domingo, 16 de setembro de 2012

DIÁRIO DE BORDO: O CANTO DOS PASSARINHOS

                         Jorge Bichuetti

Vida madrugadeira... Só, agora, escuto o canto dos passarinhos... Talvez, seja o que me dizia Luinha que tinhosa, de mim se escondia, só para continuar a dormir...
Manhã bela... O orvalho alivia as agruras do tempo seco... É domingo...
O domingo é dia clarividente, revelador... Desnuda nossa condição de escravos da rotina tresloucada do capitalismo... Não sabemos lidar, muito bem, com o ócio... Com dia só nosso: dia de dormir, de brincar... de ler poesias, encontrar os amigos... Ficar de pernas pro ar...
É silencioso, e o silêncio faz um barulho estridente, para todos nós, que ouvimos tudo, menos o próprio coração...
Vivemos reclamando que não temos tempo... quando temos não sabemos o que fazer do tempo livre...
Como é duro carregar as chagas do capitalismo nas próprias entranhas!!!
Dia de nadar descalço... Mergulhar no mato... Banhar-se numa cachoeira...
Ler poesia... Namorar de mãos dadas... Festar; borboletear...
Somos exímios sobreviventes; porém, pouco sabemos da arte de viver...
Estamos acostumados a ir tocados pelo espinho das obrigações cinzentas...
Não sabemos bem colorir... alegrar e se alegrar... Ser passarinheiro: livre no azul do infinito...
Aprendamos...


POESIA: QUANDO O LUAR CANTA...

                      ESTE LUAR
                              Jorge Bichuetti

Há tantos luares: 
belos, cândidos...
Uns faíscam
despertando paixões;
outros, hipnotizam
como se fossem
no templo do infinito
um canto de oração...

Há tantos luares!!!
E há este que vejo
quando teus olhos brilham, 
refletindo o céu distante, 
entre o espinho e a flor,
que floresce nos caminhos
da vida que é luta e amor...



BONS ENCONTROS: A SINGULARIDADE DO CAIPIRA, UM DOCUMENTÁRIO DE ANTÔNIO CÂNDIDO


OS CAIPIRAS- POR ANTÔNIO CÂNDIDO


SOCIEDADE DE AMIGOS: MILA PIRES; A POESIA NAS PULSAÇÕES DE UM CORAÇÃO ESTELAR...

            PENSANDO EM VOCÊ
                             MILA PIRES



  …Então me visto de poesia
Encho tua alma de alegria
Mexo com tua fantasia
 
Crio um clima especial
Tenho o teu aval
E juntos vamos sonhar
 
Habitamos o Planeta Sonho
Contemplamos céu, lua e mar
Fomos feitos da mesma  química estelar
 
E em nosso espaço atemporal
Aconchegante e natural
Praticamos o verbo...AMAR !!
FONTE:  http://perfumeversoeflor.blogspot.com.br/




MESTRES DO CAMINHO: SOBRE O TEMPO

                                REFLEXÕES:

- "Temos que entender que tempo não é dinheiro. Essa é uma brutalidade que o capitalismo faz como se o capitalismo fosse o senhor do tempo. Tempo não é dinheiro. Tempo é o tecido da nossa vida."
Antônio Cândido

- "Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." Fernando Pessoa

- "O amigo é a resposta aos teus desejos. Mas não o procures para matar o tempo! Procura-o sempre para as horas vivas. Porque ele deve preencher a tua necessidade, mas não o teu vazio." Khalil Gibran



sexta-feira, 14 de setembro de 2012

UNIVERSIDADE POPULAR: ENCONTRO MENSAL... SÁBADO, 15/09/2012...

