sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

DIÁRIO DE BORDO: A ALQUIMIA DOS SONHOS, DA AMIZADE E DA POESIA... AOS DEPENDENTES DO LUAR...

                                           Jorge Bichuetti

Sexta-feira, dia de samba... O quintal alvorece alegre, passarinheiros... na ausência do vento, sinto que as folhas verdes e as rosas brancas parecem fazer um esforço íntimo para bailar... desejo da alegria da roda que canta sonha, poetiza e vive a alquimia do amor nos laços mágico da amizade...
Ouvi o canto dos passarinhos... e os sinos... Senti o ar puro da aurora... Desejei  o dom dos poetas para traduzir o efeito no meu corpo da vida na alegria do alvorecer...
Meus pés machucados pela alergia não querem sambar, viajar, caminhar... Mas, meu coração canta e sonha e briga com meus pés... O coração da gente é um recorte do infinito que pulsa no nosso peito, dando vida a nossa vida... ele conta o que pode um corpo na ousadia dos sonhos, no encanto das amizades e amores e na magia da poesia...
A Luinha, do meu lado, começa cedo suas travessuras... Corre, brinca... leva para minha cama os seus brinquedos... Tenta me seduzir... Ternamente, na suavidade do luar que alimenta nas noites escuras a valentia de seguir, caminhando na busca da aurora que reluz, ensinando-nos a recomeçar...
A magia do luar é um prodígio, um feitiço da mãe natureza... Poetiza escuridão, abrindo clareiras no caminho e no nosso coração... Tece sonhos... Enternece a vida... e assim, nos ensina o poder da amizade e do amor...
A mídia nos hipnotiza; o luar desperta nossos eus não-nascidos...
A razão nos limita: fagocita nossa existência e nos condiciona a um existir servil ao cálculo pragmático e imediatista, nas tormentas do narcisismo e do mundo de mercadorias, produtividade e lucros...
O luar encanta e nos quebra... abre nossas janelas para a vida amorosa, terna, solidária e sonhadora...
O luar é uma força insurgente, rebelde... Porquanto, os sonhos, a amizade e  a poesia não cabem no mundo de exploração e exclusão... São caminhos que negam, bloqueiam e inibem o individualismo, a competição, a ganância... a paranóia...
Ele, o luar, atiça no ser humano desejos e sonhos... nos reflete e nele nos vemos frágeis e vulneráveis, guerreiros e indomáveis... Humanos.... demasiadamente humanos... 
Fratura nossa couraça e nos dá sensibilidade e suavidade... Corpo alado nas trilhas da imensidão...
O mundo de vendedores e vencedores nega, crucifica a magia surreal da alquimia dos sonhos, da amizade e da poesia...
Com sonhos, temos idealismo e porvir...
Na amizade, superamos a segregação solitário e nos descobrimos tribos...
E a poesia martela a realidade e nos dá acesso à vida para além do delimitado possível...
Vida-travessia... Vida-metamorfoseante... Mundo que se percebe com escuta para os clamores do horizonte azul que nos diz que um outro mundo é possível e necessário...
Lembrando Deleuze, sejamos, então, a relva que medra entre as pedras do caminho...

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