO NEOLIBERALISMO.... FREI BETTO

Sedução Neoliberal

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Por Frei Betto
(fonte: Correio da Cidadania - http://www.correiocidadania.com.br)
f
Nessa sociedade neoliberal que respira a cultura globocolonizadora, de caráter consumista, a verdadeira cultura é substituída pelo entretenimento. Busca-se formar consumidores e não cidadãos. Menos razão e mais emoção. Cultura é tudo aquilo que humaniza o nosso espírito e a nossa consciência. Ora, como o sistema multiplicará os seus lucros se as pessoas tiverem senso crítico e refinamento espiritual?

São Francisco de Assis, hoje, seria o anticonsumista. Sócrates passeava pelas ruas de Atenas para ver quantas coisas o comércio oferecia e que ele não necessitava.

A receita de sucesso do sistema é tornar o supérfluo necessário. Fazer com que o consumidor prefira perder a cabeça do que ver desaparecer das prateleiras o seu xampu preferido... Ninguém liga a TV para ver anúncios. Exceto a TV a cabo, ninguém paga para ver TV. Ela vive dos anunciantes. Mas precisa de programas e telejornais para atrair o telespectador. Tudo bem pensado para distraí-lo, entretê-lo, sem incomodá-lo e, muito menos, levá-lo a perceber que a realidade contém fatos e verdades que o senso comum ignora.

Já pensou a TV exibindo uma série de reportagens sobre a dívida externa brasileira (US$ 231 bilhões) e seus efeitos na economia nacional e na qualidade de vida do nosso povo? Não daria ibope. A menos que fosse um programa muito bem feito, sem a chatice dos chavões da esquerda, que não aprende a lidar com o universo onírico dos telespectadores. Prova disso é que, na hora das campanhas eleitorais, os candidatos majoritários de esquerda contratam publicitários sem nenhuma afinidade política ou ideológica com eles. Daí a contradição entre o conteúdo e a forma da mensagem. Como se só a direita soubesse fazer sonhar. Quando a esquerda - ou o que resta dela - vai aprender algo de estética? Beleza é fundamental, já alertava Vinicius de Moraes.

A força do sistema reside em seu poder de sedução. Ele mexe com a mente e o coração das pessoas. Acena com riqueza fácil, beleza fácil, poder fácil, desde que se adotem os seus valores: acumular, competir, ficar-na-sua, não se envolver com problemas alheios e causas coletivas. Imprima à sua vida o doce embalo dos filmes de Hollywood. Ou você conhece algum vencedor (winner ) sem uma boa dose de egoísmo?

Assim, o sistema desumaniza, dando uma no prego e outra na ferradura. Pois quando a desumanização aparece na forma de violência urbana (por que os pobres ficariam isentos da sedução da riqueza?), então o sistema grita: Basta! Desarmem-se! Ora, como desarmar-se num sistema que induz a desamar? Conhece algum vencedor preocupado com a sorte dos 50 milhões de pobres e dos 21 milhões de miseráveis que existem no Brasil? (Dados IBGE/2000).

O neoliberalismo descobriu o que os alquimistas e cientistas buscavam há séculos: o elixir da eterna juventude. Malhar, submeter-se a cirurgias plásticas, vestir-se e agir como se fosse eternamente jovem. Claro, ninguém está satisfeito com o próprio corpo, exceto os que não prestam muita atenção nele e consideram a velhice bem-vinda. Fora disso, é tratar de encobrir as rugas, esconder a celulite, adotar regimes de fazer inveja a faquir. Sofrer, sofrer muito para ser contemplada como uma nova Vênus ou um novo Apolo. Sofrer no bolso e na auto-estima, na ascese diante de uma suculenta feijoada ou um bolo de chocolate, na perda de horas de leitura e aprimoramento cultural para dedicar-se à esculturação do próprio corpo.

A perenização do presente, como experiência privada, é reflexo da "privatização" filosófica do neoliberalismo, que tem como efeito a glamourização das relações pessoais, criando novos apartheids. São excluídos aqueles que não correspondem aos modelitos do consumismo imperante, como os gordos, os velhos e os feios.