Companheir@s;
amanhã, dia 15/09/2012, é dia de sonho partilhado, caminho de ternura e amizade num espaço de trocas solidárias onde o processo do educar-se e educar é, com arte, alegria e rebeldia, é reinventado pela Universidade Popular Juvenal Arduini que viverá seu encontro mensal...
Onde?... Num espaço onde vida já costumeiramente vem produzindo-se acolhimento e inclusão social. A Upop-JA reune-se na Creche Coração de Maria ( no Jardim Esplanada. Rua Nossa Senhora do Desterro, 465. Uberaba, Mg.)
Háverá diversos espaços coletivos de produção de conhecimento...
Aprendemos juntos a viver, caminhando na perspectiva da transformação social...
Lá, a esperança mantêm viva e atuante... Os sonhos se revitalizam e vida floresce inovadora e instituinte...
Participemos... Deixemos o novo alvorecer, em nós e no caminho da própria huamnidade...


DIÁRIO DE BORDO: NA QUIETUDE DO ALVORECER...

                        Jorge Bichuetti

Amanhecemos entre as carícias do vento matinal e a ternura do brilho das estrelas que se despediam, como se partissem, aninhando-se nos poros da nossa própria pele... A chegada de um novo dia era permeada de sonhos... no canto dos passarinhos. E a mi'a emoção de sentir a presença da minha pequena Luinha, autêntico sinônimo da amizade plena, que me seguia os passos com seus ternos olhinhos lutando por acordar, vencendo o sono, simplesmente pela alegria de ser companhia, cumplicidade, vida enlaçada noutra vida no carinho incondicional que quem sabe amar...
A quietude da madrugada me ensina coisas do amor que antes não sabia, por vê-lo, o amor, somente no frenético movimento das noites... noites ruidosas, noites de luzes artificiais e flores de plásticos... Noites onde os trovões da sociedade de espetáculo me ocultava a poesia silenciosa do luar e a magia cosmopolita do céu estrelado...
Luinha é u'a grande professora, u'a singela e fiel amiga... Juntos vamos descobrindo os enigmas da vida.
Vivemos num tempo onde não é fácil ver e sentir as entranhas da vida... O mundo com seus ruídos e artefatos nubla-a... oculta-a... dissimula-a...
A vida nua, como a vejo no horizonte azul do dia nascendo e a escuto na poética do canto dos passarinhos, é transparente e direta... Conversa com a gente, penetrando-nos pela pele... afetando-nos e nos despertando caminhos e sonhos...
A madrugada revela o que pode a vida nos voos da liberdade e nos aconchegantes ninhos da simplicidade...
Mostra-nos loucos... numa loucura improdutiva... Escravos de tanto coisa e alijados do que é o clamor do nosso próprio coração...
Que tesouro do mundo substitui o carinho fiel e leal da amizade da pequenina Lua?...
Vê-se no silêncio da madrugada que não há ouro ou prata que oferte a beleza da rosa brotando no sereno orvalhado da manhã; nem valor monetário capaz de dar a serenidade que se logra, mergulhando-se no infinito ao som do cantar dos pássaros vadios que voam e batucam, despertando esperança e sonhos, poesia e paz...
Queremos tanto... e vivemos tão pouco.
Necessitamos de repensar o que desejamos da nossa existência...
Luinha me ensina que eu aprendi, tão somente, a teoria da ética da amizade do inesquecível Michel Foucault...
Ela nunca o leu... conhece-o pelo aprende, vivendo...
Daí, vejo com encanto o mundo sonhado e o identifico nas palavras do filósofo Deleuze... Como funcionará o mundo dos nossos sonhos?... Belo e terno, como uma sociedade de amigos...



POESIA: CORAÇÃO PEREGRINO

                CORAÇÃO PEREGRINO
                             Jorge Bichuetti

Não temo os espinhos;
pois, se cortam... não matam,
tão-somente, geram na vida
u'a louca transmutação:
meu sangue tímido ousa, 
colorindo de vermelho
as rosas, os sonhos e as
adormecidas estrelas
que grávidas pulsam
nos poros da pele viva
dos corações peregrinos,
nômades e sonhadores,
que no caminho não impedem
os voos do coração...


                     A ROSA
                   Jorge Bichuetti

Ante o corpo caído,
sonho fuzilado nas lágrimas
que inundam a vida,
quero rosas, cantoria,
quero meu povo na rua...
Não quero este torpe silêncio,
nem esta vil apatia... vida indigente
que alienada a morte consente, 
olvidando inclemente
a poesia da liberdade
que no horizonte é a fúria
da mãe gentil, Terra Nossa,
mulher-deusa, indignada,
que vê no mundo teus filhos
crucificados nas esquinas,
nas cirandas de neon
da injustiça glorificada...

