terça-feira, 10 de abril de 2012

DIARIO DE BORDO: A JANGADA E O MAR

                                   Jorge Bichuetti

Céu estrelado. Lua bela: rubra e encantada... Talvez, seja meus olhos?... Há u'a quietude no universo, silenciosa e cálida... um silêncio onde versam os deuses a poesia do amor. Amanheço e o já pressinto nos álamos orvalhados... o cheiro da vida... A vida é um grande mar, ondeia: expande e contrai, azula e acinzenta... Mas, sempre se navegamos nos leva ao horizonte azul...
Nosso corpo, nossa jangada... 
Navegar é preciso...
Os pássaros se movem lentos... aquietam-se no calor de seus ninhos...
Escuto, longe, ruídos... É a noite infindável do povo da rua...Me dói tanta desvalia: fome e frio, solidão...
Meu corpo escreve na alegria da palavra e do silêncio... Escuta a vida... Procura esquecer-se...
Nunca sei classificar o meu corpo...
Velho, nos anos vividos, nas dores reumáticas... na lentidão...
Jovem na audácia de sonhar e lutar...
E uma criança na inocência de sua fé e na leveza do marejar das suas brincadeiras...
Assim, sigo... Para onde?... A cada dia busco a beleza da aurora; mas, o que eu quero mesmo é o esplendor do horizonte azul...
Contudo, pouco sei sobre este nobre amigo que nomeio de horizonte azul...
Há momentos que penso: é a alquimia da finitude na magia de passos novos para além do próprio espaço.
Há outros momentos que o vejo no meu próprio coração, traduzindo o caminho percorrido no cipoal das lutas humanas...
Porvir?... Devir?...
Um amanhã já presente, embora, não-vivido, no agora?...
Mora no limite entre a poesia e o sonho...
Nele, estão a vida suprimida e coibida, as inibições do real do concreto armado... Nela, viceja a primavera da liberdade e o  êxtase dos amores reprimidos... Estão a gentileza e a ternura, a compaixão e a solidariedade...
Assim, não é um lá, um acolá... é também um aqui evitado, negado...
Podemos tocá-lo, acariaciá-lo, agarrá-lo com as mãos...
Como podemos com garras felinas de maldade e crueldade nublá-lo, espenzinhá-lo, corrompê-lo...
Sempre gostamos de pensar o destino como obra aleatória, escrito alheio...
Deste modo, anestesiamos nossas culpas e responsabilidades...
Todavia, o horizonte azul é espelho... reflete... o riso e a lágrima da humanidade...
Caminhamos...
E nem percebemos que desenhamos com o nosso caminho a aproximação ou o afastamento do horizonte azul...
Urge acordar...
Ver na vida a ação e a acomodação, conjungando-se e formatando da sua interação o próprio destino...
Muitas vezes, não o buscamos por falta de coragem e de alegria...
Não a coragem da crueldade bestial..
Não a alegria dos risos banais...
Falta-nos a coragem e a alegria de assumir que se os deuses nos criaram; nós somos os criadores da vida...
E, assim, caminha a humanidade...

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