Ficar doente, ter uma deficiência física ou um filho com uma anomalia mental, é caso para esconder debaixo do tapete. Quase todo mundo tem, mas pouca gente sabe. Quase todo mundo tem na família um parente portador de uma lógica singular considerada maluquice, mas a família morre de vergonha, dá um jeito de esconder. Por quê? Porque vivemos numa sociedade em que incorporamos os modelitos do consumismo. Não somos capazes de amar o diferente. Buscamos a semelhança. Ou melhor, reinventar-nos à imagem e semelhança dos atores e atrizes, atletas e apresentadores(as) de TV que servem de paradigmas consumistas.

O que aconteceu em Porto Seguro, em abril, foi algo mais grave do que a imprensa fala. Não nos assumimos como nação brasileira, com as nossas raízes. Uso uma metáfora: tenho um filho deficiente mental, dou uma festa na minha casa e dou um jeito de sumir com esse menino. Porque se ele aparecer na festa quebra o clima. Mas, em plena festa, o menino aparece.

Foi isso que ocorreu em Porto Seguro. Os povos indígenas sempre foram considerados, pela nossa cultura segregacionista, como esse menino que tem de ficar lá no mato, porque decidimos que somos descendentes dos europeus.

Basta recordar que o Brasil sempre esteve de costas para a América Latina. Todo o desenvolvimento brasileiro se deu na faixa litorânea. A nossa proximidade com a Europa e, mais recentemente, com os Estados Unidos, é muito maior do que a nossa proximidade com o continente latino-americano. Talvez sejamos o povo que tem menos sentimento de latino-americanidade. Agora, raízes indígenas, nem falar...

Por quê? Porque temos uma enorme dificuldade de nos assumir como povo brasileiro, não fomos educados para isso, não entendemos o significado dos povos indígenas. Eles representam uma reserva antropológica única no planeta. Temo que, assim como hoje crianças brincam com dinossauros, num clima de certa nostalgia, com pena daqueles bichões terem desaparecido, daqui a 200 anos talvez venham a brincar com indiozinhos, e quem sabe um menino dirá para o outro: "O vovô, quando era criança, viu um índio vivo na televisão".

Olhamos o índio a partir do que nós temos e eles não têm. A dificuldade é fazer o exercício contrário. O que eles têm que eu não tenho? Eles não têm apropriação privada de bens, não têm miséria - estou falando de índios aldeados, aqueles que ainda estão tribalizados -, não têm indiferença a quem sofre, não têm marginalização de idosos e crianças. Eles têm um profundo espírito de solidariedade.

O Brasil abriga, hoje, cerca de 350 mil índios, distribuídos entre 215 etnias que dominam 186 diferentes idiomas. E ainda há quem repita que, neste país, só se fala uma língua...

Há pouco estive numa empresa de correio privado que promove seminários internos para elevar o nível de cidadania dos seus funcionários. O vice-presidente da empresa abriu a sessão dizendo: "Olha, precisamos crescer em consciência de cidadania; ontem vi na televisão aquela manifestação em Washington contra o FMI e fiquei pensando: se o brasileiro tivesse o mínimo de consciência de cidadania, nós estaríamos fazendo o mesmo na porta do Tribunal de Contas no Município de São Paulo. Com essas denúncias contra o prefeito... Mas ninguém sequer passa lá com o carro e dá uma buzinada".

Falei para mim: "Poxa, alguma coisa está mudando nesse país, onde uma empresa está preocupada com o crescimento da consciência cidadã". Hoje, muitas empresas admitem que falsos valores, como a competitividade, entram tanto na cabeça dos funcionários, que eles acabam competindo, na mesma empresa, entre si. Aí emperra a coisa. Porque a competição deve ser de empresa a empresa. Mas a idéia de que tenho de competir, tenho de passar por cima do meu colega do trabalho, acaba predominando.

É como o problema da vacina da Aids. Penso que vai demorar a ser descoberta. Por quê? Porque o cientista que descobriu, na França, uma proteína, não fala para o outro que descobriu nos Estados Unidos uma enzima. Todo mundo quer ser o primeiro a chegar no pódio. Até porque se sabe que, quem chegar primeiro, vai lucrar com a vacina, no primeiro ano, US$ 10 bilhões. Se houvesse cooperação, talvez já existisse vacina para Aids.

Infelizmente não há o mesmo empenho para se aplicar a vacina contra a fome, que mata muito mais do que a Aids. A vacina é um prato de comida por dia. Mas como a fome faz distinção de classe, e a Aids não, então temos, em Santa Mônica (EUA), a Fundação Elizabeth Taylor Contra a Aids, mas não a Fundação Elizabeth Taylor Contra a Fome.