Quero rosas... quero sonhos...
A vida quero na alegria
de um mundo novo tecido
pelas guerrilheiras Rosas,
que são velas acendidas 
no portal do amanhã...


BONS ENCONTROS: FLORESTAN FERNANDES, UMA ESTRELA VIVA NO CÉU DA UTOPIA; UM FAROL...


ENTREVISTA COM FLORESTAN FERNANDES. UM SOCIALISTA DE PÉS DESCALÇOS E CORAÇÃO ALADO... ÉTICA VIVA; INSURGÊNCIA PERMANENTE... UM FAROL PARA NOSSOS TEMPO DE CINZAS E ESCURIDÃO...



NAS LÁGRIMAS DOS OPRIMIDOS, BRILHA... A ESTRELA VIVA DA UTOPIA...
NO CORAÇÃO DOS QUE SONHAM, FLORESTAN FERNANDES VIVE...


MESTRES DO CAMINHO: SOBRE O AMOR; CECÍLIA MEIRELES


"O Amor...

É difícil para os indecisos.

É assustador para os medrosos.
Avassalador para os apaixonados!
Mas, os vencedores no amor são os
fortes.
Os que sabem o que querem e querem o que têm!
Sonhar um sonho a dois,
e nunca desistir da busca de ser feliz,
é para poucos!!"
 
                               Cecília Meireles



SOCIEDADE DE AMIGOS: A FORÇA VITAL DA POESIA DE PAULO CECÍLIO



PRISIONEIRO
                 Paulo Cecílio

então, querida,
o tempo se vai e ficamos mudos. 
por teu deus silencias meditas
abrindo teus ainda belos olhos
para que eu conheça o silencio

de teus lábios
e volte a meu deserto

falta-me o fôlego
o norte moveu-se

como nos perdemos tanto?

o cheiro de incenso
exala a estranha que penetrou teu ser

assaltou nosso mundo:

entreguei pra ti o menino do mato,
o mato secou:
o consome um incêndio gelado.

eu tão livre e tua presa...


