sábado, 17 de novembro de 2012

SOCIEDADE DE AMIGOS: A POESIA DE PAULO CECÍLIO; NO TEMPO ENOVELADO, NASCE UM PÁSSARO...

         TRAVESSIA
                     Paulo Cecílio

então veio o tempo gelado e duro 
e enterrei meu sorriso na neve.
e meu coração pedrou. 
e corria em  mim viscoso caldo vermelho.
 
enxuguei todas lágrimas. 
esqueci de mim pra esquecer partidas 
e penetrei no longo inverno
 
e sob vertigem abismos píncaros despenhadeiros
teci meu destino com os fios de seda da juventude que perdia.
 
e entreguei nacos de minha carne em silencio,
 
pra que não ouvissem meu coração supenso. 

esqueci. 
esqueci. 

deixei meus tênis e camiseta sob uma  árvore seca 
e calcei dentes de aço pra viver assim. 
vendo passar a cor de meu cabelos a força de meus braços
 
pra cuidar do ninho de seda e desespero.
 
onde só as aves sabem 

em meu crepúsculo 
quando já de joelhos olhos baixos 
chegas em mim como um raio dizendo fica! 

fica! 
ainda há um menino em ti!
 
venha! 
há sol e derretem-se as águas em caudalosas  piracemas.
 
o solo traz as rosas que tanto amas. vem! 

acabou a guerra. foram-se todos.
acabou o deserto de pedra e gelo. 
vem florir ainda é outono!
 
tire esta roupa molhada! 
deixe o sol penetrar tua tez teu corpo surrado.
 
e senti tuas mãos quentes sobre a minha pele . 
e caminhei devagar com tuas pernas. 
e vôce dizendo: vem! 
vem menino esquecido,

a dor passou.

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