sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

POESIA: LÁGRIMA, ARDÊNCIA DAS FLORES...

                        UMA LÁGRIMA
                                   Jorge Bichuetti

uma lágrima caiu do azul, infinito
encontro entre a dor da vida e a
contorsões da humanidade que de
viver sem sonhos caminha sempre
não sabendo como conter o pranto
como já sabe despertar encantos:
um canto de fé e luta na esquina do tempo...


                                       EU CANTO
                                               Jorge Bichuetti

Penso que chorando, canto;
assim, sigo... buscando além
num porão de espinhos aquela rosa
que, um dia, na janela silenciosa falava
que a vida era bela, o amor imortal...

Eu canto na teimosia de não
aceitando o punhal no pescoço
que sufoca os sonhos da vida,
escolher nas manhãs do novo dia
a companhia dos passarinhos vadios
que tecem flores e magias na ternura
da alvorada rompendo as trevas só
para dizer, na força do carinho, bom dia...


ENTRE PEDRAS, FLORES...

MESTRES DO CAMINHO: NO CAMINHO DE ROSA, AS LIÇÕES QUE CINTILAM NAS ENCRUZILHADAS DA VIDA...

                      REFLEXÃO:

O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem
 
                           João Guimarães Rosa



SOCIEDADE DE AMIGOS: A POESIA DE PAULO CECÍLIO - A VIDA DESNUDA...



   SÊMEM
             Paulo Cecílio

o tempo fluiu,
no lapso entre o nada

e a fruta:

na tênue carne verde,
semeio um sonho, que já morreu.


terça-feira, 29 de janeiro de 2013

DIÁRIO DE BORDO: MAR E CAIS; CAMINHOS DO INFINITO...

                                Jorge Bichuetti

Longe, os passarinhos cantam... Não os escuto, mas os trago aninhados no meu coração febril... O horizonte azul só é a manjedoura de novos porvires, se o povoamos de sonhos. Na noite escura, estrelas cintilantes o guarda... Nos dias chuvosos, o esplendor de um arco-íris o revela...Tecer sonhos é cavar na encruzilhada o alvorecer de um novo tempo...
É preciso sonhar... É preciso lutar...
Sonhar, lutando é navegar... Navegar é viver na loucura de ser e estar, buscando, dia-a-dia, um sorriso além...
Além do suor e das lágrimas... além do tédio e do desalento... há um sorisso... Um sorriso tecido de palavras e silêncios... de cantos e poesias... de travessuras e travessias... Um sorriso tecido pela vida que é feito dos amanhãs que desejam quebrar o relógio e nasceram no aqui e agora do nosso tempo...
Nosso tempo é frágil, volúvel e cruel...
Outros tempos teimam e almejam a poeira do mundo, as pedras do caminho, pois, sonham com a vida transformado...
Outros tempos querem ser paridos...
Um tempo de ternura e não-violência...
Um tempo de solidariedade e justiça social...
Um tempo serestas e madrigais; campinas floridas e riachos cantantes no caminho onde água, terra, fogo e ar perambulam para o mar abraçando triscarem e incendiarem de sonhos o horizonte azul...
Viver é perigoso, canta o poeta...
A vida endureceu, petrificou-se e, demente, agoniza...
Disseram e acreditamos: no poder absoluto do hoje...
Mas, ninguém vive alijado do canto das manhãs que são profecias encantadas dos amanhãs que engravidam a vida, sendo, contudo, abortados pelas cinzas que eternizam as dores do presente, excluíndo do horizonte as piruetas da história...
Deixemos a vida seguir para o mar...
Abramos as janelas do destino...
Sonhemos. Lutemos...
Naveguemos: navegar é preciso...
Embora, não baste navegar à deriva... Naveguemos, cultivando no hoje os brotos do amanhã... Assim, seguiremos... Seguiremos sabendo que sonhamos e lutamos por um outro mundo possível... Pois, já não conseguimos viver sem o cais da alegria geral... alegria que floresça primavera de todos e para todos...
Só, assim, a vida deixará de chorar pelos pelos sonhos que lhe são diuturnamente roubados...


domingo, 27 de janeiro de 2013

POESIA: CANTANDO NA CHUVA...