Existe um outro problema além da fome e que, como a Aids, não faz distinção de classe: a destruição do meio ambiente. Estamos numa nave espacial chamada Terra que, como os aviões transcontinentais, é dividida em primeira classe, classes executiva e econômica. Mas, na hora que cai, morre todo mundo igual. (Dizem que a Boeing está inventando uma primeira classe ejetável. Você paga US$ 20 mil para dar adeusinho para os demais). Mas, enquanto não se inventa isso, todos somos indistintamente afetados pelas questões do meio ambiente.

1

SOCIEDADE AMIGOS: UMA LASCA DA IMENSIDÃO...

                   SURPRESAS DO VIVER
                                        Anne M Moor


O inesperado por vezes é o sumo da vida
Vem no seu tempo, a sua maneira
Porta de madeira de lei
Esculpida por mestres do viver
Surge frente aos olhos
Criando uma comunhão de almas
Uma eucaristia intelectual e espiritual
Em um estar imperfeito
De prazer


do blog: http://anne-lifeliving.blogspot.com/



MESTRES DO CAMINHO: SOBRE A SIMPLICIDADE

                                 REFLEXÕES:


- "Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho." Clarice Lispector

- "A simplicidade é o último degrau da sabedoria." Khalil Gibran

- "A beleza ideal está na simplicidade calma e serena. "Johann Goethe

 - "Simplicidade é isso: Quando o coração busca uma coisa só.
Concerto para Corpo e Alma " Rubem Alves




DORES NO CORPO DA VIDA, EXCLUSÃO... O AMOR CAMINHA E SONHA COM O GRITO DOS OPRIMIDOS. CAMINHOS DE LIBERTAÇÃO

cruz da exclusão:
genocídio            morte
               civis
amordaçados
     cabisbaixos
            martirizados
no chão da rua 
          deserto
               solidão...
flores capadas nas sevícias; ovo
quebrado... canto no porão e  a
vida: lua minguante...    rogativa:
um grito... no silêncio... acorda
           os deuses
                as aves
                    Marias
- o mundo chora e espera  na
           germinação
                 na praça
                        sonhos...
o fim do medo....
                        libertação... 
                           jorge bichuetti


nem ouro, nem prata...
quero um tempo para amar...
nem trono, nem fuzil...
quero meu direito de sonhar...


ENTRE PEDRAS, FLORES...
ENTRE ESPINHOS, SONHOS...


07 DE SETEMBRO - 9:000- NA PRAÇA DA IGREJINHA DE SANTA RITA...
PELA LIBERDADE, POR JUSTIÇA SOCIAL... 
POR CIDADANIA E PAZ... 
POR IGUALDADE E TERNURA... 
POR AMOR E SOLIDARIEDADE; INCLUSÃO SOCIAL...


          O GRITO DOS EXCLUÍDOS


DO NIILISMO À ESPERANÇA MILITANTE QUE CAMINHA NO HORIZONTE DAS LUTAS

            De céticos a cínicos

                           Emir Sader

O ceticismo parece um bom refúgio em tempos em que já se decretou o fim das utopias, o fim do socialismo, até mesmo o fim da história. É mais cômodo dizer que não se acredita em nada, que tudo é igual, que nada vale a pena. O socialismo teria dado em tiranias, a política em corrupção, os ideais em interesses. A natureza humana seria essencialmente ruim: egoísta, violenta, propensa à corrupção.

Nesse cenário, só restaria não acreditar em nada, para o que é indispensável desqualificar tudo, aderir ao cambalache: nada é melhor, tudo é igual. Exercer o ceticismo significa tratar de afirmar que nenhuma alternativa é possível, nenhuma tem credibilidade. Umas são péssimas, outras impossíveis. Alguns órgãos, como já foi dito, são máquinas de destruir reputações. Porque se alguém é respeitável, se alguma alternativa demonstra que pode conquistar apoios e protagonizar processos de melhoria efetiva da realidade, o ceticismo não se justificaria.

Na realidade o ceticismo se revela, rapidamente, na realidade, ser um cinismo, em que tanto faz como tanto fez, uma justificativa para a inércia, para deixar que tudo continue como está. Ainda mais que o ceticismo-cinismo está a serviço dos poderes dominantes, que costumam empregar esses otavinhos, dando-lhes espaço e emprego.

