quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

BONS ENCONTROS: AMOR - LIBERDADE OU PRISÃO; A PROBLEMÁTICA DA DEPENDÊNCIA AFETIVA...

                       DEPENDÊNCIA AFETIVA
                                          Walnei Arenque

 Por muitos anos eu trabalhei e estudei a dependência química; foram muitos anos de convivência com esta doença, e com isso muita aprendizagem.
Sempre atenta a tudo, fiquei muito intrigada com relação à dependência, isso porque fui percebendo que não verificava os sintomas apenas nos dependentes químicos ou sexuais, percebia os mesmos sintomas em situações de pessoas para pessoas. Como assim? Vamos a uma simulação:
Mariazinha é apaixonada por Joãozinho, diz que não consegue viver sem ele e que o fato dele não querer mais o relacionamento a deixa um tanto nervosa, ansiosa, angustiada. Passa o dia inteiro pensando nele, em como ter o mínimo de atenção e faz de tudo para ter uma migalha dessa atenção.
 Joãozinho, por sua vez, já está em outra situação, e como sempre recebe notícias dela, por ela mesma, resolve então uma vez a cada tempo (indefinido) responder.
Mariazinha sofre demais, chora, fica inquieta, ansiosa. Quando um dia Joãozinho aparece, mesmo que num mísero telefonema para falar "oi", Mariazinha fica outra, alegre, desperta, saciada. O tempo passa e ela vai perdendo esta motivação na espera de um novo "aparecer" de Joãozinho. E todo o sentimento de angústia e desespero toma conta dela novamente...
Aqui contei uma breve historinha, que, com outras nuances e particularidades, muitas pessoas passam.
 Entendemos que esta pessoa tem sintomas muito semelhantes à de um dependente químico, que quando tem acesso às drogas, ficam saciados para logo depois estarem sedentos novamente pela droga. Mariazinha fica igualmente sedenta e quando tem Joãozinho fica se sentindo saciada, mas logo depois tudo volta a ser de uma angústia imensa até o próximo contato com Joãozinho, a droga dela.
A nossa personagem passará a condicionar seu comportamento sempre de modo a obter a aprovação daquele a quem ela formou este elo dependente. Ainda em casos mais graves vemos Mariazinhas submetendo-se a humilhações, abusos, explorações e toda sorte de desrespeito, simplesmente para garantir que o ser amado (será amado mesmo?) não a abandone.
Quando uma pessoa se encontra nesta situação percebemos que elas não passam pelo tempo da "síndrome de abstinência" ou quando estão exatamente nela, recorrem a Joãozinho, e prometem que só aquele contato já será esclarecedor e "nunca mais seguirá as sombras de Joãozinho". Vejam: "Nunca mais" e "Esta foi a última vez" são sentenças bem conhecidas e discursadas na dependência química, "só um último gole (contato)", passando aí a uma ilusão de permanência. Somente com muito trabalho é que esse "nunca mais" será um "NUNCA MAIS".
A compulsão em buscar o objeto de dependência muitas vezes é maior, é como se Mariazinha acreditasse que só Joãozinho iria preencher e nunca mais precisaria dele. Ilusão de Mariazinha... O desconforto logo virá e ela possivelmente não será capaz de segurar a síndrome de abstinência. Quando um dependente químico em tratamento tem suas recaídas, possivelmente recai na síndrome de abstinência e, para ter sua doença em controle, precisa passar pela síndrome de abstinência.
 Mariazinha quando não tem nenhuma notícia de Joãozinho, fica sem sono, irritada, ansiosa, com sintomas depressivos, distúrbios alimentares (ou come muito ou não come nada), desiludida da vida e por aí vai... Tal qual na dependência química.
Portanto, Mariazinha, na verdade, não ama Joãozinho, mas está dependente do afeto dele...
Quantas pessoas você conheceu que passam por isso? Quantas vezes você já falou para as Mariazinhas da vida: "esquece este cara". Não é tão simples, pois Mariazinha está doente e o que ela precisa mesmo é de tratamento porque assim como o dependente químico, cujo organismo se desestrutura quando lhe é retirada a droga, o equilíbrio emocional do dependente afetivo entra em pane quando ele é afastado da pessoa de quem se tornou dependente.
 Inicialmente Mariazinha não sabe que está doente. Será com tratamento que ela poderá reconhecer sua doença. Estas pessoas dependem de afeto, possuem uma imaturidade emocional significativa, uma baixa tolerância ao sofrimento, à frustração, a mesma que está presente na vida dos dependentes químicos de modo geral.
Possivelmente na base desse transtorno está uma profunda carência afetiva, uma falta de nutrição emocional que se originou em sua história de vida, e aí é que entra a psicoterapia...
Mariazinha precisa aprender que quanto maior for sua habilidade de viver bem sozinha, mais preparada e organizada estará para a convivência com o outro.