quarta-feira, 12 de setembro de 2012

DIÁRIO DE BORDO: AS ENCRUZILHADAS DA EXISTÊNCIA

                              Jorge Bichuetti

No alvorecer, ouvindo os pássaros vadios e sentindo as carícias anônimas do orvalho, por um momento, esqueci dos aborrecimentos e frustrações cotidianas, para tão-somente perceber-me filho da imensidão.
O mundo é um emaranhado de caminhos e horizontes... Entre nós e a imensidão, existe o mundo, muitos mundos... Mundos que se realizam e forjam os limites da vida... E outros mundos que não vemos, não escutamos, nem cheiramos; porém, existem como virtualidades que só não são paridas porque as excluímos do cotidiano, do real-concreto...
Muitos acreditam que estes mundos moram no território das utopias, das poesias, das magias, dos sonhos...
E, assim, os classificam como mundos ilusórios, fantasmagóricos...
Esquecem que a restrição da vida ao racionalismo foi uma operação histórica... Processou-se um desencantamento do mundo e uma hegemonização do modo pragmático e imediatista, matemático e concretista de ver, sentir e desejar no mundo...
Neste processo, houve a reificação do individualismo, do consumismo, do ser humano como um ser do e para o mercado...
Era engendrada uma subjetividade funcional ao processo de acumulação capitalista... Uma servidão do do produtivo-fabril em detrimento do lúdico, do mágico, e do artístico...
Tornamo-nos peças de uma máquina; tornamo-nos força de trabalho - mercadoria; e mecanizamos nossas existências para que o nosso corpo pudesse ser otimizado na sua capacidade máxima de produzir outras mercadorias...
Assim, vivemos como parafusos da engrenagem maior - o capitalismo mundial integrado...
Desconectados dos nossos próprios desejos e sonhos, das nossas tradições ancestrais, do outro como encontro e das atividades que marginalizadas, por não estarem sincronizadas com a lógica da produtividade alienada, passaram a ser atividades desvalorizadas... perdemos, então, nossa capacidade de brincar, de borboletear, de vadiar, de poetizar, de viajar na magia dos sonhos... e até mesmo de amar e se dar com intensidade... 
Só os loucos podem...
Até a paixão e a fé se viram objetos de processos racionalizantes que as isolaram do seu funcionamento singular - a radicalidade ética-afetiva-emocional... Podem, se razoáveis... e lê-se razoáveis como adequadas ao mundo instituído, ao status quo...
Francisco de Assis - só de madeira e barro...
Amores intensos e tresloucados - só no cinema...
No entanto, hoje, vivemos uma nova encruzilhada...
A racionalidade prático-instrumental criou um mundo banal, violento, consumista, narcísico, de tédio, angústia e solidão...
Afirma Birmam que a contemporaneidade é marcada por um modo de andar a vida - somos todos deprimidos, panicados e toxicodependentes...
Encapsulados e robotizados, consumimos...
Globalizados... permanecemos perenemente antenados, porém, sós... Há mecanismos vigilantes de evitação do encontro... 
Encontrar-se com o outro é perigoso, pois no encontro afetamos e somos afetados... descobrimos o que pode a alegria... Há uma verdadeira irrupção de ternura e compaixão, solidariedade e respeito includente...
Nesta encruzilhada, por mais que deleguemos aos poderosos o domínio da história, somos chamados a optar...
Que destino almejamos?... O que queremos da nossa existência?...
Daí a preocupação do sistema de desclassificar a potência da arte e da utopia... Do brincar e do sonhar...
Elas precisam ser evitadas, para que não deixemos aflorar na nossa pele a nossa própria humanidade... São forças insurgentes, são maquinações que mobilizam a rebeldia e a criatividade... o desejo de alvorecer com a convicção de nada é dado para sempre... uma vez que a vida é uma fecunda incubadora do novo, do inesperado, da diferença e do devir...
Reflitamos: por que temer o direito de ser feliz?... por que não desnudar na nossa fragilidade o humano que no pântano se cobre de lírios e sobre o abismo voa no esplendor do horizonte azul?...
Ousemos viver... enluarados de aurora...


POESIA: O BORBOLETEAR NO AZUL DOS SONHOS

                        ERRÂNCIA
                                Jorge Bichuetti

Pirilampos, velas... pipas no
universo colorido da bola de gude
que ficou encaixotada no baú da mi'a infância perdida...

O universo é a imensidão azul dos sonhos:
ora, é o luar que me aninha nas noites solitárias;
ora, o porvir e o riso das constelações estelares
que brilham no céu, mas que na mi'a mão brincam,
jogando nas linhas do tempo as flores que nascem na ternura
das curvas onde a vida pulsa na poesia e na magia
que cirandam com os deuses, tecendo nos novelos avoengos 
o verdejar e o alvorecer da rede... balanço da dança tribal:
entre fios invisíveis, vê-se a agulha maternal que tece, amorosa,
as proezas trapezistas do caminho que, cegos, chamamos destino...


                         MENINICE
                                  Jorge Bichuetti

entre o meu corpo e mi'a alma
há carinho e distância, um luar...
e o canto dos passarinhos que alvorecem
silenciando dores e fadiga; assim, vou...

meus cabelos brancos, rugas e dores reumáticas
são ruídos, o trovejar do meu corpo
que cansado e velho adormece; mas ai dele:
mi'a alma, logo, acorda e, com ela, a vida
que desliza e se reinventa no rio eterno
da nossa incansável e indomável meninice...


BONS ENCONTROS: MANOEL DE BARROS; O POETA DAS PEDRAS MIUDINHAS E DAS PELES SONHADORAS...

ENTREVISTA:


POESIAS:


MANOEL DE BARROS: SIMPLICIDADE QUE VOA... SONHOS QUE FLORESCEM NO CAMINHO DOS QUE MIRAM O MUNDO COM OS OLHOS PEQUENINOS DAS FLORES CAMPESTRES...


