quinta-feira, 15 de março de 2012

DIÁRIO DE BORDO: NO SILÊNCIO DAS MANHÃS, MEU CORAÇÃO...

                                    Jorge Bichuetti

Acordei... Noite de chuva, quietude aconchegante... Do meu lado, a companhia amorosa e terna da pequena Luinha... A vi e a senti: simplesmente amor-companhia. Ela é valente, nunca teme as tempestades... Se ali estava era porque desejava proteger-me com medo do meu medo... Era pura compaixão...
Lá fora, o verde revigorado me tocava com sua alegria de quem consegue ser feliz na antevisão das flores e frutos que nele estavam como um futuro presentificado pela arte de romper o relógio e saber-se vida na festa da procriação...
Os pássaros cantavam... entre a alquimia criatividade um sorriso e a sacralidade da generosidade de uma oração onde a lamúria calava e só ecoava uma sublime gratidão...
O céu cinza era nublado cândida da anunciação de que outras e novas chuvas virão...
O cinza no mundo e no coração da gente cheira vida contraída nas masmorras da desilusão...
A alegria esfuziante da natureza cantava e glorificava as dádivas da vida: vida na amplidão, vida comunhão, vida de partilha e composição poética no ondear versante da solidariedade cósmica...
Chorei... lágrimas que riam; sorri na cantiga renovadora da vida que nunca para, sempre recomeça... da vida que nunca se esgota nas ruínas da solidão, pois sempre conecta-se, tecendo nos encontros a magia do amor e a alquimia da arte de se reinventar vida no caminho dos sonhos de novas manhãs...
O sono de Luinha, minha pequena filha de etnia Shiatsu, há de me marcar para sempre...
Dormindo, me cuidava... Sonhando, me amava... Um cuidado e um amor expontâneo, gratuito... pura vida generosa na alegria de ver a felicidade multiplicar-se e presentificar-se no coração amado...
A natureza, da qual nos distanciamos para possui-la, me ensina, diariamente nos caminhos do amor o que pode um gesto de carinho...
Economizamos carinho... Evitamo-lo e negamo-lo...
A vida que pulsa no bailado terno da imensidão é um prodígio do carinho doado na abundância de um amor que não se retrai, nem se furta na frutificação das carícias que fertilizam caminhos e horizontes, incendiando de brilho os olhares da humanidade e das coisas...
Pensando no aconchego terno do meu quintal, não nos entendo... Não entendo nossa sovinice... Economizamos no amar, no se dar, no ser com o outro uma nova alegria... Reprimimos carinho e carícias... Queremos que vida escute e atenda nossas expectativas... mas, geralmente, ocultamos da vida nossa capacidade de amar e sonhar... de vitalizar o outro e mundo com nossa ternura e nossa compaixão... Vivemos como mendigos existenciais... guardando no baú do nosso narcisismo o muito que podemos fazer, dando-nos à vida sem economizar amor e carinho, sem suprimir as forças vivas da compaixão e da solidariedade que pulsam encarceradas no nosso coração...
Eu quero aprender mar com minha pequena Luinha...


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