quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

DIÁRIO DE BORDO: REALIDADE E SONHO; MÃOS E CORAÇÃO - NO ENTRE, O NOVO HOMEM...

                                  Jorge Bichuetti

Entre o luar e a aurora, os sinos... badalaram e me encantaram. Acordei... A chuva mansa e suave musicava o meu amanhecer e, assim, me vi... longe, dos sonhos... nos braços da realidade.
Uma noite, tão pouco tempo, e foi o bastante para que a vida trocasse de roupa e já sem os adornos do luar, se mostrasse desnuda... crua realidade...
A realidade é feita de aço; caminhos de pedras...
Os sonhos são pura magia: vertigens do luar... 
Mirei minha pequena Lua, uma filha de Afrodite...
Olhei meus álamos e os vi, guerreando nas lutas das matas de Oxossi...
Tomando o meu café quente e acolhedor, observei a pilha de livros... A lista das obrigações, tarefas do dia... e num canto, percebi, uma folha riscada com projetos e caminhos... a empreitada do futuro...
Me senti entre duas forças: Apolo e Dionísio; o labor diário das lutas e a magia encantada dos sonhos...
Recordei, sério, uma velha lição dos escritos do cristianismo...  Jesus na casa de Lázaro com suas duas irmãs: Maria e Marta... Marta, operosa, labutava, preparando a ceia.... queria que ele , o amigo, tivesse, a fartura saborosa dos frutos do seu trabalho... Maria, sentado nos pés do amigo, ouvia histórias... Marta, logo, irritou-se... e indagou ao Cristo, se ele não iria repreender a indolência, o ócio e a preguiça de sua irmã... Jesus contestou sintético: Marta, Marta, te inquietas com tantas coisas... uma só é necessária... maria escolheu a boa parte e esta não lhe será tirada....
Marta era apolínea; Maria, dionisíaca...
Marta era o trabalho; Maria, a alegria, a poesia e a meditação...
Dom Helder Câmara pensando a problemática da dualidade entre desejo e produção; prazer e labor...trabalho e ócio... afirmou: Digo-lhes - o ideal é ter as mãos de Marta e o coração de Maria...
Deleuze, séculos depois dos acontecimentos da casa de Lázaro, refletindo sobre o que fazer do nosso cotidiano, assevera que necessitamos conjugar Apolo e Dionísio...
De fato, urge que superemos a dualidade trabalho e alegria festiva... realidade e sonho... e que os conjuguemos numa máquina de produção desejante de um vida onde caminhos e sonhos se realizem , dando ao ser humano uma vida de conexão entre desejo e produção, mãos e coração...
Ele ainda sugere que o diálogo de conjunção será uma iniciativa de apolo, já que que Dionísio ou está em festa ou se encontra no repouso reparador das energias gastas nos festejos da alegria...
Vida de multiplicidade, rizoma... Sonho e realidade, poesia e construção... amor e ação realizadora de passos na luta da nossa caminhada...
Relendo o refletido e as lembranças que ecoam, O Rosa, novamente, surge clareando as curvas do destino: viver é etecétera...
E podemos entender que viver é amar e agir transformando a vida... onde a ternura ganha consistência na solidariedade; assim, como a solidariedade se impregna de sentido e encantamento na compaixão e no amor...

Nenhum comentário: