sexta-feira, 18 de novembro de 2011

DIÁRIO DE BORDO: VIDA-PASSARINHEIRA...

                                    Jorge Bichuetti

Quintal orvalhado; cheiro de mato... perfume de flores... Canto de passarinhos... Amanhecemos, um novo dia.
Entre as brincadeiras da Luinha, tomei um xícara de café forte, com saudades... O tempo passa e vai deixando suas cicatrizes... Reerguemos das quedas e persistimos na luta... Lutamos, com bravura... No meio de tantas lutas, o meu coração mira o infinito e tenta desvendar o por que... Seria tão mais simples que o mundo já fosse um lar, um ninho... um en-canto para todos...
Muitos choram; muitos se arrastam, oprimidos, marginalizados, explorados...
A humanidade persiste des-umanidade; com a injustiça e a exclusão mobilizando nos corações acordados indignação e rebeldia.
Assim, algo que um dia me encantou sem que eu questionasse; volta, agora, como uma indagação valiosa: o que é u'a vida passarinheira?...
Nietzsche, assim, se definiu: um velho passarinheiro...
Olho o meu quintal, olho nos olhos dos meus amigos... olho no coração dos guerreiros... procurando uma resposta, pois eu quero passarinhar...
Nos poderosos e nos brutos, não vejo as asas e voo alegre e suave dos encantados passarinhos que tecem a alvorada.
A vida-passarinheira é dionísica; é potência do voo libertário e canto altivo da ternura solidária... é vida verdejante; vida de amores e flores... ninhos e carinhos...uma presença épica que fascina e passa... um estar faceiro que clandestinamente semeia novas floradas...
Ah! a vida-passarinheira é um ser e estar, alheio às repressões e opressões da vida de gaiola que retrata o nosso mundo paranóico, narcísico e de perseguições...
Penso que ser vida-passarinheira é ser sementeira do amanhã... ação ativa anti-fascista... um agir inovador... um ousar ir-se pelo mundo apaixonado pelo horizonte azul, alheio aos cantos de sereia que nos capturam e nos aprisionam na sedução do vil metal.
A vida-passarinnheira é revoada, cantoria... luta pela liberdade, guerrilha pelo alvorecer de um novo tempo, o tempo da suavidade...
Os passarinhos cantam... voam... se aninham... vivem e deixam viver...
Os passarinhos fecundam na aridez do chão cinzento as novas flores que brotarão, instituindo u'a nova e eterna primavera...
Se queremos ter vida-passarinheira semeemos floradas enternecidas de paz e esperança no coração da vida, nos poros do mundo, nas entranhas do outro que conosco compõe os destinos da humanidade...

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