sexta-feira, 9 de março de 2012

DIÁRIO DE BORDO: É POSSÍVEL SER FELIZ???...

                                Jorge Bichuetti

Mirando o luar, noite alta, vi a magia da paixão... o céu estrelado cantava um samba alegre, feito de compaixão... Dormi, sonhei... Despertei com meus singelos passarinhos... Deixei o vento e o orvalho matinal levar minhas escamas de dor e preocupação... Luinha no meu colo... O roseiral florido... Beijos e flores de romã... Na quietude da aurora, voei... no bailado dos álamos... Meu quintal é um templo de simplicidade e ternura, onde ecos do infinito clamam por solidariedade e paz...
Acendi meu cigarro... tomei, lentamente, café preto que anima o dia... E ante o dia que se iniciava, perguntei: por que a vida é tão bela e o mundo cinzento tão alagado de sangue lágrimas?...
Recordei que nosso mundo é um mundo que nega a própria humanidade, reifica mercadorias e corpos e nos condiciona a viver roboticamente... Nosso coração anda calado, nosso ego hipertrofiado... Nos separamos da natureza e dela nos apropriamos num reinado de destrutividade e aniquilamento... Isolamo-nos... Nós, ilhados num narcisismo que nos desconecta do outro e da própria vida...Banalizamos os vínculos; empobrecemos os diálogos...
Desmatamos a vida humana, que seca e deserta, sonha nostálgica com o verdejar da esperança e com os voos cósmicos na transversalidade do tempo dos sonhos...
Como somos pobres! Temos ouro e prata... mas já temos esperança e sonhos...
Fatalistas, silenciamos, acreditando que é assim e sempre será...
Apáticos e acomodados, somos cúmplices da infelicidade reinante...
Sorrimos no voyeurismo dos que assistem o espetáculo; esquecidos de que os coletivos são protagonistas da realidade, dos caminhos e do horizonte...
Adoecidos de carência, queremos ser amados, mas não amamos...
Enlouquecidos de solidão, desejamos o outro, mas não vemos como um outro... queremos espelhos... e já não conseguimos a arte da poesia do amor que é versada na potência do se dar...
Assistimos inertes a morte campeando vidas na tirania dos microfascismos...
Que saudade das rodas de viola e fogueira!... Como nos faz falta o guerreiro e o anjo que dormitam no nosso inconsciente coletivo, desprezados, suprimidos... castrados...
Como era belo viver e lutar sem medo de ser feliz!...
O mundo é paranóico... a paranóia nos rodeia... só que ela não é mais um singelo delírio, é realidade crua, é a institucionalização da força bruta, da violência, da exclusão... dissimulada, porém, mortífera...
Precisamos espinoziar as nossas vidas...
Nosso corpo se decompõe longe dos bons encontros e das paixões alegres... Eles, os bons encontros e as paixões alegres, são processos imanentes à vida que se realiza como afirmação de vida...
A felicidade não é uma impossibilidade humana; ela é negada a institucionalização da alegria banal e da depressão crônica que vitimiza o corpo da própria humanidade.
Lembrando Deleuze, sem generosidade, amizade, compaixão, ternura e solidariedade a vida não tem sentido...
E vislumbrando o horizonte das utopias ativas, ressoa a voz do insurgente Subcomandante Marcos: " Não é necessário conquistar o mundo. Basta fazê-lo novo. Hoje. Nós."

Um comentário:

Anônimo disse...

Jorge, tua prosa poética ficou linda!!
Feliz dia novo para ti!
Beijos...com carinho e saudades...Mila.