quarta-feira, 16 de maio de 2012

DIÁRIO DE BORDO: ESCRITOS DO SILÊNCIO

                      Jorge Bichuetti

Chove. A chuva cai, mansa... Dá para sentir suas carícias na terra sedenta. Vê-se o sorriso verdejante da mãe natureza que sonha flores e frutos... A semente pulsa... com ânsia germinativa;  e os pássaros acolhidos nas ramagens das árvores oram, silenciosos...
Chove, e, na chuva, a aurora chega nas entrelinhas dos murmúrios da vida parideira; chega no silêncio musical da esperança que alisa caminhos e desbrava no horizonte, a esperança viva...
Entre palavras, silencio...
Um silêncio que me permite ouvir o burburinho do sangue nas veias; o valsear das asas dos sonhos que bailam nas minhas entranhas...
Quanto sonho!!!...
Talvez, o silêncio seja um idioma que de tão fértil e diversificado nunca pode ser codificado num dicionário...
Há silêncios plenos de serenidade!
Há silêncios fissurados e machucados na agonia das inquietudes humanas!
A Luinha dorme: sonha... quietude serena e alegre; voo no azul...
A madrugada fria com o chão molhado me leva, silenciosamente, a pensar que na contemporaneidade, muitas vezes, somos nascentes desmatadas... fio da água no meio do deserto.
Porém, nós, somos capazes de autorar nosso destino.
Podemos verdejar nossos pés e mãos... Podemos atiçar e ativar o que pode na vida os sonhos...
Sonhar é dar-se ao amanhã. Dar-se ao amanhã, no aqui-e-agora, já...
Muitas vezes, vivemos ruminando o passado: vozes, choro, feridas e cicatrizes... Ruminamos com o vozerio das multidões enlouquecidas... E fazemos tanto barulho que nem escutamos o amanhã que chega nos silêncio dos sonhos...
Tecer caminhos; multiplicar trilhas... povoar de vidas e sonhos é nossa destinação, se almejamos que o presente seja a gravidez intempestiva do porvir.
O silêncio fala... porém, raramente o escutamos.
Os escritos do silêncio narra não o já sabido por vivido; profetiza o que podemos e não ousamos...
Nele, está nossos eus não-paridos... Nele, o novo mundo... Um novo modo de ser e relacionar, de caminhar e voar...
Não voamos por falta de asas; mas, sim, por manter nossos pés e coração acorrentados no passado.
Urge abrir os portais da aurora...
A aurora é a ponte e fonte...
Águas cristalinas saciando nossa sede de viver e amar... Ponte nos permitindo saltar sobre os abismos da escuridão que nos escraviza num presente de angústia e solidão, individualismo e banalidades...
Busquemos a aurora... Não a esperemos acomodados na nossa rede de balanço... Caminhemos... e a encontremos na alegria de reinventar-se e modificar o mundo.
O resto é ilusão... rabiscos petrificados num tempo que não volta mais...


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