 FONTE: http://www.revistazn.com.br


6 comentários:

Anônimo disse...

Bom dia,meu nome é F.F, tenho 22 anos.

Li o texto e vi que realmente preciso de ajuda.
Me envolvi com um rapaz aos meus 17 anos, morava com meu pai, aos 18 sai de casa pq meu pai não aceitava meu relacionamento por ele ser mais velho(49 anos hoje),pela profissão e pela vida que ele levava "mulherengo".Morei um tempo de favor em casa de amigos mas não deu certo, fui morar em um apartamento que ele tinha, mas ele não morava lá, era só para os momentos de laser dele. E lá fiquei um ano e meio mas o nosso relacionamento era complicado, com o tempo fui vendo que ele não me respeitava, que não queria nada com nada, só curtição.
Senti que eu estava incomodando ele morando lá,então resolvi descontar da minha maneira as coisas q ele já havia feito comigo,fiquei com outras pessoas e saia pras baladas.
Depois de algum tempo quando estava mais estabilizada,vi que não adiantava mais resolvi sair do apartamento dele e mudar para um pensionato, só q não terminou por aí nós continuamos a nos encontrar, mas sempre brigando, com idas e vindas.
Resumindo....quando estou com ele sem cobranças da minha parte tudo vai bem, mas se eu resolve pegar no pé e cobrar algo, aí já é motivo pra terminar.. Ele não sabe o que é diálogo, n´~ao sabe resolver os problemas com uma boa conversa, falar o que ele realmente quer, o que ele realmente sente.

E eu aqui estou vai fazer 5 anos, nesse relacionamento incerto,talvez sem futuro, mas não consigo me imaginar longe dele, um fim de semana sem ele, um dia sem falar no telefone.
Quando não estamos juntos parece que meu mundo acabou, não tenho vontade nem de conversar nem de trabalhar,vontade de nada.
Algumas vezes terminamos e tentei recomeçar minha vida, mas ele sempre ficava passando na porta do meu trabalho, sempre estava no meu caminho,como se fosse normal eu ver ele 2, 3 vezes por dia, sendo que nem quando estávamos juntos não nos viamos com tanta frequência.Da ultima vez que terminamos consegui ficar 2 meses e estava com outra pessoas tentando um relacionamento, acho que ele descobriu e foi atras de mim, com um desculpa mole, aí caí na lábia dele denovo.
Queria sair dessa mas nao consigo, porque eu vejo que nao vai ter futuro, nao sei o que eu faço..

Obrigada
Abraço

Adilson Shiva - Rio de Janeiro - Brazil disse...

belo e instrutivo texto ... abçs ... meu companheiro ...

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

F.F. : querida amiga, nossas de pendências nascem na ilusão e na ilusão são paisagens mágicas... a magia se evapora, fica a realidade: nosso coração preso, desejando a liberdade de voar em busca de um ninho na árvore da verdadeira alegria... é necessário lutar, crer em si próprio e na vida como fonte de caminhos e sonhos que se renovam... Busquemos ajuda... mas, principalmente, nos ajudemos... A dependência só sobrevive porque esvaziamos nossas vidas. Volttemos a investir nas diversas linhas da vida, aumentemos as fontes de alegria e paz... Assim, nos sentiremos mais fortes para nos libertar... abraços com carinho e ternura, jorge

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

adilson, belo.... a vida clama por ajuda na dor dos que engaiolados sentem-se sem asas e sem ar... é preciso multiplicar no caminho os ninhos e os voos libertários. Um carinhoso abraço, jorge...

Concha Rousia disse...

Muito bem explicado, querido Jorge, sabes, eu julgo que desde que vivemos vivas tão individualizadas, a cada vez somos mais dependentes das poucas pessoas que povoam as nossas vidas, necessitamos povoarmo-nos pelo coletivo, e ter tb é claro, um lugar para a pessoa amada, mas no contexto da solidão é mais fácil a cada vez encontrar pessoas com dependência afetiva. Necessitamos repovoarmo-nos. Abraços com carinho, Concha

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Concha, perfeito, se nos povoamos com tribos, floras e faunas... passamos a ter n caminhos e asas de voar. abs ternos, jorge