SOCIEDADE DE AMIGOS: CONCHA ROUSIA; A POESIA COMO PULSAÇÃO VIVA DE LÁGRIMAS E SONHOS QUE PERCORREM AS ENTRELINHAS DE UM CORAÇÃO...

          JÁ NÃO ESPERO 
                              Concha Rousia

Já não espero carta tua
Já me afoguei noutras palavras
a palavra pedra 


a palavra água
recortando um horizonte sem saída
sem barca e nem capitão
e sem tu te importares...

Já não espero carta tua
Já vi tua morada de número arrancado
Já vi meu carteiro devorado pela rua 
Já se perdeu com minhas cartas
comidas antes de tocarem seu destino

Já não espero carta tua
perdi o endereço de teu coração errante
e as minhas mãos já se negaram 
três vezes hoje às palavras 
agora plantam plantinhas no quintal 
escutam a Melra como se mãos ouvissem 
e voam, ahhhh como minhas mãos voam
quando da nossa alma se escondem...

Já não espero carta tua
Já não te escrevo
Já perdi a caneta noutras batalhas
igualmente irreparáveis...
Já minha liberdade me prende noutros nadas
Já não espero carta tua
Já não espero


 


FONTE: WWW.REPUBLICADAROUSIA.BLOGSPOT.COM


 


 

MESTRES DO CAMINHO: JOHN STEINBECK; UMA VOZ SUBTERRÂNEA QUE CANTA AS DORES E SONHOS DOS QUE OPRIMIDOS SÃO UM CLAMOR DO HORIZONTE POR VIDA E MUDANÇA...

               

                     REFLEXÕES:

 - "Parece para mim que se você e eu temos que escolher entre duas maneiras de pensar e agir, nós devemos lembrar que vamos morrer e tentar viver de forma que a nossa morte não traga nenhum prazer para o mundo."

           JOHN STEINBECK 


quarta-feira, 5 de setembro de 2012

DIÁRIO DE BORDO: NO CAMINHO, A ESPERANÇA...

                         Jorge Bichuetti
   
   Alvoreceu... O vento chegou antes que o sol e acordou-me com o canto dos álamos. Vi no orvalho que alimentava as rosas e o verde sonhos azuis. O céu toda dado à espera do Sol... quando Ele, enfim, chegou... já me misturava com cores e letras das histórias que contam os livros.
Meu corpo orvalha-se com o caudaloso rio dos livros empilhados: lidos, relidos e outros não-lidos; todos, vozes... visões... alucinações... Tentativas de libertar; armadilhas de escravizar... Uns alentam; outros inquietam... Provocam... São as flores e os frutos das árvores humanas... Ninhos que minha alma de passarinho encontra para repouso e recomposição; asas que minha alma de andarilho descobre para voar e buscar novos sonhos...
   Tudo pela arte de caminhar...
   Caminhar não é tamborilar o chão com os nossos pés...
   Caminhar é desbravar o desconhecido território do novo, do por-vir, dos sonhos...
   A vida fenece quando se desconecta da arte de sonhar e sonhar-se...
   O passado é a vida mumificada no cemitério das lembranças; o futuro, a miragem silenciosa que pulsa entre o desejo de ressurreição do ontem e os anseios gestativos do novo.
   Ser o mesmo não é autenticidade; é reificação de um si mesmo que moribundo teima e permanece claudicante...
   Inovar-se; reinventar-se... é andar entre fontes e pontes sem medo da vida nova que emerge na aurora.
   O novo angustia... Aterroriza... Dá medo e insegurança...
   Mas, como viver sem a esperança que é sempre uma incubadora do novo, incrustada nas entranhas do agora...
   A espera é força que inspira luta e resistência; seduz... encanta... E encantados damos novos passos...
   Novos passos - passagem, transição... Um salto pela alegria e pela paz...
   O desassossego é a força motriz do caminhar inovando a vida nas encruzilhadas do novo.
   Que buscamos?...
   Ir além do humano definido por mãos pés acorrentados no ontem...
   O humano é inacabamento... Permanente reinvenção.
   Não desvitalizemos nossas esperanças... não engavetemos nossos sonhos...
   Viver é recomeçar... Contudo, o recomeço é instante de redefinições: desnudos, podemos nos aventurar por novos caminhos, novas experiências...
   A vida é uma estrela bailarina...
   Bailemos... Cantemos... Brinquemos... 
   Não titubeemos: nossa vida anda carente de cor, cheiro e movimento... Um novo canto...
   Ninguém é livre, se não rompe com a escuridão que nos cega a existência...
   Ninguém é livre, se não desata as correntes que nos mantêm na mesmice de uma vida nos trilhos da ordem instituída.
   Rebelemo-nos... Podemos ser diferentes... Podemos dar voo à diversidade...
   O ser humano se constrói entre o sonho e a razão; entre a arte e o mercado... 
   A razão prático-instrumental nos retirou do mundo de magia e encantos... Roubou-nos o paraíso da criatividade... Anulou nosso própria singularidade...
  Assim, tornamo-nos homens cinzentos e tristes... Violentos e excludentes... tudo pela ordem...
  Aprisionaram, para tanto, a esperança... Sedaram nossa coragem e nossa ousadia...
  Porém, já não suportamos viver por viver... viver para morrer...
  Precisamos urgentemente de "tomar o céu de assalto"... Buscar um pouco de ternura no perfume das flores; um quanto de solidariedade na beleza do céu estrelado... algo de compaixão no silêncio das folhas secas que readubam incessantemente o chão...
  Voemos, então, com as asas de águia da esperança ativa...