Seu discurso é que o mundo está cada vez pior , à beira da catástrofe ecológica, tudo desmorona e outros cataclismos. Concitam a essa visão pessimista, ao ceticismo e a somar-se à inercia, que permite que os poderosos sigam dominando, os exploradores sigam explorando, os enganadores – como eles – sigam enganando.

Por mais que digam que tudo está pior, que o século passado foi um horror – como se o mundo estivesse melhor no século XIX -, que nada vale a pena, não podem analisar a realidade em concreto. Para não ir mais longe, basta tomar a América Latina – tema sobre o qual a ignorância dessa gente é especialmente acentuada. Impossível não considerar que o século XX foi o mais importante da sua história, o primeira em que a região começou a ser protagonista da sua historia. De economias agro exportadoras, se avançou para economias industrializadas em vários países, para a urbanização , para a construção de sistemas públicos de educação e de saúde, para o desenvolvimento do movimento operário e dos direitos dos trabalhadores.

Mas bastaria concentrar-nos no período recente, no mundo atual, para nos darmos conta de que as sociedades latino-americanas – o continente mais desigual do mundo – ou pelo menos a maioria delas, avançaram muito na superação das desigualdades e da miséria. Ainda mais em contraste com os países do centro do capitalismo, referência central para os cético-cínicos, que giram em falso em torno de políticas que a América Latina já superou.

As populações da Venezuela, da Bolívia, do Equador, estão vivendo muito melhor do que antes dos governos de Hugo Chavez, de Evo Morales e de Rafael Correa. A Argentina dos Kirdhcner esta’ muito melhor do que com Menem. O Brasil de Lula e de Dilma esta’ muito melhor do que com FHC.

Mas o ceticismo-cinismo desconhece a realidade concreta, não conhece a história. É pura ideologia, estado de ânimo, que dá cobertura aos poderosos, lado que escolheram, ao optar por deixar o mundo como ele está. Trata de passar sentimentos de angustia diante dos problemas do mundo, mas é apenas uma isca para fazer passar melhor seu compromisso com que o mundo não mude, continue igual. Até porque a vida está bem boa para eles que comem da mão dos ricos e poderosos.

Ser otimista não é desconsiderar os graves problemas de toda ordem que o mundo vive, não porque a natureza humana seja ruim por essência, mas porque vivemos em um sistema centrado no lucro e não nas necessidades humanas – o capitalismo, na sua era neoliberal. Desconhecer as raízes históricas dos problemas, não compreender que é um sistema construído historicamente e que, portanto, pode ser desconstruído, que teve começo, tem meio e pode ter fim. Que a história humana é sempre um processo aberto de alternativas e que triunfam as alternativas que conseguem superar esse ceticismo-cinismo que joga água no moinho de deixar tudo como está, pela ação consciente, organizada, solidária dos homens e mulheres concretamente existentes.

