sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

DIÁRIO DE BORDO: O CORAÇÃO É UM CANTEIRO DE FLORES...

                            Jorge Bichuetti

Madrugada... de verão. Calor e vida.  O orvalho no meu quintal impregnou o ar com cheiros de rosas e folhas, um mato no chão que acalenta... relva salpicada de gotas que refletem o céu... Há estrelas no caminho...
Luinha foi descansar... Anda encantadas com os passarinhos que cantam e voam... se agasalham nos álamos e vivem alegres... Antes tinha ciúmes; agora,não...
Não sei como a Luinha consegue entender tudo que se passa... seus olhinhos cuidam de mim... me acompanham... Agora, é 04:48... Ela veio me acompanhou no quintal... me viu sentir alegria, com os passarinhos se despertando com a minha presença... Caminhar é voar quando, no caminho, nos conectamos com as flores e com as árvores, com o vento e o orvalho, com o luar... Voar para encontrar no caminho a a aurora... Converso longamente com Luinha e lhe tranquilizo, dizendo que logo nossa rotina se dará no alvorecer da vida com sonhos e poesias, lutas voos na imensidão azul... Estes dias de repouso e medicamentos, a deixou cheia de cuidados... Me vigia... Se brincamos, ela alegre corre e piedosa, logo, deita-se... respeitando minhas horas de repouso... Ali, nos meus pés... ou aconchegada ao meu coração...
O amor na sua expressão de ternura e compaixão, partilha e solidariedade... é a magia da vida que germina novas floradas, afugentando do caminho os espinheirais das dores e das inquietações... Por isso, cura... 
Ouvindo longe as badaladas dos sinos... penso na vida e na minha alegria de viver...
Viver é tecer no caminho um rede de amores e amizades onde conectados os corações se transformam num canteiro de flores... Floradas da ternura; vidas partilhadas nos voos do amor...
O mundo permanece cinzento e hostil... Guerras, corrupção... Exclusão social, desamor... O individualismo neoliberal agravou as perversidades da subjetividade capitística... Banalizou os encontros; forjou vínculos líquidos... Incrementou o consumismo... e gerou uma vida de depressão, pãnico e toxicodependência... muita solidão...
No retorno às atividades docentes da Psicologia da Uniube, vi que há outros mundos... Amigos na alegria do sorriso que abraça... Amigos no idealismo do caminho que desbrava na escuridão novos horizontes azuis...
Como é valioso e revolucionário a força do amor que tecida nos vínculos da amizade institui a ética da solidariedade e da compaixão...
Miro Luinha: ela sonha... Lhe ensino a fugir dos pesadelos da apatia, da acomodação e do imobilismo que nos é sugerido, diuturnamente, por modo de existir que nos aparta do outro...
O outro é um alheio... na narcisismo parasitário do capitalismo globalizado que nos aliena da vida de encontros... Substui o encontro pela informação; cristaliza ilusões e nos sedimenta de pés alijados da caminhada de de pedras e flores, espinhos e sonhos... caminhada da humanidade na esperança ativa de produzir na luta um novo alvorecer...
O mundo molar é rígido, não tem molas... não tem bailado da flexibilidade que é compreensão e tolerância, auxílio mútuo e metamorfoses singularizantes...
O sol nascerá... Mesmo com minhas dores ( que passarão) hei de buscar a molecularidade terna e singela dos sambas do morro... Cantarei, dançarei... 
Todos temos nossas dificuldades e limitações e crescemos, nos alisamos para os devires inovadores na luta... Mas, como já dizia Nietzsche, não se vence o "diabo" com palavras... o vencemos com riso, dança e música... a arte martelando aberturas no horizonte parindo o porvir... a coragem de ser alegre por teimosia semeando no céu nublado um arco-íris e uma revoada de passarinhos...


3 comentários:

Tânia Marques disse...

Jorge, se me permites, vou levar este teu Diário de Bordo de hoje para o Degrau Cultural. Lindo demais!!! Temos que combinar nosso encontro, nao gosto de ficar adiando a vida, não combina comigo, mas vou estar envolvidíssima com um curso de teatro que farei, até o final de abril, e com o Mestrado, inscrições, provas e leituras até o final de maio. Quero curtir esse quintal apaixonante a teu lado, da Luinha e de amigos. Vai acontecer um Congresso interessante em Campinas, na UNICAMP, quem sabe a gente se vê nele? Beijos em teu coração. Ah! Tem uma palavra que eu não entendi "capitística" no texto.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Tãnia, aqui: tdos, eu, os poetas e os passarinhos te aguardamos com o coração em festa... Amiga, te escreverei; lhe quero muito. abs ternos, jorge

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Tânia, capitalista é o mesmo que capitalística... Estarei sempre torcendo por você; beijos. jorge