terça-feira, 20 de setembro de 2011

ENTRANHAS DA DESTRUTIVIDADE: O ABISMO E DESPENHADEIRO...

                                        Jorge Bichuetti

No céu, o sol brilha... Astro luminoso, clarão da vida... Ele, que é tão amado, não compreende o que vê no chão onde deposita com seus raios a fertilidade e a germinação...
Há no mundo um cheiro de morte... há ruínas, devastação...
No Xingu, um índio, mira o alto e contemplando o sol, chora... chora pela vida que anda perdendo seus filhos para as forças que se erguem sombrias... forjando na morte um caminho para o fim... o fim da linha... do horizonte; o fim do mundo de diversidade, beleza e ternura, com as matas verdejantes e a tribo numa roda volteando a fogueira na poesia do amor que é gratidão celebrada na vida de comunhão...
Na sarjeta, um menino agoniza... entre a fome e a overdose... lacrimeja doído: nunca pode rodar o pião, nem sonhou no colorido das suaves e bailarinas bolhas de sabão... Desde cedo, foi tragado pelo redemoinho da exclusão... Agora, vê a morte...  na cegueira do mundo que soma dividendos, estropiando a multidão...
Lixo, poluição... fome, exploração... violência, fascismo... mundo de mutilações que tecnificado nos coloca lado a lado nas ondas da informação; porém, mundo de futilidade: estando juntos, não podemos caminhar nos dando as mãos...
Guerra, ozônio corroído... queimadas... tribos dissimadas... Na lógica do progresso, os fins justificam os meios , mesmo quando são os meios do fim...
Quem falará?... Quem gritará?... quem irá dizer: Basta! Não!...
Fannon sustenta que violentados, tendemos a a violar os que nos são iguais ou inferiores... Não tendência natural: suspiro no mundo fechado, enclausurado no dinamismo da destruição...
Pessoa procura e pergunta: pela gente humana... frágil medrosa... mas humano...
Silenciar, ante a destrutividade  que impera, é desumanizar-se, aviltar-se, mumificar-se numa vida sem sentido... ou num existir dos sentidos que usufruem ou são usufruídos, contudo, nunca vivem na vida verdadeira que se mantém na luta por conter a destrutividade, fomentando o criar e a procriação...
Os índios no Xingu... os meninos nas cracolândias... nós, na mesmice medíocre... somos a sucata da roda que gira na ganância do mercado, incremento e excremento da vileza da exploração...
Quem ousará decretar , para todos, o direito e o dever de ser... na vida... vida de ternura e compaixão...
Quem ditará por caminho no roteiro do destino... as vias da solidariedade... que sendo vida generosa é força de produção da vida afirmativa que se renova e remoça no cio da esperança, canto do universo ecoado  num átrio de um bondoso coração...
Quem pedirá urgência... na implantação da paz... serenidade e leveza... vida entrelaçada no rizoma da brandura que floresce e outorgam que as flores possam agir, calando a voz dos canhões...
O tempo passa... o mundo gira...
O futuro?... a nós pertence: far-o-emos... Estamos tecendo com nossas atitudes: na nossa esperança amorosa e ativa ou na nossa envergonhada omissão...

2 comentários:

Anônimo disse...

Belas suas palavras, como sempre são.
Denunciam uma realidade tão cinza quanto a fumaça que escapa de nossos motorizados rumando à guerra cotidiana.
Mas inocentemente fico pensando. O que faz ou pode fazer com que tais palavras sejam mais que palavras? Ações? Então pergunto: O que faria as ações serem mais que ações? Onde se encontra o ponto que transforma tais afazeres ditos e tidos como revolucionários, ações revolucionárias de fato. O que é possível ser feito para amenizar a inocuidade das pequenas ações instituintes frente ao império? E pior, como evitar a captura? A produção de anti-produção e queda no buraco negro. Lembremos que a revolução que falha é a única que mantem seu espirito libertário, pois não se converte em um novo Estado. Por outro lado, por trás de todo fascismo existe também a revolução incompleta.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Amigo, penso que este debate vivo nos conduzirá a efervescência vital criativa... hoje, refletir é supérfuo; o consumo, absoluto... Cá entre meus álamos: pensamos- um conjunto de ações insituintes vão se conectando e tecendo redes de produção de vida... e será tanta vida que o horizonte clamará pela revolução... e uma revolução que é rizoma na base é permanente mutações criativas que evitam o fascismo reinstalado numa burocracia... abs ternos, jorge