FONTE: CARTA MAIOR; O BLOG DO EMIR


DIÁRIO DE BORDO: POR UMA NOVA SUAVIDADE

                                              Jorge Bichuetti

O alvorecer coloriu o céu com ternura e suavidade... Os passarinhos cantaram a leveza da vida que entre as nuvens e o horizonte azul tecem a mensagem  de harmonia e paz... A brisa matinal e o orvalho me acariciaram quando reverente despedi-me do luar e abracei a chegada do sol... Os álamos bailam, na mansuetude graciosa das cirandas e das rodas onde o ser humano se une ao outro e sente-se, num pleonasmo de alegria, uma só humanidade...
A vida , velozmente, consome o tempo... Rodopiamos nos minutos e pisoteamos nos séculos vividos...
O ser humano já não suporta a vida por ele criada: criamos um mundo de hostilidade e competição, de orgulho e vaidade, de individualismo e egoísmo... criamos um mundo de guerras, violências e exclusões... Um mundo bélico, um mundo de desamor...
Rezamos, rogando paz; porém, contaminando os altares com as fuligens dos nossos fuzis...
Somos um mundo de paranóia... Há sempre um perseguidor, um inimigo...
Nas relações materiais, buscamos enriquecer sobre a exploração do trabalho alheio e sobre as vantagens das nossas espertezas no mercado...
Nas relações pessoais: somos brutos, rígidos, moralistas... Discriminamos, marginalizamos... Excluímos... E sempre queremos nocautear o próximo, conquistando o que chamamos de nosso valor e poder, humilhando, vencendo, derrotando... Deixamos no chão, sempre, alguém caída em cada uma das nossas vitórias...
Contudo, agora parece que ou mudamos ou viveremos na barbárie...
Produzimos um oceano de sangue e lágrimas... E neste oceano, vemos o mundo naufragar-se... Estamos agonizantes na asfixia das águas pestilentas que nós mesmos inventamos numa racionalidade de ódio e desamor...
É hora de mudar...
A nossa Mãe Terra já lançou seus apelos, e ela grita desespera em cada tufão, nos vulcões, nas tempestades, no aquecimento global, nos tsunamis...
Ou inventamos um novo mundo, um novo tempo; ou seremos os dinossauros pós-modernos ossificados na morte que tecemos quando a vida depositou em nossas mãos o destino do planeta...
É hora... Urge criar um mundo de ternura e suavidade, de amor e paz... Um mundo onde solidariedade substitua a competição; onde a paz se imponha e extermine com as  guerras... onde a generosidade e a mansuetude nos leve a con-viver vendo no outro a nossa própria vida, vida de humanidade...
Ainda temos tempo...
Mas, inclemente, o relógio gira... precisamos agir...
Por uma nova suavidade, lutemos...
Reinventemos nossos caminhos e sonhos...
O destino mora nas nossas mãos...
Cuidemos da vida... Das florestas, da biodiversidade, da sustentabilidade...
Cuidemos da vida... O outro é suor, lágrima, sangue da humanidade... Cuidemos de todos com compaixão e generosidade, ternura e misericórdia... justiça social e cidadania...
Cuidemos da vida... e a deixemos guiar os caminhos da história, pois a essência da vida é amor incondicional e sem fronteiras...
Tudo passará... mas, o amor permanecerá como fonte de vida... e é ele a nossa única esperança...

POESIA: VOOS DA UTOPIA

                                    NA POEIRA ESTELAR...
                                                 Jorge Bichuetti


Na poeira estelas, um brilho florescente
ilumina e, de lá. eu vejo,
eu vejo nosso mundo demente...
As estrelas bailam no céu;
do alto, espiam o chão e
choram lamuriantes
com os véus da escuridão...


No céu, há brilho e beleza... e há lagrimas
que nascem tristes e corrosivas,
ante o choro que longe se escuta
dos que vão pelo caminho,
agonizantes e febris,
trazendo o corpo marcado
pelas chibatas da exclusão...


          UTOPIA TECIDA NAS MÃOS
                                         Jorge Bichuetti


Meus sonhos os teço co'as mãos
feridas que parem na esperança
um mundo cheio de flores, aves
voando na amplidão...


Com restos dos sonhos antigos,
sonhos maltratados nlo tempo,
recomponho-os na luminosidade
de ver o amor e a ternura parirem
um tempo de compaixão...


Novo tempo, vida nova: remoçada na alegria,
pkena de solidariedade, leve 
nas asas da poesia....

Um mundo diverso e belo: pródigo
de paz e harmonia; nele, a vida 
florescerá
caminhos de liberdade
nos voos da utopia...


MESTRES DO CAMINHO: SOBRE A SOLIDÃO...

                                    REFLEXÕES:
"Somos todos desertos povoados de tribos, faunas e floras." Deleuze


07 DE SETEMBRO: O GRITO DOS EXCLUÍDOS...
NA PRAÇINHA DA IGREJINHA SANTA RITA... ÀS 9:00
PELA VIDA: JUSTIÇA SOCIAL E IGUALDADE, SOLIDARIEDADE E TERNURA - INCLUSÃO SOCIAL...


 O GRITO DOS EXCLUÍDOS

BONS ENCONTROS: A EXLUSÃO NA POESIA DE MANUEL BANDEIRA

               O Bicho
                    MANUEL BANDEIRA


Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.


SOCIEDADE DE AMIGOS: NO CANTO, A DOR E OS AMORES DO POVO

                      CANTIGO DO POVO
                   EDUMANES - Eduardo - Alentejo - Portugal
 

Somos espinho e flor
Somos tudo e nada
Sofremos de dor
Na fria madrugada
No dia com calor
Estamos sempre ao dispor
O perigo anda na estrada
Somos povo trabalhador
Temos pouco ou quase nada
Mas vivemos com amor.


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

AMORES: FLOR E ESPINHO... VIDAS QUE BORBOLETEIAM NO CÉU DA INCLUSÃO...

