sexta-feira, 18 de novembro de 2011

BONS ENCONTROS: ENTRE A FINITUDE E A ETERNIDADE; MANUEL BANDEIRA

       Profundamente
             Manuel Bandeira  
Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Vozes cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?


— Estavam todos dormindo

Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.


Quando eu tinha seis anos

Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci.


Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo

Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.



 

2 comentários:

Concha Rousia disse...

Como é grande Manuel Bandeira, adoro o seu profundo poetar, obrigada por nos oferecer ele, e nos colocar a nós perto, alegria de visitar esta Utopia que nos ativa ;) Beijos

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Concha, o Bandeira nos humaniza... é uma poesia celestial no prosaico do cotidiano; abraços com carinho, jorge