POESIA: UM ANDARILHO NO HORIZONTE AZUL

                   ANDARILHO
                            Jorge Bichuetti

Meus sonhos voam e eu os sigo:
ora, cato-os na relva úmida 
entre espinhos e secas folhas
que orvalham mi'as lembranças 
co'as lágrimas risonhas da
vida na alquimia do tempo, 
este passageiro do vento que
flui, deixando-nos na alma 
a plástica das cicatrizes;
ora, pego-os no voo livre 
dos passarinhos entre nuvens e
a mais bela estrela, esta menina 
do céu que nas noites anda
semeando flores que brotam
no coração dos que num canto
amam... um amor no ondear 
dos encontros entre a areia 
que risca os olhos 
e o mar que nos leva, longe,
para os braços do infinito...

Andarilho; vago... sol e chuva;
seguindo além sem escutar o apito do trem,
seguindo além sem ver as cinzas das horas...

Eu... tão-somente pressinto no horizonte azul
o eco da vida que eu ainda não vi alvorecer no caminho; lá
mora o ninho de palha, os ovos de prata, o bem e o mal
que de mim se escondem na poeira dos espelhos...


BONS ENCONTROS: ENTREVISTA COM LIMA DUARTE...


LIMA DUARTE; UM ASTRO VOANDO NO TEMPO... POUSANDO NA RELVA FLORIDA DA VIDA SINGULAR DO CERRADO...
UM TESTEMUNHO SOBRE O SER NA SIMPLICIDADE DOS PARDAIS NÔMADES...


AVE, LIMA DUARTE - ARTE E VIDA NO CAMINHO...




SOCIEDADE DE AMIGOS: CONCHA ROUSIA; A POESIA DO INFINITO NOS REDEMOINHOS DO VENTO


         Só ante o silêncio
                      Concha Rousia
Ante a invernia do silêncio
vestí no corpo as cores do dia

vesti os olhos de ausência
e comprovei que tua camisa 
era do tamanho do meu céu


Depois reparei nas palavras
Nas minhas
Nas usadas
Nas tuas
Nas por nós abusadas

No silêncio reparei também
Nas palavras sonhadas
Nas roubadas
Nas desesperadas

E foi no silêncio que escolhi calar
sei que poderia se o permitir
ver crescer em mim infernos 
nos que lembrar palavras 
que nunca foram minhas

Mas no ventre do silêncio decidi
destroçar a arqueologia de todo eco
ouvir apenas os tambores do medo
meu medo que fala alto 
meu medo que se impõe
até apagar esse abismal silêncio


FONTE: republicadarousia.blogspot.com