Se somos
            espinho e flor
               sol e lua
somos o amor
       onde  o vento
teceu a lonjura...
Podemos chorar no adeus;
ou pontear nosso encontro
nas asas do beija-flor...
borboletear o amor e
        seguir entre estrelas
num encanto da ternura,
onde o horizonte supera a dor... 
                                      jorge bichuetti


  aspereza
           fel e o punhal
na flor
                       trança
desamor...


          o espinho
no mel do carinho
                      cresce 
ardor...              um
        ponteio
do violar do amor... 
                                jorge bichuetti


lua
    nos luares 
brinca
      teu olhar
mimosa flor... 
                   jorge bichuetti



ENTRE PEDRAS, FLORES...
ENTRE ESPINHOS, SONHOS...
A VIDA VOA NAS ASAS DA LIBERDADE...


O BLOG UTOPIA ATIVA CONVOCA A TODOS PARA QUE ESTEJAMOS JUNTOS NA CAMINHADA DE LUTA POR UM MUNDO DE JUSTIÇA E PAZ... POR SOLIDARIEDADE E TERNURA, INCLUSÃO SOCIAL...

                O GRITO DOS EXCLUÍDOS


07 DE SETEMBRO: 9:00- NA PRAÇA DA IGREJINHA SANTA RITA; UBERABA-MG


MILTON SANTOS: GLOBALIZAÇÃO E ESPERANÇA; UM OUTRO MUNDO É POSSIVEL...

                       Milton Santos

Por Marie-Hélène Tiercelin dos Santos com títulos de Jacques Levy
1926-2001
Bacharel em Direito, Universidade Federal da Bahia (1948)
Doutor em Geografia, Universidade de Strasbourg (1958), sob orientação do Prof. Jean Tricart

1948-1964. Um pesquisador implicado na realidade local
Até 1964, ano em que deixa o Brasil em razão do golpe militar,  ele conduz paralelamente uma carreira acadêmica e atividades públicas. Jornalista e redator do jornal A Tarde (1954-1964), professor de geografia humana na Universidade Católica de Salvador (1956-1960), professor catedrático de geografia humana na Universidade Federal da Bahia onde cria o Laboratório de Geociências, será diretor da Imprensa Oficial da Bahia (1959-1961), presidente da Fundação Comissão de Planejamento Econômico do Estado da Bahia (1962-1964), e representante da Casa Civil do presidente Janio Quadros na Bahia, em 1961. Suas pesquisas e publicações da época focalizam as realidades locais, principalmente a capital – a tese de doutorado é intitulada O Centro da Cidade de Salvador – assim como as cidades e a região do Recôncavo.
1964-1977. Um pesquisador viajante
Em 1964, começa uma carreira internacional imposta pela situação política no Brasil. Primeiro na França, professor convidado nas universidades de Toulouse, Bordeaux e Paris-Sorbonne, e no IEDES (Instituto de Estudos do Desenvolvimento Econômico e Social). De 1971 a 1977, inicia uma carreira verdadeiramente itinerante, ao sabor dos convites: no MIT (Massachusetts Institute of Technology – Boston) como pesquisador; e como professor convidado nas universidades de Toronto (Canadá), Caracas (Venezuela), Dar-es-Salam (Tanzânia), Columbia University (New York). Esse período  abre uma longa caminhada em direção a teorização em geografia, com o intenso aproveitamento das ricas bibliotecas das grandes universidades. Primeiro uma ampliação do foco com o livro Les Villes Du Tiers Monde, 1971, onde já aparece o interesse em estudar as peculiaridades da economia urbana dos países então chamados  subdesenvolvidos, caracterizada pelos seus dois circuitos, superior e inferior, e resultando no livro L’Espace Partagé: les deux circuits de l’économie des pays sous-développés publicado em francês em 1975, em inglês e português em 1979.
1977-2001. Um pesquisador engajado
Em 1977, retorna ao Brasil. Passam-se dois anos antes de conseguir voltar a ensinar na universidade brasileira, primeiro na Universidade Federal do Rio de Janeiro, de 1979 a 1983, ano em que ingressa por concurso na Universidade de São Paulo, professor titular de geografia humana até a aposentadoria compulsória, recebendo o título de Professor Emérito da USP em 1997 e continuando a pesquisar, publicar e orientar estudantes até o final de sua vida.Será reintegrado oficialmente à Universidade Federal da Bahia em 1995, da qual tinha sido demitido por “ausência”. Doze universidades brasileiras e sete universidades estrangeiras lhe outorgaram o titulo de Doutor Honoris Causa.
Em 1994, recebe o Prêmio Internacional de Geografia Vautrin Lud. Nesta última fase de seu percurso, publica Por uma Geografia Nova, da crítica da geografia a uma geografia crítica (1978), contribuição à efervescência e ânsia de renovação dessa ciência no Brasil . O espaço é definido como uma instancia social ativa, a noção de formação sócio-espacial introduzida. As pesquisas, as aulas e as publicações resultantes tencionam um esforço epistemológico para dotar a geografia latino-americana de categorias de análise apropriadas.
O estudo do meio técnico-científico-informacional deve permitir entender a organização do espaço no período histórico atual. Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico informacional (1994), Da totalidade ao lugar (1996), Metamorfose do espaço habitado (1997), são algumas dessas publicações que desembocam na sua obra maior (no seu livro maior?): A Natureza do Espaço (1996), que quer ser “uma teoria geral do espaço humano, uma contribuição da geografia `reconstrução da teoria social”. Enfim, em 2000, publica Por uma outra globalização, do pensamento único à consciência universal.