                  O CANTO DA CHUVA
                                       Jorge Bichuetti

A chuva canta
como assobiava meu pai:
tecendo sonhos, acordando arco-íris...

Canta no meio da estrada
entre o fogo apagado das paixões
e as velas que navegam no mar morto
das agonizantes e sofridas orações...

Mas a  chuva canta,
deixando sempre no cheiro da terra
o cio da vida que voa com passarinhos molhados
e encontra Deus nas lágrimas desesperadas
que sulcam a face dos nômades miseráveis...

A chuva canta,
o mundo dorme...
Em silêncio a vida procura o oásis perdido
dos que enxergam, além das nuvens,
o horizonte azul pelos homens cimentado...


PASSARIN
Jorge Bichuetti

no verde, entre galhos tortos,
faço meu ninho com as penas
que caíram no choro das matas...

e, ali, no meio do temporal, eu
sonho, sonhando não choro, eu cheiro
a seiva viva dos novos madrigais...



domingo, 6 de janeiro de 2013

DIÁRIO DE BORDO:EXISTIR, VIVENDO...

                                      Jorge Bichuetti

Saudades!!! Quanta palavra sentida, porém, contida nos solavancos do caminho... Lágrimas, risos que ecoaram no vazio da solidão e não deixaram notícias... Aqui, só os passarinhos e Luinha... Escutam versos; cantam sambas do morro... Eu querendo a vida ( e como a quero); mas, chegando sempre algumas braçadas atrás... Ele corre, dança.... rodopia.... Anda pelos campos, salta entre estrelas... Busco-a com sede de menino sedento...
Não sei se ela desatinou e veloz se fez fugidia; ou se sou eu cujos passos  atravessa o samba, tropeça nas escadarias dos palácios e das igrejas... Meus passos vadiam nos becos; saltita nas trilhas empoeiradas...
Queria poder abraçar a vida e dançar a alegria de existir, caminhando...
Caminho. Sonho...
Viver é lutar...
Os caminhos e os sonhos são o cenário das batalhas epopeicas que afugentam a escuridão e vão, colorindo com lápis de cera e bolas de sabão o horizonte, recriando a própria imensidão...
Eu quero a vida... A paixão vibrante; a ternura acolhedora...
Eu quero a vida... A peraltice travessa; a rebeldia insurgente...
Há tanta dor...
Penso que errei: as dores calaram meu coração quando a vida insistente, carregava-as com as próprias mãos.
Seria bom saber: onde mora a vida?...
Muitos a dissimulam, ofuscando olhares e carinhos com as luzes da fotografia que desenha contornos, ocultando corações...
Outros a gritam, na verborragia narcísica que nem mesmo vê os maltrapilhos do chão...
A morte corta a carne da gente, sussurrando inclemente: ela nada sabe da vida...
Talvez, a vida só possa ser encontrada no trapezismos das crianças; no eco das cachoeiras; no olhar enlouquecidos dos amantes...
Talvez, não... acho que ela também anda no silêncio das pedras; no urro sofrido das tribos indígenas; nos tambores das festas singelas dos quilombolas... no orvalho que beija a rosa sem ciúme das estrelas ali refletidas...
A vida é mãe... Cuida, abraça, reza romarias de esperança e fé...
Aqui, um jovem guerreiro nocauteado por uma bala assassina, acorda o choro da vida...
Ali, um menino na calçada suspira , embalado pelo canto... canto do mundo na voz da vida.
Eu quero a vida...
Onde anda???... Já a tive tantas vezes nos meus braços: juntos, dançamos a valsa noturna, cantamos as cirandas matinais... E, até, gritamos gol...
Miro o infinito e ante a vida que procuro, oro aos homens: não nos roubem a vida que sempre acalenta, dizendo: Paz, Paz...