segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

BONS ENCONTROS: RESIGNAÇÃO- PASSIVIDADE OU CRIATIVIDADE?...

Resignação 

      Amauri Ferreira

Querer manter-se distante de si mesmo ao interromper as experiências das mais estranhas e incômodas sensações – que são rapidamente abortadas com algumas doses muito bem-vindas de distrações para a mente, entre elas o telefone, a revista, o jornal, a televisão, a internet, o amante, objetos que devem estar sempre disponíveis e facilmente acessíveis para anestesiar uma dor que não se sabe mais como vivê-la –, não querer enfrentar os verdadeiros impasses: isso tudo indica que há uma impostura, uma prática criminosa contra a produção de sensações e de sentimentos, contra o processo irrefreável da vida de realizar-se de maneira que não agrada o pobre paladar do homem da nossa época, este que ainda se recusa a aprender que também no gosto amargo das coisas a vida se exprime com toda a sua dádiva. Este indivíduo que sofre poderia aprender que não adianta esconder o que não funciona mais para ele; que, onde há lodo, certamente nenhuma distração irá fazer a limpeza que expulsaria aquelas coisas que costumam entravar um livre caminhar sem rumo pré-determinado, sem futuro já dado ou planejado – tal limpeza pode ter início a partir de uma experiência realmente vivida daquilo que lhe incomodou, através de questionamentos que fazem um hábito nocivo ser, gradualmente, enterrado. Seus impasses devem ser solucionados de dentro – mas isso torna-se incompreensível se este homem continua a envenenar-se pela resignação social com o estado atual das coisas do mundo. Portanto, a sua existência funcional e a sua memória são subterfúgios para convencer-se da sua resignação: “Tudo que eu queria ter feito, que eu poderia ter feito, infelizmente já não posso mais. O tempo não volta para trás. Resta-me continuar a viver assim, alimentando-me de ilusões! Afinal, ainda bem que elas existem!”. O consumo de ilusões como única saída possível para anestesiar-se – o entorpecimento social da indústria das ilusões (o ensino, as viagens, o emprego, o esporte...). Iludir-se para suportar a sua própria resignação. Assim, é inevitável que o cansaço do homem contemporâneo cresça rapidamente à medida que aumenta a sua instrução, que é a sua ilusão de conhecimento. América, Europa, Ásia, em suma, todo o mundo capitalista caminha para a sua inevitável ruína através do mais alto grau de instrução: o cansaço absoluto da absoluta automatização...
FONTE: amauriferreira.blogspot.com

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