DIÁRIO DE BORDO: VIA CRUCIS DE UM POVO

                                   Jorge Bichuetti

No meu quintal, claro e iluminado pelo brilho das estrelas, ouvi o vento que musicava o bailado dos álamos... Silêncio e paz... Uma profunda serenidade... O luar andava oculto... O procurei; depois, entendi e me pus a escutar o vento... Luínha me acompanhava quieta e atenciosa; creio que para ela magia e poesia são canais para o infinito... No vento, recordei de muitos que vejo pelas ruas: caídos, famintos... sequiosos de carinho e atenção... Conclui que o calvário é uma epopeia de dor, infelizmente, repetida, revivida, diariamente, pelos que caminham perambulando nos becos da desvalia...
A noite silenciosa, se com ela dialogamos, nos conta... das dores do nosso povo... povo altivo e alegre; porém, povo sofrido e machucado no calvário da exclusão...
Não construimos um mundo para todos... O mundo é de alguns... e a maioria vive nele suportando as chagas da miséria e da estigmatização, da marginalidade e da desvalia... Excluídos dos bens e espaços de abundância; contudo, povo nosso, nossa gente...
O socius vê o manejo das elites que querem torná-los invisíveis...
Todavia, eles estão na vida olhando nos nossos olhos... Olhar tímido de quem já foi cruelmente rejeitado.
Palavra marota de quem tenta não afrontar... pois o nosso povo é no dia-a-dia povo mortificado, negado, violentado...
Relembro o calvário e percebendo que ele permanece... ouço perguntar... Nele, que papel desempenhamos?...
Somos a solidariedade e a compaixão do anônimo Cirineu, o camponês Simeão? Simeão ante a dor do Cristo caído, carregou por três vezes a sua cruz...
Somos As mulheres piedosas e ternas que partilharam o Mestre dos Mestres as dores da vida, aos pés da cruz, na companhia singela e amorosa de João?...
Ou diante, do nosso povo excluído, que é povo crucificado somos: 
- a irresponsabilidade e a maldade coletiva dos que gritavam o colocando na Cruz em troca da liberdade de Barrabás?...
- a omissão e a covardia de Pilatos que lava as mãos e com a consciência anestesiada volta para as alegrias de seus tresloucados festins?...
- o espírito bélico e higienista de Herodes  e das Sinagogas?...
- ou somos, a traição de Judas, o medo de Pedro, a vacilação na dúvida de Tomé?
Quantos personagens!... quantas atitudes!...
Assim, o é... diante do povo excluído, povo crucificado...
Vemos suas lágrimas, sentimos a angústia de suas dores, observamos as feridas que sangram...
E o que fazemos?....
Nesta reflexão, queríamos relembrar do nosso compromisso histórico com o povo oprimido e excluído... O calvário é o drama da crueldade da exclusão... Nele, a vida nos clama piedade, misericórdia, compaixão e solidariedade...
Lutemos...
A covardia e o medo é atrofiamento do coração; aviltamento da nossa humanidade...
Ante dor dos excluídos, que o clamor da justiça nos leve aos páramos das ações dignificantes do amor vivo e atuante... O resto é silêncio...


                   justiça e paz, solidariedade....
07 de setembro - o grito dos excluídos: 
9:00 - praça da igrejinha de santa rita