domingo, 18 de novembro de 2012

DIÁRIO DE BORDO: NAS CORDAS DO TEMPO, A MÚSICA DA FELICIDADE...

                        Jorge Bichuetti

Madruguei... escrevendo me pequei atordoado pelo fuso da internet que jogava, impetuosa, para o ontem... O tempo nunca é igual: os relógios ludibriam as pessoas, para que elas nunca perguntem: qual é o tempo do meu coração?...
O café quente; o canto dos passarinhos... a Luinha no seu vaivém, com dengos e jogos, querendo o dia, me fez crer na força da aurora... Sol nascente; a última estrela... Era domingo...
A Luinha me fiscaliza; assim, se ela não reclama, confio... é hora de trabalhar, escrever, pensar...
Dormimos muito cedo... Adiantamos, deste modo, um dia...
Converso com o vento e ele, velho andarilho, só sabe do tempo nas pulsações dos acontecimentos.
Toda hora é tempo de viver... E sonhar é um viver, que como a poesia, subverte o cronos... e fala de outras temporalidades...
O tempo das dores, das dificuldades, das frustrações parecem, só parecem, tempo infindável...
O tempo das alegrias, dos bons encontros, da criatividade é acelerado, veloz cavalga no vento...
Dele, pucos, usufruem... já que poucos aprendem a deixar a vida tatuar os acontecimentos na tela dos nossos corações...
Olhamos para ele nostálgicos; como se ele não tivesse marcado definitivamente nossas vidas...
O tempo perdido é tão-somente o tempo da completa inutilidade...
Mas, aqui, cabe uma indagação: o que é útil?...Para um banqueiro, é o cofre recheado; para um passarinho, é a rosa desabrochada...
Para os que amam, é o beijo, o carinho... o caminho percorrido de mãos dadas...
Para os que desconhecem o que pode o amor, é tempo ruídos... pois, nele, cala-se o coração...
A criança brinca... o jovem aventura-se... o adulto trabalha... o velho recorda... Tempos segmentados e robotizados; excludentes...
Sempre podemos viver brincadeiras, aventuras, trabalhos criativos, recordações fecundas e fecundantes onde o tempo é subvertido e que foi ontem gera a invenção de novos amanhãs...
Viver é caminhar no tempo, semeando as floradas do próprio porvir...
Existir, sendo consumido pelo passar do tempo é só um modo de existir...
Um existir que nega o que pode um coração... Ele é muscular, ósseo: petrificado....
O coração é atemporal...dialoga com caminhos e sonhos; tece mar e cais...
Muitos olham o tempo e, afoitos, declaram-se inúteis... somos sempre capazes de mar, sonhar, brincar, acolher, acariciar, dar-se e receber... somos sempre capazes de desenhar no infinito nossa vida de suavidade e ternura, arte e magia... Podemos...
Sempre podemos viver na intensidade amorosa e terna do que pode um coração...
A impotência declarada, de fora, pelo status quo, é uma avaliação da capacidade de explorar e ser explorado, de dominar e ser dominado...
Há outra potência...
Há outra primavera...
Há a vida que se alegra nos voos da ternura e da liberdade; que se intensifica na suavidade das sociabilidades solidárias...
A morte antecipada é uma castração das experiências não-vividas... clamadas pelo horizonte azul...
O tempo nem o sonho acabou...
Eles que estiveram tantos anos divorciados, encontram no tempo livre a oportunidade de se abraçarem para inventar a vida de alegria e paz, suavidade e ternura...
Ontem, tempo era dinheiro; agora, pode ser vida... felicidade tristeza partilhadas... arte e aventura nos caminhos que acabam com os desertos humanos na sementeira das floradas estelares, cósmicas... da vida que cria e se reinventa na alegria de jamis parar de amar...
Busquemos nossa vida passarinheira...


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