sábado, 17 de setembro de 2011

DIÁRIO DE BORDO: NOSSO CRESCIMENTO É O DE ACORDAR O INFINITO QUE HABITA A NOSSA PEQUENEZ...

                                           Jorge Bichuetti

A lua crescente, as estrelas... o vento ruflando as miúdas folhas dos álamos... o cheiro de terra orvalhada... Ali, no meu quintal, mergulhei no infinito e o vi, imenso e esplendoroso, tanto quanto me senti pequeno... um cisco na imensidão...
Há uma suavidade no céu estrelado que parece a reza terna e ardorosa das mulheres piedosas que se dão à oração como se abraçassem num só instante a dor e a medicação, a flor e o espinho, a vida e o Grande Espírito Criador...
Dialoguei, escutando, no silêncio, a natureza... Contemplativo, me vi contemplado...
Quis matematizar minha pequenez, envergonhado dos meus erros e equívocos... da minha humanidade...
Assustei-me, percebendo que o infinito era só encantamento, esperança viva... amor tresloucado, incomensurável... era o belo irradiando beleza... era abraço de compaixão...
Percebi que a severidade, que a condenação, que culpabilização eram processos oriundo da onipotência humana.
Quando nos culpabilizamos, nos criticamos e nos condenamos... criamos em nós mecanismos de auto-punição... auto-flagelação... auto-destrutividade...
Acreditamos na nossa severidade moralista que consertamos o outro, vitimizando-o com nossos juízos cruéis que os humilham e fragilizam...Humilhados, discriminados, fragilizados, eles, então, recebem no nosso arbítrio uma sentença de morte...
Se queremos produzir vida e alegria... crescimento e emancipação... precisamos conviver, longe do trono dos juízos implacáveis... das sentenças estigmatizantes... e da nossa miopia que enxerga, em si próprio e no outro, tão-somente, as quedas... as obscuridades...
No aconchego do meu quintal, nunca me senti no banco dos réus... Sempre vivenciei o carinho e a ternura da natureza que , simplesmente, me acolhia... despertando em mim potências e sonhos...
O infinito nos revela pequenos e nos faz sentir grandiosos... Nos dá consciência da nossa pequenez;, porém, nos convida para a grande sinfonia do amor universal...
Nada vida maltratamos, frequentemente, o humano... pesamos defeitos, nunca vemos suas lutas e suas potências adormecias...
Educar-clinicar-amar é acordar no outro as potências adormecidas...
Recordo aqui Deleuze: " eu não quero ser a má consciência do mundo"...
Não queria ser o juiz dos erros e equívocos alheios...
Não queria ser o investigador e o árbitro das lutas do outro....
Educar-clinicar-amar é agenciar na pequenez do humano o infinito ali presente... desejando ser parido, ganhar o caminho, virar sonhos...
Por detrás da nossa covardia, há um guerreiro...
Por detrás da nossa fragilidade humano, há um anjo...
Assim, educar, clinicar, amar é despertar, acolher, dar vida ao guerreiro ao anjo que todos carregamos como potência da vida incrustada na medula da nossa existência...
Neste sentido, descobrimos que educar-clinicar-amar são obras da ternura e da compaixão; são frutificações do amor incondicional...

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