domingo, 24 de junho de 2012

DIÁRIO DE BORDO: TRISCANDO O CÉU...

                         Jorge Bichuetti

Tempo nublado... orvalho macio e cheiroso no sereno da madrugada... Fios de luar; rastro de estrelas... No escuro, com os álamos tremulando, leves e suaves, eu espero... o sol. Quero alvorecer e seguir, sem apagar a magia dos meus sonhos; sem racionalizar a alquimia das grandes poesias que lendo-as, voo e alto, trisco o céu...
A vida nem a morte me assusta; temo não devir-me caminho...
O silêncio da noite... a neblina... o escuro... Me percebo só no meio da madrugada e, assim, libero meu coração que enlouquecido alucina o novo dia com a alegria de embaralhar a natureza e afugentar as cinzas do mundo... semeando na terra orvalhada estrelas e astros, cometas e galáxias... o céu no chão, brotando na relva... cintilando as águas dos rios...
Viver é caminhar...
Caminhando, desbravamos clarões e clareiras no coração da própria existência.
Caminhar não é dar passos, no automatismo dos que seguem pela estrada alheios aos clamores do horizonte.
Caminhar é ir num seguir andarilho, tecendo no caminho a vida nova de ternura e compaixão, solidariedade e libertação...
Caminhar é materializar na poeira do mundo os eflúvios etéreos e inovadores dos sonhos que ativam, no hoje, o próprio porvir...
Quase sempre, somos batráquios e anfíbios hipnotizados e hipnotizadores que tentam aprisionar a vida no brejo das vivências do tempo passado; evitando parir no caminho uma novidade radical.
Acostumamo-nos ao existir limitado pelas opressões do mundo que nos engaiolou no pio dos nossos complexos, bloqueios e limitações...
Urge seguir adiante... é necessário caminhar desacorrentados... livres ao alvorecer; com a pele pulsante e brilhante no cio do devir...
O paraíso é o céu adiado... fé passiva; esperança inerte...
Deus é vida andarilha; reinvenção e criatividade... é a ciranda da alegria que desperta os sonhos; é a seresta da ternura que adormece monstros e fantasmas... e forja no caminho trilhas e veredas do amor incondicional...
Ele é caminho... caminho de libertação... vida plena... de abundância...
Muitos não vivem, esperando o céu...
Muitos não superam seus limites, esperando o milagre divino...
No entanto, Deus é sacralidade no profano caminho onde o ser humano semeia estrelas na poeira do mundo. Amor visceral na transversal do tempo; amor sideral nas cósmicas folhas secas que se dão para que ninhos sejam tecidos nos cantos do acolhimento.







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